Capítulo 06.

9.3K 1.1K 862
                                    

Heloísa.

─ Vamos, bambina ─ escuto a voz de Kristen e no minuto seguinte ela arranca as minhas roupas. Eu só tenho dez anos e não entendo o motivo de tanto ódio comigo. ─ Fique de costas.

Ela me deita na cama e amarra os meus pulsos nas cordas grossas que estão presas na cabeceira. Eu sei que ela vai me castigar outra vez, mas eu não posso chorar. Ela sempre me tortura quando eu choro. Ela irá me punir e então me deixará livre. Eu só preciso aguentar.

─ Kristen... me deixa ir embora ─ peço baixinho, me remexendo na cama e tentando soltar as cordas dos meus pulsos. ─ Eu não fiz nada. Prometo ser boazinha.

Ela gargalha com sarcasmo e desliza o chicote por minhas costas de forma lenta. Eu sinto um arrepio em todo o meu corpo e um medo terrível cresce em meu peito. Mordo os meus lábios e fecho com força os meus olhos.

─ Não se trata só de ser boazinha, querida ─ ela diz e segura no meu cabelo. ─ Você precisa ser forte e não uma garota mimada. Instinto de sobrevivência. Se um dia você for torturada por alguém, aguentará a dor e então irá conseguir fugir e se vingar.

E então ela dá a primeira chicotada em minhas costas e eu grito de dor. Sinto a minha pele rasgar e o cheiro de sangue no ar. Não consigo chorar, mas tudo dói. Só espero que ela termine logo com toda essa dor. Eu não aguento mais.

Eu acordo com um susto e sinto meu coração quase sacando pela boca. Olho de imediato para os meus pulsos e suspiro em alívio ao ver que não estou presa no porão. Fico aliviada ao ver que não tem ratos andando pelo o meu corpo. Eu soltou a salvo. Estou no quarto e a televisão ainda está liga. Acredito que cochilei e nem percebi.

Eu já me sentia um pouco melhor e a minha cabeça não está mais tão dolorida. Menos mal. Não senti ânsia de vômito, mas mesmo assim fui até o banheiro e fiquei um tempo em pé. Quando percebi que realmente não estou enjoada, lavo o meu rosto e escovo os dentes com uma escova nova que está em cima da bancada. Fico me olhando durante um tempo no espelho e percebo que ainda estou péssima. Mas um pouco melhor do que estava antes.

Decido sair um pouco do quarto e fico surpresa ao ver que a porta está destrancada. Um cheiro gostoso de morango está impregnado no corredor e eu fico um pouco receosa de andar pela casa do senhor Petrovic. Percebo que ainda é dia lá fora e que o sol está quase se pondo. Há uma enorme janela no final do corredor e eu fico um tempo perdida em meus próprios pensamentos, vislumbrando a vista incrível que dá para a piscina gigante e para o jardim. O céu também é bonito e tudo se contrasta numa bela paisagem.

Eu não consigo explicar exatamente o que eu sinto, mas me sinto mais viva que nunca. Eu me sinto livre e liberta. Eu não sei o que me espera, mas acredito que estou segura na casa dos meus inimigos. Julie é uma boa pessoa e irá me proteger. Eu não quero mais sofrer nas mãos dos meus próprios familiares e acredito que estarei segura na Rússia.

Ouço algumas gargalhadas seguido de barulhos e então caminho até a escada. Desço os degraus devagarzinho e então vislumbro na sala de estar Ivan e duas crianças ao redor dele. A garota é loira, está dentro de um vestido rodado e tem um ar angelical. Ela parece muito com Julie. O menino é menor, tem os cabelos pretos e lembra muito Aslan Petrovic.

─ Mas você dormiu com o cobertorzinho, titio? ─ a menina pergunta passando suas mãos no rosto de Ivan que faz cara de coitadinho. ─ O cobertorzinho é mágico.

─ Eu sei ─ Ivan faz um biquinho. ─ Mas o titio está tão mal... o titio se sente doente e com dor no coração.

─ Coitado do meu titio ─ a menina diz e faz carinho nos cabelos de Ivan. ─ O cobertorzinho não cuidou de você? Os pesadelos melhoraram?

Inimigos de Sangue [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora