Torta de maçã

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N/A: ei docinho de banana, não esquece do voto, me ajuda muito!!
Boa Leitura!


Jonas.
03 de dezembro de 2029.

E eu que achava que acordar com o cheiro de café era o maior privilégio de ter a Mia em casa? A única explicação para isso é que antes de sábado eu era um idiota, só pode ser.

- Bom dia, flor do dia. – ela cumprimentou saindo do banheiro, enquanto eu ainda estava me sentando à beira da cama. Mia se aproximou encaixando a mão no meu maxilar, me beijando no canto da boca – Já te disseram que você acorda com bafo?

- Falou a que chuta a noite inteira – retruquei.

- Pelo menos eu não ronco – eis a tréplica. Eu estava indo escovar os dentes quando a ouvi completando baixinho: - especialmente essa noite.

Inclinei o pescoço para fora do banheiro para poder ver sua reação com a minha próxima frase.

- É que ontem você me deixou cansadão – pisquei, vendo o rosto de Mia se corar por trás da caneca vermelha.

Aliás, aqui está mais um fato sobre Mia Green: quando o tesão sobe, ela vira a pessoa mais sexy do mundo. Cada olhar, cada gemido, cada respiração ofegante... tudo nela me deixava doido. Mas se você levantasse o assunto depois do sexo, ela ficava com mais vergonha do que nunca – e, confesso, era divertido provoca-la assim.

De qualquer modo, eu não poderia pedir mais nada da vida. Eu sei, o planeta tinha desabado lá fora, mas naquele fim de semana meu mundo pareceu resumido ao pequeno ponto de paz que Mia criou dentro do meu apartamento. E, por mim, aquilo bastava.

No entanto, já era segunda-feira. O tornozelo dela estava em vias de melhorar, e a gente já sabia o que aconteceria em seguida se eu não pensasse em nada. Verdade seja dita, eu não estava pronto para colocá-la de volta naquele caminhão.

- O café tá acabando – Mia avisou servido a bebida nas canecas quando me ouviu saindo do banheiro. – Aliás, como funciona isso de comprar comida por aqui?

- É simples – expliquei, enxugando o cabelo e me sentando ao seu lado. – Os apartamentos são pequenos e próximos demais para ter um sistema de ventilação que suporte vários fogões. Eles dizem que seria perigoso, então toda refeição é preparada na Cozinha Central. Evita acidente, economiza espaço, garante que todo mundo receba nutrientes e tal.

- E esses mantimentos?

- São vendidos na Mercearia, que é onde a tia da Hannah trabalha. Todos eles vêm da indústria alimentícia central do B e têm menos fiscalização nutricional, então a gente tem um limite mensal de mantimentos.

- Tudo para diminuir a quantidade de doenças crônicas – constatou.

- Exato. – Dei mais um gole no meu café, sentindo o vapor bater contra o meu rosto. Uma das coisas que me impressionavam na Mia era como ela parecia realmente interessada em qualquer assunto. Ela parecia querer absorver tudo a todo momento e, ironicamente, estava vivendo em um mundo resumido a um quarto e um banheiro. – Queria poder te mostrar tudo isso.

Ela deu um sorriso amarelo encarando a própria caneca. Eu sabia que, assim como eu, Mia também entendia que tudo aquilo estava prestes a acabar. O projeto de vida ideal dentro do 308 tinha data de validade, sempre teve – e eu não sabia dizer se isso doía mais nela ou em mim.

- Quem sabe em outra vida, né? – Ela respondeu, e eu assenti em silêncio forçando um sorriso. Mia deu um último gole no café e colocou a caneca na mesa, se levantando para dar uma batidinha no meu ombro. – Cuidado para não perder a hora do serviço.

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