O Terraço

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ei docinho de banana, não se esquece do voto, me ajuda muito!!
Boa Leitura!

Jonas.
24 de novembro de 2029.


Apesar de nunca ter feito corpo mole desde que cheguei na B57, eu sempre fui visto por todo mundo daqui como um estorvo. O Sr. e a Sra. Roberts foram os únicos que ignoraram a situação em que eu cheguei e me acolheram como parte da família, mas eles eram (pelo menos) uns 50 anos mais velhos que eu, e sempre me trataram como o filho que eles perderam no ano da erupção. Talvez por isso eu estivesse tão animado em mostrar o terraço para Mia – alguém que com certeza não me desprezava e, o melhor, não precisava de uma bengala para andar.

Apoiada no meu braço (eu disse que não precisava de bengala, mas ela também não estava sendo a rainha da mobilidade), me acompanhou até o fundo da antiga horta. Mia parou alguns passos antes de chegarmos à estante apoiada na parede, com os olhos quase brilhando em um sorriso latente.

- O Sr. Roberts amava livros – expliquei, me aproximando. - Fez questão de trazer todos os que estavam na sua biblioteca pessoal para a colônia, mas não cabiam no apartamento. Você lê?

- Lia – ela respondeu, ainda sem acreditar no que via. Chegou mais perto, passando os dedos nas lombadas empoeiradas, como se quisesse ter certeza de que realmente estavam ali. – Livro não é muito prático de se levar na mochila quando o assunto é sobrevivência, mas eu amava ler quando era mais nova. Minha mãe lia comigo desde que eu e meus irmãos éramos pequenos.

- Não sabia que você tinha irmãos – foi minha tentativa sutil de descobrir um pouco mais sobre a garota que dormia na minha casa.

- Tinha quatro. Sendo dois, meus gêmeos – Mia riu da surpresa estampada na minha cara. - Finn e Sam. Rick e Josh eram mais velhos. Minha mãe dizia que eu era a única princesa guerreira daquela fazenda.

- E eles estavam com você lá fora? Digo, quando você entrou no caminhão.

- Não. Três viajaram uma semana antes da erupção, e o Josh tinha se mudado para Londres. Nunca descobri o que aconteceu com eles – ela explicou, ainda com os olhos perdidos na estante. – Minha mãe morreu quando eu tinha dez anos, e meu pai foi junto dela cinco meses depois de Yellowstone.

- Você tava sozinha há quatro anos? – Perguntei, deixando transparecer um quê de pena que eu preferia que ficasse escondido.

- Não exatamente. Existem muitos outros por aí, mas geralmente são pessoas que chegam e somem da sua vida num piscar de olhos – percebi em seu tom de voz que Mia não pretendia estender o assunto, e respeitei. – Eu posso pegar algum pra ler essa semana?

- Quantos quiser – senti meu peito se aquecer com o sorriso grato que nasceu em seu rosto. – Roberts deixou pra mim, mas, sabe, eu sou muito mais ligado em filmes do que em livros.

Mia fingiu uma dor aguda no coração quando me ouviu, levando a mão ao peito. Em silêncio, continuou sentindo as texturas com os dedos, encantada com aquilo tudo. A luz que entrava pela cúpula não estava forte o bastante, então seus olhos se estreitavam para conseguir ler as lombadas dos livros.

Queira que ela pudesse ver isso aqui de dia. Quem sabe em outra situação, talvez em outra realidade, ela pudesse subir naquele lugar quando bem entendesse. Naquela em que vivíamos, no entanto, isso seria arriscado demais.

Depois de guardar a toalha e recolher os pratos, encontrei Mia com dois livros nos braços e uma expressão de criança animada no rosto. Sorrindo com a cena, coloquei a mochila nas costas e peguei-os de suas mãos, para facilitar a descida da escada.

Entre RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora