Erro de Principiante

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N/A: ei docinho de banana, não esquece do voto, me ajuda muito!!

Boa Leitura!

Jonas.
21 de novembro de 2029

Meu rosto se contorceu ao sentir a lâmina cortando sua pele. Enquanto via o sangue saindo do pequeno corte, dei um sorriso amarelo lembrando como costumava passar mal vendo meu próprio sangue quando mais jovem. Terminei de fazer a barba (uma das únicas coisas das quais eu ainda fazia questão), guardei a lâmina e, depois de secar bem o rosto, vesti a máscara de gás.

Calma, respira, eu explico.

Eu tinha dezenove anos quando começou. Não foi vírus, não foi asteroide, não foi guerra nuclear. Já ouviu falar de Yellowstone? É, o vulcão. Entrou em erupção em 2025 - não foi a primeira vez, claro, mas agora a humanidade já tinha saturado a atmosfera com seus malditos gases de efeito estufa.

As cinzas do vulcão se espalharam por todo o hemisfério norte ocidental, matando mais da metade da população e condenando os sobreviventes a uma geladeira coberta de cinzas. Quem tinha dinheiro se mandou para o hemisfério sul. O resto de nós se virou como podia, vivendo principalmente nas estações de metrô.

Em alguns meses, o governo reconstruiu nosso sistema, e agora vivemos como abelhas. Cada um em seu cubículo de dez metros quadrados, agrupados em grandes colônias exercendo a função que lhe foi designada. A minha, B57, é uma colônia energética, o que significa que 90% dos moradores trabalham na usina acoplada ao nosso prédio. O restante, onde me incluíram, cuidam da manutenção da vida por aqui.

Desci as escadas, como todos os dias, me dirigindo ao galpão de saída. Arrumei a máscara e vesti o macacão de lona branca próprio para área externa.

- Valeu, Carl - gritei ao descarregador, enquanto entrava no caminhão. - Volto em algumas horas.

- Se puder não trazer uma nuvem quando entrar, a gente agradece - a frase era de praxe, lembrando da única vez que esqueci de trancar o caminhão e uma quantidade absurda de cinzas entrou na colônia.

Fiz uma careta antes da porta interna se fechar atrás de mim. Encaixei as travas do contêiner e entrei, dando partida no veículo. Tinha gente que me considerava sortudo por poder sair da colônia, mas às vezes eu preferia o privilégio de, sei lá, trabalhar na cozinha. Muito mais simples, menos arriscado, e a maior emoção do meu dia seria achar uma larva na maçã. Como transportador, eu precisava sair da colônia todos os dias, pelo menos duas vezes, e ir até as colônias vizinhas.

Eles me achavam sortudo porque imaginavam que as coisas lá fora seriam semelhantes às que eles lembravam (e, por Deus, como eu queria que fossem). O céu, por exemplo, era constantemente escondido pela camada de cinzas vulcânicas, as árvores estão mortas e os poucos prédios, em ruínas. A chuva, no entanto, era a pior parte: ácida como nada visto antes, tóxica a qualquer um que não se protegesse.

- Jonas Wembley, B57 - me apresentei levando o rádio próximo à boca quando cheguei ao portão da B56, a colônia agrícola.

As portas se abriram à minha frente e manobrei o caminhão para entrar de ré, de modo a encaixar o contêiner na saída da estufa. Destravei as portas traseiras e rapidamente voltei para minha cabine vedada. Apertei a buzina, avisando que já estava dentro do veículo - aliás, segunda lei do Novo Sistema: não tenha qualquer contato físico com alguém de outra colônia.

Vi, pelo retrovisor, os moradores da B56 carregando o contêiner com os caixotes de frutas e legumes, e aproveitei para dar uma olhada no ambiente da colônia que sempre me pareceu a mais agradável. Era dali que vinha parte do ar puro que, por vias subterrâneas, alcançava e  abastecia o (nosso) complexo B5.

Entre RuínasOù les histoires vivent. Découvrez maintenant