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Eu encarava a tela do celular como se nunca tivesse feito aquilo antes. Bastava um toque e eu oficializaria uma escolha estúpida, que só fazia sentido dado o meu histórico de decisões recentes: todas igualmente estúpidas.

Se o dia não tivesse sido tão diferente com Andrei, talvez meu debate agora, deitado na cama na noite seguinte a ter transado com ele, não existisse. Talvez eu só colocasse a cabeça no travesseiro e remoesse, contrariado, mais um dia engolindo desaforo atrás de desaforo do pior primo do mundo. Exceto que ele não foi o pior primo do mundo, desde o café da manhã até quase agora, antes de cada um ir pro seu canto.

Sentamos lado a lado na mesa do café da manhã, que eu esperava ser recheado de olhares culpados entre nós - não foi. Ele me ajudou a lavar a louça. Ele me serviu refrigerante quando estávamos sentados na grama com nossos outros primos. Ok, eu não estava iludido, não é como se Andrei tivesse ido de rei tirano a príncipe encantado em poucas horas. Pode ter certeza que, nesses momentos que passamos juntos - que aparentemente também surpreenderam o restante da família, que volta e meia nos olhava - ele fez questão de implicar comigo um monte de vezes. Eu só não me senti ofendido, ou com vontade de sair de perto dele.

Respondi as gracinhas, óbvio, que deixar ele sair ileso depois de implicar comigo já é demais, independente de quão gostoso ele faça tudo que faz. Mas, mesmo assim, foi diferente. Eu ria, implicava de volta, e... Tudo foi fácil.

E é por isso que ali, deitado na cama, eu estava encarando o bendito aplicativo na app store ao invés de dormir.

Cliquei logo no ícone de download. Talvez ele nem estivesse por lá, e só tivesse entrado no ano passado. Ou talvez ele estivesse, e se esse fosse o caso... Bom, se esse fosse o caso, digamos que eu não iria fingir que não o vi.

Criar a conta era rápido, porque contra todos os protocolos de segurança possíveis você não precisava colocar tantas informações assim sobre você. Bastou um R. como meu nome, a localização e a idade para que eu já pudesse zapear pelo catálogo. Sem foto.

Não demorei a encontrar o que queria, já que estava tão perto.

Andrei, 20 anos, a 1 metro de distância.

Cliquei em sua foto e comecei uma conversa, torcendo para que ela levasse a mais que apenas palavras. Estávamos de férias, certo? Que tal tirar umas férias da minha consciência também, então? Quem sabe assim o conflito não era substituído por algo bem, bem mais produtivo...

Senti um sorriso querendo nascer. Mordi meu lábio inferior e enviei sem pensar duas vezes:

👀

Tá acordado?

Uma Noite Secreta com Meu PrimoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora