Capítulo 3 - Pernoitando

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Capítulo 3 – Pernoitando

ESTACIONEI O CARRO O MAIS silenciosamente possível. Não poderíamos chamar qualquer atenção que fosse para nós. Atenção extra era perigoso, ainda mais que eu não sabia me portar corretamente como uma Alma. Qualquer movimento em falso será o nosso fracasso. O carro não estava muito perto da entrada do hotel na interestadual, mas nem muito longe. De qualquer maneira, não era como se eu fosse precisar daquele carro novamente.

O que quer dizer com isso?!, perguntou Lua em minha mente, parecendo assustada.

Segurei a vontade de revirar os olhos.

Não podemos nos dar ao luxo de sermos pegas, Lua. expliquei-lhe. Precisaremos de ao menos mais um ou dois até chegarmos ao deserto.

Lua parecia quase instantaneamente pronta para retrucar, mas pareceu reconsiderar nossas opções e percebeu que não seria uma boa ideia. Não poderíamos correr o risco de sermos pegas. Desfiz a ligação direta da Hillux e coloquei a tesoura sem ponta discretamente no bolso da calça antes de sair do carro. Não havia como trancá-lo, então só fechei a porta e chequei em meu cabelo se o grampo ainda estava ali, pronto para o próximo roubo. Estava.

Segui silenciosamente até a entrada do pequeno hotel, pensando em o quanto estava bem conservado em comparação se tivesse algum humano ainda como dono. A recepção tinha dois sofás, uma mesinha de centro e uma televisão de um lado e o balcão do outro. Não era muito moderno, mas era acolhedor. Poderia muito bem dizer que o homem baixinho e robusto atrás do balcão era um humano se não fosse pelos aros prateados ao redor das pupilas. Reprimi a vontade de deixá-lo desacordado ou de fugir dali imediatamente, lembrando que eu também tinha aqueles aros. Apesar de gostar de Lua e aceitá-la dentro de mim, a ideia em si ainda era repulsiva.

Sem ofensas, Lua, eu sussurrei mentalmente, receosa.

Tudo bem, acho que posso entender seu lado, ela me respondeu.

Deixei isso de lado, seguindo até o balcão.

- Olá, em que posso ajudá-la, senhorita? – disse o homem com uma voz bondosa que geralmente não condizia com seu porte.

Tentei sorrir o mais simpaticamente possível. – Eu gostaria de um quarto para passar a noite, se ainda houver vaga.

- Oh, temos sim. – respondeu o homem, procurando por algo atrás do balcão e se levantando com um caderno e uma caneta. – Apenas assine aqui.

Peguei a caneta e assinei o nome de Lua em letras perfeitamente redondas. Ao invés de lhe entregar a caneta, deixei-a em cima do caderno.

- Quarto 302. – ele disse, me entregando as chaves e acenando. – Tenha uma boa estadia.

Enquanto ia até o elevador, tentei segurar a língua para não falar nada sobre dinheiro.

É estranho não ter que pagar por nada, comentei com Lua, apertando o botão do elevador e esperando que ele chegasse logo.

Não se precisa de dinheiro quando todo mundo é absolutamente honesto, ela respondeu e, apesar de achar que encontraria certa amargura em sua voz, não havia nenhuma.

Você realmente não se importa de estar ajudando o outro lado da guerra?

Não há lados nessa guerra, Mely. Uma guerra precisa ter os dois lados com possibilidades iguais de ganhar. Não estamos em guerra, somos apenas um pequeno grupo tentando lutar contra a opressão e escravização, ela explicou em termos tão diferentes de como eu havia imaginado que abriu uma nova rede de pensamentos em mim. Passei a admirá-la ainda mais depois que se incluiu no grupo de sobrevivência.

Heimkehr || Jamie StryderWhere stories live. Discover now