Capítulo 13 - Evitando

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Capítulo 13 – Evitando

QUEM QUER QUE DISSE QUE o passar do tempo ajuda a melhorar as coisas estava mentindo. A cada dia que eu passava nas cavernas parecia apenas piorar a sensação de sufoco que eu tinha. Eu evitava todos os cômodos que eu sabia que Jamie poderia estar, pois sabia que eu despencaria assim que o visse. Nem Brandt e nem Melanie ou Peg gostaram do meu novo isolamento, mas entenderam quando eu pedi ajuda para reformular minha nova rotina. Eu levantava cedo para trabalhar na cozinha e comia antes que qualquer um pudesse chegar para o café da manhã para poder fugir de lá o mais rápido que eu conseguia. Depois disso, eu passava todo o meu tempo no hospital, ajudando no que fosse preciso, o que nem sempre era muita coisa. Para ir tomar banho, eu esperava quando todos já estavam dormindo, assim como na primeira noite.

Apesar de tudo, eu estava um lixo, para dizer o mínimo.

Eu mesma já não estava aguentando ficar sozinha. Eu era extrovertida, brincalhona. Agora eu estou...

Depressiva, disse Lua em minha mente.

Fiz uma careta, pois sabia que ela estava certa.

É, suspirei, levantando da maca onde eu estava dormindo pelos últimos dias.

Não consegue ficar parada?

- Não. – respondi em voz alta, começando a ficar inquieta e irritada. – Acho que vou dar uma volta.

Não é muito bom andar sozinha por esses corredores à noite, ela comentou.

- Eu conheço essas cavernas como conheço a palma da minha mão. – respondi, colocando o calçado e me espreguiçando quando saí da maca. – Mas não se preocupe. Não vou muito longe e nem quero ficar muito tempo.

Você está bem?, ela perguntou, quase de repente.

Parei no meio do hospital e engoli em seco. Há dias que eu não era eu mesma, há dias que eu fugia de ao menos ver Jamie, pois sabia que acabaria tendo uma crise. Há dias que eu fingia que tudo iria voltar ao normal, fingia que o tempo ia curar a dor meu peito. Não que eu estivesse conseguindo convencer muita gente, mas se tinha uma pessoa que conseguia ver através de toda a atuação era Lua – afinal, ela estava dentro da minha cabeça.

Suspirei, mordendo o lábio quando senti uma lágrima escorrendo por minha bochecha. Eu não podia me permitir sentir, ao menos não agora. A dor era muito recente e se eu me permitisse sentir todas as emoções que ameaçavam me dominar, eu sabia que não conseguiria me reerguer novamente. Se eu deixasse essas emoções me dominarem, ao não conseguiria nem ao menos ficar nessas cavernas que eu um dia chamei de lar. Eu me senti um robô ali. Tudo o que eu fazia era automático, só porque eu tinha que fazer. A vontade de sobreviver, de continuar, de lutar – essa vontade eu simplesmente não tinha mais.

Não, respondi a ela mentalmente, pois não confiava na minha voz naquele instante. Não estou bem e nem sei quando vou ficar.

Eu conseguia sentir como ela estava tendo dificuldades para encontrar as palavras certas para o momento.

Não precisa se esforçar, Lua, meu tom ameno, carinhoso, pois eu apreciava sua tentativa. Não é como se alguma coisa fosse amezinhar o que eu estou sentindo, mas obrigada de qualquer maneira.

Eu quase podia sentir ela sorrindo.

Onde estamos indo?, ela perguntou quando voltei a andar.

Abri um sorriso torto. Para o único lugar onde eu posso encontrar paz.

E talvez me torturar um pouco também.

~*~

A sala de jogos parecia vazia. Não sei há quanto tempos eles não a usavam, mas eu sentia como se não estivesse ali há muito tempo – o que não era mentira. O teto baixo e o local largo me faziam ter boas lembranças. Não podia ir para o lado de fora por ser muito perigoso, mas aquele local era o mais perto do que tínhamos para atividades que costumavam ser ao ar livre. Eu sentia falta de jogar futebol. Eu sentia falta de vir aqui quando o peso de uma das poucas adolescentes humanas sobreviventes era muito para carregar. Eu sentia falta de passar meu tempo livre aqui com ele.

Heimkehr || Jamie StryderWhere stories live. Discover now