31- de volta para o segundo lar

40 4 14
                                    

  Quando no terceiro dia em casa a falta das meninas começou a me consumir, acabei percebendo que Brasília não era mais meu lar

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

  Quando no terceiro dia em casa a falta das meninas começou a me consumir, acabei percebendo que Brasília não era mais meu lar. Eu havia arrumado um lar em outro país, e isso para mim era uma total novidade até então.

  Acontece que casa é uma fundação, cuja qual o material depende muito do ambiente e das condições financeiras de seu dono. Pode ser de madeira ou pedra, como antigamente; pode ser de gelo, como os esquimós fazem; pode ser de alvenaria... Uma casa lhe protege dos fenômenos naturais, da chuva, do frio, do calor e até mesmo daquela pessoa chata que você não quer ver de maneira nenhuma e acaba batendo a porta na cara dela.

  Já o lar não precisa ter qualquer ligação com uma fundação, o lar pode ser uma pessoa, um objeto querido, um livro, uma pessoa ou até um seriado que você já assistiu vinte e uma vezes e sempre vai te fazer rir ou chorar como da primeira vez. Lar é onde você vai quando teve um dia ruim ou precisa descansar, lar é seu conforto, seu aconselhamento.

  No caso agora eu tinha três lares: Brasília, Seul e Junkyu. E por isso me parecia estranho, quem é que tinha três lares? Nunca vi escrito, falado e cantado em nenhum lugar que era errado ter mais de um lar, e era bom porque quando eu não podia correr para um, corria para o outro.

  ㅡ Avisou pelo menos para Atena que estávamos voltando?

  Voltei minha atenção a si:

  ㅡ Não, por um acaso você avisou aos meninos?

  ㅡ Estava prestes a fazer isso.

  ㅡ Eu quero fazer uma surpresa para elas, acho que vai ser legal.ㅡ justifiquei ao sair do aeroporto.

  ㅡ Às vezes eu penso que dividimos os mesmos neurônios.

  Tal comentário gerou risadas, mas também arrancou uma careta de confusão do taxista, foi então que me toquei que precisávamos voltar a falar em inglês ou coreano.

  ㅡ Para Cheongdam-dong por favor.ㅡ Kim disse ao colocar as malas no carro e adentrar o veículo.

  ㅡ Vai me deixar no dormitório primeiro?

  ㅡ Deve estar com mais saudades da Atena do que eu do Minho. 

  ㅡ Vocês são bem grudentos...ㅡ comentou Haruto de maneira a nos recordar de sua existência, esta que estava esquecida no fundo do baú desde que nos sentamos em assentos separados no avião.

  ㅡ Deixe só até você amar alguém, quero ver se não vai ser igual ou pior.ㅡ Kim disse em sua defesa.

  ㅡ Assim você até parece meu pai.

  ㅡ E não posso ser?

  ㅡ Larga de ser idiota.ㅡ o mais novo deu um soco fraco no braço de meu namorado.

  Finalmente pude pisar naquele elevador novamente, depois de quase dois meses sem entrar naquele prédio, pedi que Yeonsang não dissesse que eu estava subindo, porque aí sim a surpresa seria perfeita.

  Larguei as malas no chão, rente à porta, contrariando as recomendações de não fazer esforço durante quinze dias. Toquei a campainha e pude ouvir as meninas discutirem do lado de dentro:

  ㅡ Quantas vezes já combinamos que ninguém aqui iria pedir comida por delivery e iríamos sempre cozinhar?ㅡ Sakura reclamou. 

  ㅡ Mas ninguém aqui pediu nada.ㅡ Minju alegou, defendendo as outras.

  ㅡ Não? Então alguém aqui está esperando por alguém?

  ㅡ Não, mas melhor atendermos, pode ser importante.

  Lee Chaeyeon abriu a porta, deixando o queixo cair: 

  ㅡ Amber!ㅡ agarrou minha cintura como se nunca mais fosse soltar.ㅡ Ah, desculpe, ainda deve doer...

  Se afastou e ajuntou uma de minhas malas.

  ㅡ Vocês já sabem de tudo?

  ㅡ Sabemos de tudo e mais um pouco: que você ficou bêbada, que você levou um tiro, que ficou internada durante um bom tempo, que foi pedida em casamento e que se casa mês que vem.

  Até para mim, que fui a protagonista de tanta coisa, era bem difícil de assimilar o que Chaeyeon falou, imagina para elas quando de tudo ficaram sabendo. Pedi passagem e adentrei carregando minha bolsa e a outra mala.

  As meninas fizeram fila para me abraçar, e o modo como cada uma me recebeu de volta foi excêntrico e único, era uma essência que só elas tinham. Ao final, Carvalho estava de braços abertos e olhos marejados, corri para a abraçar, tanto que seu corpo chegou a pender para trás.

  ㅡ Senti tanto a sua falta...ㅡ confessei ao limpar as lágrimas.

  ㅡ Amiga... Eu preciso te contar uma coisa séria e não podia ser por telefone. Vou falar aqui mesmo porque literalmente todo mundo já sabe.

  Olhei em volta, realmente as meninas estavam esperançosas e com os olhos brilhando, algumas até suspiravam. Voltei minha atenção para Atena, mais curiosa do que tudo.

  ㅡ Eu vou chorar, eu vou espernear, roubar seus chocolates, ficar enjoada...brigar pelo cheiro do seu perfume...desmaiar algumas vezes...

  Eu já tinha pegado toda a linha de raciocínio até então, mas tudo o que eu queria mesmo era ouvir as três palavras de sua boca, palavras estas que provavelmente provocaram uma queda de pressão quando Lee Know as escutou:

  ㅡ Porque eu estou grávida.

  Fingir surpresa. Certamente não era uma coisa na qual eu tinha doutorado ou era mestre em fazer, contudo desta vez eu tentaria com toda a vivacidade para que suas esperanças não fossem destruídas por uma branquela sem graça que saca tudo antes de ser dito.

  ㅡ Atena!!! Temos aqui um Eros?ㅡ passei a mão em seu ventre.

  ㅡ Mas meu nome é Atena e não Afrodite.

  ㅡ Deixa baixo, estou só brincando.

  ㅡ Você deveria ter ido à mais aulas de história, isso sim...

  Todos começaram a rir, uma pena que o bebê ainda era tão pequeno que nem pôde chutar para compartilhar da vibração exterior ao útero da mãe.

  ㅡ E então? Você sabe que os treinos já voltam, não é?

  ㅡ Sei, o médico responsável pelo meu pré-natal prometeu que não haveria problema jogar até os quatro meses e que inclusive era bom para o desenvolvimento do bebê.

   Levei a mão ao peito, como forma de alívio.

  ㅡ Vou fazer galinhada para você, como comemoração por ter voltado bem.

  ㅡ Amiga, você está grávida, nem se dê o trabalho.

  ㅡ Já viu alguma vez na vida alguém que tentou me contrariar e deu certo?ㅡ neguei com a cabeça ㅡ Então pronto, eu farei galinhada para você.

Match Point- Kim JunkyuOnde histórias criam vida. Descubra agora