Inimigos de Sangue [DEGUSTAÇÃO]

Capítulo 05.

Heloísa.

Demoro cerca de uma hora dentro do banheiro. Lavo os cabelos, lavo o meu corpo e fico relaxando por algumas horas. Por um momento, me esqueço do meu casamento, do meu pai, de Kristen e de Enzo. Esqueço tudo de ruim e apenas me sinto uma mulher livre para viver uma nova vida. Eu precisava aproveitar pelo menos um hora e acreditar falsamente que sou livre e que terei uma vida longe da máfia.

Eu visto a calcinha, coloco a blusa folgada e a calça flanela que é na cor rosa. As roupas ficam um pouco folgada em meu corpo, mas não vejo problemas. Eu seco os meus cabelos com uma toalha e fico olhando tudo ao redor no quarto de Julie. Ele é tão bonito e tem tantas coisas femininas. Eu nunca pude ter maquiagens, perfumes ou qualquer objeto de beleza. Kristen sempre determinou a minha rotina. Comida, roupas e até mesmo absorvente.

Eu nunca pude escolher nada e eu nem sabia do que eu gostava. Eu não tinha uma cor favorita, não tinha um artista predileto e muito menos sabia as músicas do ano. É como se eu não existisse. É como se minha vida não fosse minha. Esse sentimento é horrível.

─ Heloísa, tudo bem por aqui? ─ Julie coloca sua cabeça na porta e abre um sorriso. ─ Vamos descer e comer alguma coisa?

─ Vamos... é... vamos sim ─ digo tímida.

─ Você passou a pomada nos seus ferimentos? Quer ajuda com alguma coisa? ─ ela pergunta solícita e eu nego com a cabeça. ─ Então vamos descer.

Ela novamente segura em minha mão e eu sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo. É como se Julie me conhecesse há anos. Eu não entendo a nossa conexão, mas sei que é forte. Ela está sendo tão boazinha comigo.

Nós descemos as escadas e ela me guia até a sala de jantar. Há um banquete exposto e eu sinto meu estômago doer. Há várias receitas da culinária russa e eu confesso que sempre senti vontade de comer algumas coisas. Li que eles servem pastéis recheados com carne e geleia de pimenta que são deliciosos. Eu nunca fui de comer besteira, mas confesso que daria de tudo para provar esses pastéis.

Aslan está sentado na ponta da mesa, Serguei está do seu lado e há uma mulher em pé colocando alguns pratos em cima da mesa e conversando animada com Serguei. Sinto falta de Ivan, mas acredito que ele logo aparecerá para comer.

Eu me sento na mesa meio deslocada e sinto o olhar calculista de Aslan. Ele não gosta de mim. Eu realmente não tenho culpa das ações do meu pai, mas sei que pagarei por tudo de ruim que meu pai fez. Afinal, quando um erra na famiglia, todos pagam. E com certeza eu iria pagar pelos os erros do meu pai. Aslan Petrovic não será piedoso comigo.

─ Cadê o Ivan? ─ Julie pergunta enquanto se serve.

─ Tomando banho ─ Aslan diz impassível. ─ E você... italiana... não fala?

Eu abaixo a minha cabeça e fico sem jeito. O olhar dele me intimida e me causa um certo medo. Ele é um homem muito poderoso e pode acabar comigo num piscar de olhos. Eu não sei o que falar e nem o que fazer. Tenho medo de me servir e ser punida. Kristen sempre me punia quando eu me servia antes de papai se servir. Esperaria Ivan chegar e quando todos os homens se servirem, eu também me serviria.

─ Aslan... fique calado, por favor ─ Julie diz entredentes e na mesma hora a postura de Aslan muda e ele fica em alerta. ─ Deixe a garota em paz e faça a sua refeição.

Ele bufa e começa a comer a sua comida lentamente, ainda me olhando com raiva e com vontade de rasgar minha cabeça fora. Eu fico o tempo todo de cabeça baixa e olho para as minhas mãos. Me sinto deslocada e o medo me faz tremer.

─ Querida cunhada... ─ ouço a voz de Ivan e no mesmo instante ergo a cabeça. ─ Onde estão as crianças? Cheguei tão animado para entregar os presentes que eu comprei.