Capítulo 4 - Formigamento estranho

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Diferente da noite anterior, as batidas na porta daquela manhã eram calmas e sem pressa alguma. Eddie não tocou a campainha, somente bateu três vezes seguidas, como costumava fazer, e esperou ser atendido pelo amigo que estava sozinho dentro da casa. Mexeu na mochila nas costas, olhou a cerca em volta da casa – definitivamente precisava de uma nova mão de tinta – e ainda balançou-se levemente para frente e para trás, antes de ser respondido por um Richie ofegante e com um leve traço de desespero passado no rosto.

"Achei que você fosse chegar mais cedo!" Riche sorriu e abraçou Eddie, puxando-o para dentro da casa. "Deixa a mochila aí na sala e vem me ajudar a fazer um macarrão, todo mundo vem almoçar aqui em casa e eu estou apanhando para fazer a macarronada que minha mãe sempre faz! Ela faz parecer tão simples..." Coçou de leve o queixo, que estava com um pequeno semblante de barba. "Talvez eu devesse prestar atenção nela de vez em quando..."

"Calma, Rich, eu não estou entendendo nada! O resto dos meninos não vão chegar só mais a noite?" Eddie deixou a mochila no sofá e entrou, olhando a cozinha. Estava um caos: alguns espaguetes secos e crus estavam caídos pelo chão enquanto outros saíam para fora da panela de água fervente; havia pelo menos 3 molhos de tomate abertos em locais diferentes da pia e da bancada e sem contar o fato de que, por algum motivo, a carne moída estava cozinhando congelada, como uma almôndega gigante. "Gente, mas o que..."

"Então, ontem o Stan veio aqui pegar os DVDs e ele disse que ia chegar mais cedo, então iria avisar o Bill e eu fiquei de avisar o Mike hoje cedo, quando passei na mercearia dele para comprar o macarrão" Richie apontou com a cabeça a comida. "Não está muito bonito, não é mesmo? Realmente preciso de ajuda, você é o mestre cuca entre nós, por favoooor me empresta um pouco da sua habilidade culinária!" Ergueu as duas mãos juntas, em forma de súplica, mas Eddie levantou uma sobrancelha e colocou a mão na cintura.

"O que eu ganho em troca, se te ajudar?" Perguntou.

"Que tal um beijinho?" Fez um bico e se aproximou, fechando os olhos.

"Nem se fossem dois!" Apertou a bochecha do amigo com a mão que não estava na cintura, enquanto revirava os olhos. "Você sabe do nosso combinado, eu vou te ajudar a cozinhar para termos tempo de dar mais do que dois beijinhos, Sr. Tozier."

Richie desenhou o maior sorriso que dera aquela manhã. Se fosse por ele, jogaria fora aquela comida toda naquele momento e compraria marmita para entregar, ou então, melhor ainda: que seus amigos morressem de fome, ele não se importava! Precisava é ganhar mais tempo para roubar "mais do que dois beijinhos" com o baixinho rabugento à sua frente.

"Claro, eu obviamente não esqueci do nosso combinado, Sr. Kaspbrak, só preciso ter certeza de que todos ficarão alimentados nessa bela tarde de hoje, mas se a Vossa Senhoria quiser, eu expulso todos e passo o dia inteiro dando uns pegas em você." Disse, em um tom extremamente formal, enquanto fazia uma breve reverência. Nada disso foi o que fez Eddie ruborizar ferozmente, e sim, o que o moreno dissera por último.

"Não vamos 'dar uns pegas', eu nem sei direito o que isso significa, Richie!" Balançou a cabeça com fervor. "Vamos só treinar o meu beijo, e antes disso eu vou ter certeza de que você não está envenenando todo mundo com essa sua comida desastrosa aqui... É macarrão, é tão simples, como você não conseguiu fazer nem isso??" Andou rapidamente até a cozinha, resmungando enquanto arrumava tudo o que o mais velho fizera de errado.

Começou com o macarrão, que agora estava totalmente colocado dentro da panela, e finalizou com a carne, que passou a ser descongelada e não somente torrada em um único lado, a comida foi se cozinhando aos poucos e com uma rapidez prática e funcional. Enquanto fazia cada coisa, Eddie ia explicando todo o passo a passo, e Richie, com o olhar apaixonado e fixo no menino, mal entendia uma palavra do que estava se passando, mas soltava alguns "uhums" e aqui e outros "ahams" ali.

"Rich? Você me ouviu? Pedi para passar o molho de tomate!" Eddie apontou. "Já escorri o macarrão, agora a gente passa no azeite e coloca o molho! Você não estava me escutando?" Richie balançou a cabeça.

"Claro que ouvi, eu estava só pensando qual dos molhos eu ia te dar, tenho três abertos!" Levantou da cadeira, balançando os cachos em seu cabelo escuro. "Qual deles?"

"Bem... Já que você abriu tantos, vamos usar todos, vai ficar só um macarrão com bastante molho... Mas estamos fazendo muita massa, mesmo, vai dar certo." Assentiu. "Pode me dar um de cada vez, por favor!"

Richie pensou um pouco e soltou uma risada baixa, mas daquelas que só soltava quando pensava em fazer uma arte. Cada vez que entregava um molho de tomate, dava um beijo na bochecha de Eddie, que começou a ficar levemente irritado.

"O que você está planejando??" Franziu as sobrancelhas em um leve vinco no meio. "Está muito carinhoso hoje!" Parecia duvidar do comportamento do amigo. "Aposto que você está querendo me zoar de alguma forma!" Virou-se de lado enquanto mexia o macarrão, depois de colocar a carne moída toda junto com o macarrão e o molho. "Fique sabendo que eu tô de olho em você, viu??"

"Pode ficar de olho na minha pessoa inteirinha, porque eu não vou te zoar de forma nenhuma, Eddie Bear!" Soltou uma risada gostosa, se aproximou e, quando estava bem perto de seu rosto, sussurrou. "Acho que esse macarrão já está pronto..." Desligou o fogo e, em um movimento rápido, puxou a cintura de Ed e deu-lhe um beijo com vontade.

Eddie estava surpreso com as reações do amigo naquele dia, a forma que estava sendo tratado e principalmente, naquele momento, com aquele beijo. Não havia expectativa nenhuma, nem introdução com um beijo simples: aquele beijo era um beijão com vontade tudo de uma vez só. "Não," pensou o menino, "eu preciso me acostumar com isso, é normal, eu... na verdade... eu até que gosto desse tipo de beijo...". Relaxando os ombros, se soltou completamente e cedeu-se ao beijo, que parecia se aprofundar cada vez mais.

Richie havia tentado essa aproximação totalmente diferente, tinha pensado nesses movimentos durante a noite toda, em como iria agir para ver como Ed iria reagir com tudo aquilo. Bem, até o momento, na opinião de Rich, Eddie estava reagindo muito bem! Não havia se assustado nem afastado o menino, muito pelo contrário, estava até beijando-o de volta! Parecia a situação perfeita para aproveitar e... bem, passar a mão em alguns lugares.

A mão de Richie descia pelas costas de Eddie, antes estavam em seu cabelo e agora passavam por sua cintura, pousavam na base de sua bunda e... Peraí, o que ele estava tentando fazer com a sua bunda?? A bunda era dele, não era para ser apalpada!! Mas apesar de ser uma experiência diferente, não era totalmente esquisito para ele, parecia que... por algum motivo, a mão de Richie estava no lugar certo... Talvez Eddie deveria tentar fazer a mesma coisa, então? Talvez os beijos levavam às mãos até ali, normalmente? Então, aos poucos, desceu uma de suas próprias mãos até a bunda de Richie, da mesma forma.

Richie levou um sobressalto. Eddie também estava reagindo da mesma forma? Os corpos se colaram, estavam mais perto do que nunca, Richie sentiu alguma coisa formigar entre suas pernas... Uma coisa já conhecida por ele, que começou a crescer, um formigamento que nada tinha a ver com as borboletas que estavam em seu estômago... Se ele não se afastasse agora, estaria em sério perigo de...

A campainha tocou várias vezes, incansáveis e imparáveis vezes, indicando que claramente algum de seus colegas estavam ali. Naquele momento, naquela hora, interrompendo o momento mais precioso que Richie tinha. Eddie foi o que afastou, assustado, pois não queria ser visto de maneira alguma.

"Meu Deus, não posso, eu não..." Eddie começou a falar, mas foi interrompido por Richie, que rapidamente disse:

"Preciso que você atenda a porta, eu tenho que correr no banheiro rapidinho..." Em passos largos, saltou para fora da cozinha e foi para o banheiro mais próximo, deixando Eddie sozinho para atender a porta e receber os amigos, confuso e sem entender o que estava acontecendo.

Só em noites do pijamaOnde histórias criam vida. Descubra agora