Capítulo 2 - Troca de óleo

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Eddie não sabia andar de bicicleta assim, tão rápido quanto todos os seus amigos andavam. Muito pelo contrário: ele fazia questão de não ser tão veloz para não ter acidentes desnecessários. Pensando bem, nenhum acidente era necessário, certo? Então nada melhor do que evitar qualquer tipo de problema e andar em um tanto bom de velocidade pela cidade, sem ter perigo de topar com carros ou crianças que atravessam a rua sem olhar para os dois lados. Essas são as mais perigosas, vivendo a vida no limite.

Era nela que Eddie estava andando para ir até a casa de Richie, que prometera que faria uma limpeza das bem feitas em ambas as bicicletas, a dos dois. Não só a limpeza era necessária como também um pouco de óleo nas correntes, que pareciam tão velhas quanto poderiam estar. Quem sabe, com alguns retoques do amigo, elas ficariam novas igual no dia em que ele comprara, com 13 anos.

Estacionou na frente da garagem de Richie e desceu da bicicleta para leva-la ao lado de seu corpo, empurrando vagarosamente. A garagem estava fechada, mas Eddie conseguia ouvir o barulho de alguém lá dentro, portanto bateu no metal que ali tampava com cuidado.

"Já estou abrindo!" Alguns barulhos de peças caindo, um 'ai!' distante vindo do amigo e, enfim, o moreno abriu o portão manual para entrar tanto o menino quanto sua bicicleta. "Finalmente chegaram! Eu envelheci dois anos só de esperar aqui!"

"Não exagera, eu tive que me trocar, pegar minhas coisas antes de vir... E eu também não venho correndo, você sabe disso!" Eddie entrou e logo depois Richie fechou a garagem novamente. "Seus pais não estão aqui? Achei que seu pai fosse ficar bravo de ver você mexendo nos instrumentos dele..."

"Tá tranquilo, meu pai e minha mãe foram passar o final de semana fora em outra cidade, vou ficar sozinho uns três dias aqui, com a casa só pra mim. Por isso chamei todo mundo para vir aqui amanhã à noite, pra jogarmos jogos e vermos filmes." Tozier deu de ombros, mas isso pareceu assustar o outro, que realmente ficou surpreso.

"Seus pais te deixam sozinho?? Assim sem ninguém mesmo?? Isso não é, tipo, coisa pro conselho tutelar??" Apoiou a bicicleta na mesa de trabalho, mas Richie já a tirou de lá e colocou-a pendurada, assim como a dele estava, enquanto soltava uma risada longa e tranquila.

"A gente já tem 16 anos, eu sei me virar sozinho, Eds. Não é a primeira vez que fico sem meus pais, também. Não é como se fossemos criancinhas... Se bem que você pode muito bem ser um neném ainda aos olhos da sua mamãe, né?" Soltou um sorriso desdenhoso. "Fala pra sua mãe que eu deixo ela vir cuidar de mim o quanto ela quiser enquanto estiver só a minha pessoa nessa casa gigantesca, é muito Tozier para muita Sra. Kaspbrak!"

"Cala a boca, seu panaca." Eddie ficou instantaneamente vermelho, como sempre ficava quando ouvia uma das fatídicas piadas relacionada à sua mãe. Isso desatou mais risadas de Richie, que agora tirava as correntes das rodas da bicicleta pendurada.

"Panaca??" Colocou as mãos no coração. "Ah meu Deus, agora estou sinceramente ofendido!! Tá doendo até lá no fundo do estômago, no meu apêndice!!"

"Você nem tem mais apêndice, como isso é possível??" Revirou os olhos.

"Pois é, me senti tão ofendido que meu apêndice doeu até fora do corpo, eu senti o fantasma dele doer!" Afastou as mãos do peito e levou-as para o rosto, enxugou uma lágrima dos risos constantes e depois voltou-se para as rodas, para colocar óleo.

Tanto sua blusa quanto a maçã de seu rosto ficaram sujos de graxa, uma listra preta riscava sua bochecha e uma marca exata de mão com dedos se formava no canto esquerdo de sua camiseta, que já não estava lá tão limpa para começar o assunto. Isso, entretanto, fez Eddie arrepiar da base de sua coluna até o início de sua nuca; como era possível uma criatura se sujar tanto e com tanta facilidade?

Só em noites do pijamaOnde histórias criam vida. Descubra agora