01h12

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A noite estava abafada e o ventilador não dava vazão. Deitado na cama, eu me revirava. O fato de eu ter passado o dia inteiro agoniado também não ajudava, e com certeza colaborava para o calor que percorria o meu corpo.

Eu sabia de onde vinha esse incômodo, mas queria não saber, e passei horas e horas fingindo não entender. Ali, sozinho no quarto de luz apagada, com a casa em silêncio, não dava para fugir: passei o dia cheio de tesão.

É uma sensação muito específica, quando alguma coisa te atiça e você não pode, ou não quer se liberar para que a vontade saia de você. Então, você começa a se sentir perturbado, como se alguma coisa te faltasse. Bem, e alguma coisa me faltava mesmo. Me faltava gozar.

Eu tentei me aliviar quando deitei, aproveitando a quietude pra focar em alguma imagem, de olhos fechados, que me excitasse o suficiente para eu bater uma. O problema? Eu queria distância da única imagem que me aparecia.

Andrei chupando o morango, Andrei passando a língua pelo lábio molhado, Andrei sem camisa, Andrei fingindo que eu nem existo enquanto passa por mim na cozinha...

Me revirei de novo na cama. Pensar em Andrei nessas horas da noite me fazia lembrar do ano passado, de novo.

Desistindo de me controlar - ou nem sequer tentando - peguei meu celular, cerrando os olhos quando a luz da tela se acendeu perto do meu rosto. Aquela situação não me descia até hoje. Cliquei na minha galeria e subi até datas passadas. O que eu queria ver não era recente.

Ah, lá estavam eles: os prints da noite em que tudo se tornou ainda pior.

Em um momento solitário como esse, nas férias do ano passado, decidi dar uma olhada no bendito aplicativo que todo gay do mundo está cansado de baixar e deletar. A cidade não era muito grande, mas quem sabe? Com o número de turistas que a visitavam, como eu e minha família, imaginei que as chances de um catálogo considerável eram boas.

Catálogo. A palavra era forte, mas certeira. Ali, na tela do celular, era disso que todos no aplicativo faziam parte. Concordávamos em nos avaliar, como bonecos em uma vitrine, e quem chamasse a atenção, era comprado. Eu não pensava muito nesse lado meio obscuro da dinâmica, usava o aplicativo pela necessidade. Eu ainda não era assumido, e sem nenhum conhecido como eu no meu círculo próximo de amigos e colegas, o simples ato de beijar na boca era um luxo que só ocorria em uma festa ou outra. Mas o aplicativo me abria um leque de possibilidades toda vez que eu queria algo a mais, e como a maioria dos que estavam ali gostavam da discrição, do sigilo, achava que esse era um bônus para a minha situação. Eu também não queria um encontro às claras, não ainda. Talvez nesse ano as coisas mudassem, quando eu entrasse na faculdade. Talvez nem precisasse mais do celular para conhecer pessoas, mas por enquanto, a realidade era essa.

Foi no aplicativo que o encontrei, para o meu espanto.

Eu me lembrava de mal conseguir acreditar. Eu até já tinha desconfiado, mas nunca houve uma confirmação. Andrei, 19 anos, a 1 metro de distância. O celular caiu no meu rosto.

Pela distância, pelo nome, pela idade certa (um ano mais velho que eu) e pelas fotos, o perfil não era fake. Meu primo buscava por uma foda no mesmo aplicativo que eu.

Eu deveria ter deletado minha conta na mesma hora, ou o bloqueado sem pensar duas vezes, e não perdido tempo olhando seu perfil. Quase deixei o celular cair no meu rosto mais uma vez quando o emblemático som da notificação do app me mostrou uma nova mensagem. Andrei tinha me mandado um único emoji:

👀

Os olhos desenhados pareciam me enxergar pela parede do quarto. Corri para bloqueá-lo, meus dedos se embaralhando enquanto eu segurava o celular e clicava apressado na tela. Larguei o aparelho na mesa de cabeceira e fechei os olhos, cobrindo meu rosto com a mão como se alguém estivesse ali para ver a minha vergonha. Não podia acreditar que aquilo tinha acontecido.

Não sei por que cargas d'água eu tinha tirado print daquilo, da página principal de seu perfil - e esse não era o único screenshot que eu mantinha no celular desde aquela noite. Com um movimento rápido do meu polegar, arrastei a imagem para o lado e a galeria me revelou o print seguinte: uma das fotos que meu primo usava em seu perfil.

Ok, ok... Além dessa, havia mais uma. E outra. E outra.

Uma Noite Secreta com Meu PrimoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora