Capítulo 7 - Dois sorvetes e uma porção de imaginação

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"Baby's good to me, you know, She's happy as can be, you know, She said so..." O menino cantarolava baixinho enquanto aguava as plantas da mãe. "I'm in love with her and I feel fine..." Com uma mão na cintura e a outra na mangueira, balançava de leve a cintura para os lados enquanto murmurava o resto da letra, que não sabia tão de cor, assim. The Beatles era uma de suas bandas preferidas, ele fazia questão de cantar as mais tranquilas naquele momento, com o maior número de romance que podia lembrar.

O sol batia em um ângulo no jato de água que Stanley jogava nas flores do quintal da frente da própria casa, com seu indicador na ponta da mangueira, um jato espalhado de gotas de água esparramavam por todos os cantos, o que fazia com que um pequeno arco-íris se sobressaísse em um reflexo. Andou um pouco para trás, de ré, em direção à cerca da casa.

"I'm so glad that she's my little girl! She's so glad, she's telling all the world..." Continuou, em uma baixa tonalidade. Atrás de si, entretanto, ouviu uma outra voz bem perto de seu ouvido, risonha e divertida.

"Essa nem é a mais famosa deles! Se eu fosse cantar alguma, eu cantaria 'She loves you', é bem mais animada, viu." Stan deu um salto e virou-se no mesmo instante, com mangueira e tudo, para ver quem estava falando – apesar de já saber exatamente quem era, por isso se assustara tanto. "Opa opa opa olha a água!"

"Ahh, Bill, desculpa, eu..." Stanley dobrou a mangueira, o que fez pressão na água e a fez parar de sair. "Você me assustou! Não pode simplesmente chegar sorrateiramente assim atrás das pessoas, sem avisar antes! Eu poderia ter te molhado inteiro!"

"É, percebi mesmo!" Bill soltou uma risada gostosa. "Foi minha culpa que minhas canelas estão enxarcadas agora, eu sei." Stan corou levemente, deu as costas para o menino e foi fechar a torneira.

"Foi mal, eu sinceramente não queria te molhar aí. Não vi o tempo passar, minha mãe me deu umas tarefas de casa para fazer e essa era a última, já reguei tudo lá atrás e só faltava aqui na frente. Já são quatro horas da tarde?" Limpou as mãos nos shorts.

"Na verdade, são 16:30. Eu quem cheguei atrasado, eu também precisava limpar algumas coisas para a minha mãe. Mas tudo bem, eu sei que o tempo passa rápido demais, se quiser que a gente saia outro dia..."

"Não, não, por favor. Eu sinceramente não vi o tempo passar, mas já tinha acabado aqui. Eu vejo as suas figurinhas, eu só vou pegar as minhas ali dentro e já volto!" Os dois trocaram um sorriso enquanto Stanley corria para dentro de casa para pegar o que precisava. Bill ficou esperando lá fora, um pouco nervoso.

Só de estar perto do amigo assim, sozinho, se sentia muito diferente. Como se sua barriga estivesse muito fria e, ao mesmo tempo, quente; uma mistura de um aperto na garganta com vontade de beber muita água, já que sua boca ficava seca. Por incrível que pareça, sua gagueira começava a voltar só de ficar perto dele, e Bill precisava se segurar ao máximo para não gaguejar outra vez, como fazia quando era mais novo – tinha passado tanto tempo em fonoaudióloga justamente para isso sumir.

Logo o de cabelos enrolados estava de volta, fechando o pequeno portão enquanto arrumava algo nos bolsos de trás. Bill conseguiu ver a borda de algumas das figurinhas que ele usara como pretexto para se encontrarem. Na verdade, nem se importava tanto com essas figurinhas, só começara a colecionar para passar mais tempo com Stan, mesmo.

"Vamos tomar um sorvete? Inclusive, podemos sentar numa das mesas da sorveteria pra decidir o que é que você quer de figurinhas, quais são as suas repetidas, as que eu também não tenho..." Stan olhava levemente para cima para falar com o outro, já que este era um pouco mais alto. Seu coração também batia mais rápido, já que na noite anterior os dois haviam trocado um beijo – sim, depois de torcer e pedir com todas as suas vontades, finalmente tinham se beijado! – na casa de Richie. Antes de dormir, combinaram de sair naquela tarde, só os dois. Mais um passo, talvez? Stan não podia se precipitar e colocar os bois na frente da carroça. Talvez Bill só pensasse no beijo como um desafio e naquela saída como uma troca de figurinhas (que, na verdade, Stanley nem ligava muito para elas).

Só em noites do pijamaOnde histórias criam vida. Descubra agora