Apartamento 308

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N/A: ei docinho de banana, não esquece do voto, me ajuda muito!!

Boa Leitura!

Jonas,
21 de novembro de 2029.

Pensa num dia que me pareceu eterno.

Durante a viagem para buscar os novos macacões na B53, eu pensava em tudo o que poderia estar dando errado com a Mia. Ela me entregaria se a encontrassem? Óbvio que sim. Com certeza a colocariam nas mãos da PEB e ela não teria mais nada a perder. Por que, então, pensaria nas consequências para o transportador que a escondeu em baixo de um monte de frutas?

Naquele dia eu posso te garantir que trabalhei em dobro. Descarreguei o caminhão duas vezes quando minha função era só transportar, e nem senti o cansaço chegando - obrigado, adrenalina. Quando voltei à colônia, o pessoal do Galpão já estava se dispersando para encerrar o turno, e quase todas as portas de saída tinham sido preenchidas pelos caminhões que retornavam. Em alguns cantos, via-se ainda a animação característica de um happy hour que talvez estivesse por vir.

Um peso imenso sumiu dos meus ombros quando vi que a grande pilha de caixotes continuava coberta. Puxei algum assunto aleatório com o Carl para evitar perguntas comprometedoras e, quando consegui dispersá-lo, me sentei com as costas apoiadas na lona, deixando ao meu lado o pequeno pacote que tinha em mãos.

- Mia? – Chamei, baixinho, fingindo interesse em um defeito imaginário na minha bota. – Mia, bate uma vez no seu lado esquerdo se tá me escutando. Uma para sim, duas para não.

Senti um caixote me empurrando no meio das costas.

- Mais fraco, ou vai cair tudo. Consegue andar?

Duas batidas.

- Tem para onde ir?

Duas batidas, e dessa vez quase pude ver seus olhos se revirando com uma pergunta tão idiota.

- É claro que não. Escuta – olhei para os lados para ter certeza de que não tinha atraído a atenção de ninguém -, o andar fecha em trinta minutos. Acha que aguenta mais um pouco aí dentro?

Uma batida.

- Ótimo.

Tirei do bolso uma pequena garrafa d'água e a encaixei por baixo da lona. Eu podia escuta-la bebendo, tamanha devia ser sua sede. Estiquei as pernas e não ousei sair de perto do plástico até o setor ficar vazio, morrendo de medo de alguém descobrir Mia ali dentro. Quando acenei para o último descarregador, pude finalmente respirar aliviado e desatar os nós que prendiam a cobertura nos caixotes de baixo.

- Obrigada. – Mia agradeceu por trás de uma das caixas. – Não tenho certeza do que tá rolando ou porque você não me entregou, mas obrigada.

- Não há de quê – respondi sem olhá-la, talvez um pouco mais seco do que o necessário.

Não, eu não pretendia me apegar a ela em nenhum nível. Mia só estava ali por um incidente e iria embora assim que possível, mas eu não teria coragem de deixar lá fora uma pessoa machucada, ainda mais sozinha. Vai por mim, isso passou muitas vezes pela minha cabeça enquanto eu dirigia até a B53. Eu simplesmente não conseguiria.

- Sem querer ser indelicado – tive que começar a falar assim que me livrei das últimas caixas. - Mas de onde vem esse cheiro de alho? – Ela apontou para a própria cabeça, e eu demorei alguns segundos até perceber a cor avermelhada do lado direito. – Você passou... tá maluca, Mia? A ferida tá aberta, e a infecção?

- O alho é justamente para isso – respondeu virando os olhos e assumindo certo tom de deboche. – Desculpa se eu não tinha nenhuma pomada profissional, doutor.

Entre RuínasWhere stories live. Discover now