Vocês dependem de mim

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N/A: ei docinho de banana, não esquece do voto, me ajuda muito!!

Boa Leitura!

Jonas.
23 de novembro de 2029.

Quando Mia adormeceu no colchonete (que ela insistiu em não revezar comigo), passei um tempo olhando-a antes de pegar no sono. Estava com a coberta puxada até a cintura, deitada de bruços, e me peguei pensando se ela já havia passado fome na vida lá fora. Entretanto, pelo o que eu conhecia do mundo externo, a resposta da pergunta era óbvia. Foi ali que decidi que ela não passaria por isso, pelo menos enquanto estivesse morando comigo.

- Carl, posso trocar uma ideia com você? – Toquei o ombro do meu supervisor quando cheguei ao Galpão, e ele levantou um dedo me pedindo para esperar. Quando terminou de contar os caixotes à sua frente, me olhou por cima dos óculos. – Como tá a agenda de hora extra para semana que vem?

- Livre, exceto na quarta. Interessado? – Fiz que sim e seus olhos brilharam com a resposta. Digamos que o setor de transportes não é famoso pela disposição para serviços adicionais. – Qual dia?

- Segunda e terça. Quinta também.

- O limite são dois dias, Wembley. Ou o sindicato me crucifica na reunião mensal – a sobrancelha esquerda de Carl se arqueou, desconfiado, quando pedi que fizesse um esforço por mim. Cruzou os braços, me encarando – qual a urgência?

- Preciso trocar meu colchão – soltei o argumento ensaiado, alongando as costas. – O meu já tá podre, cara.

O homem suspirou, convencido, e anotou meu nome em mais uma vaga. Agradeci pela brecha no regulamento, vibrando internamente e torcendo para que Gabriel (ou o sindicato) não desconfiasse desse dinheiro. Vesti o macacão de lona branca e tranquei o contêiner do caminhão atrás de mim.

- E vê se não trás... – gritou Carl, com um sorriso irônico.

- Nenhuma nuvem de cinzas hoje, chefe – Gritei de volta. Fechei a porta da cabine e completei, depois de checar se o rádio estava desligado. – Nenhuma pessoa, também. Para hoje, só o fogão novo pra Cozinha da colônia.

No caminho para a B59, tive muito tempo para pensar em como ficaria minha conta bancária nas próximas semanas. Problema de matemática: se eu prometi 20% do meu salário ao Forks, eles se aplicam ao salário padrão ou à soma com o valor da hora extra? Se Gabriel não ficasse sabendo desse adicional, eu conseguiria comprar um prato grande para cada refeição sem limite de alimentação.

- Só isso por hoje, Wembley? – Perguntou a supervisora da B59 pelo rádio, e confirmei, recebendo duas batidas no contêiner como resposta. – Beleza, tá carregado.

- Valeu Bones, até a próxima – me despedi, indo checar as travas da porta.

Na volta, passei pelo que sobrou de uma pequena cidade próxima à fronteira do Complexo B6. Os poucos prédios que resistiram ao abandono não possuíam identidade alguma, tomados pela camada de cinzas que cobria todo o ocidente europeu. Próximo a um deles, um homem deitado em um tapete desgastado tremia de frio sob as roupas finas, e o pedaço de pano que lhe cobria o nariz e a boca estava tão sujo que eu duvidava de sua eficácia. Entretanto, foi o olhar perdido e sem esperança que me chamou a atenção.

De novo, pensei em Mia. Será que ela tinha ficado os últimos quatro anos sozinha, ou teve alguém ao seu lado em algum momento? Quero dizer, como se não bastasse a fome, o clima hostil e o cheiro horroroso de produto químico que se espalhava pelas ruas, ainda teria a solidão. Como alguém consegue achar força para não desistir numa situação dessas?

Entre RuínasWhere stories live. Discover now