Efeito Green

74 21 25
                                    

N/A: ei docinho de banana, não esquece do voto, me ajuda muito!!

Boa Leitura!

Jonas.

14 de dezembro de 2029

Por mais hostil que a Análise tivesse tornado o restante da colônia, qualquer lugar público era mais reconfortante que o meu próprio apartamento. Uma semana já tinha se passado desde a partida de Mia, mas ele ainda não dava nem sinais de recuperação daquela mudança brusca no seu ecossistema. Tecnicamente, o espaço voltou a ser o que era antes, mas de algum modo, estava completamente mudado.

Estava mais vazio, melancólico, não sei.

A caneca vermelha sobre a mesa, o macacão laranja surrado no armário e o catálogo de streaming que insistia em me sugerir filmes da Julia Roberts eram as únicas provas de que Mia Green alguma vez esteve dentro da B57. De que alguma vez ela esteve comigo. Além, é claro, daquele maldito bilhete.

- Não te vi mais na B51, Jonas – fui trazido de volta à realidade pelo rádio que emitia a voz de Josh, o cara que me emprestou a pomada para queimaduras. Ok, pelo jeito a memória de Mia era forte demais para se limitar ao apartamento. – Ei, cara, tudo bem?

- Tudo. É, tudo, sim. – Respondi, balançando a cabeça, mas sem vontade de dar continuidade à conversa.

- Está aéreo.

- É só... – cocei a nuca olhando ao meu redor, ainda pensando se era uma boa ideia falar sobre aquilo. Carl, estava distraído com as próprias anotações, me dando uma rara e mínima liberdade. – Perdi alguém importante.

O rádio ficou mudo por um momento, mas de algum modo pude perceber o motorista concordando com empatia.

- Quem não perdeu, não é? – Josh disse, por fim. – Eu, mesmo, perdi minha família toda com o Yellowstone. Quer dizer, acho que perdi.

- Não estava com eles?

- Eu morava em Londres, eles numa fazenda de aveia – um silêncio tomou conta do rádio antes que ele continuasse. – Na última vez que os vi, passei o dia zoando a camiseta listrada da mais nova, parecia uma abelha - Josh riu, sem humor. - Coitada, a única mulher de cinco irmãos, minha mãe a chamava de guerreira por isso. A gente não se dava muito bem, mas hoje eu daria tudo para vê-la de novo.

Terminei de carregar o caminhão enquanto ele contava sobre o resto da família, mas quase não o dei ouvidos. Minha mente andava tão cheia que se autodesligava em qualquer conversa que ultrapassasse cinco minutos. Ou em tarefas longas. Em filmes, às vezes. Em inúmeras situações, o pensamento sempre voltava a ela.

Algo que eu gostei de chamar de "Efeito Green".

Jonas.

19 de dezembro de 2029.

- Boa noite, Carl – me despedi depois de mais um turno propositalmente estendido. O supervisor acenou satisfeito por me ver, de novo, como um dos últimos a deixar o Galpão.

Mesmo com o julgamento da Análise (finalmente) marcado para logo depois do Natal, os olhares dos moradores ainda me acompanhavam enquanto eu subia os lances de escada até o terceiro andar. Eu já havia retirado a chave do bolso quando percebi Gabriel Forks se aproximando à minha frente com um sorriso no canto da boca. Era a primeira vez que eu o via desde que Mia fora embora.

- Boa noite, Wem...

Como em um ato reflexo ativado pela voz de Forks, meu punho encontrou o meio do rosto do rapaz com um golpe direto, empurrando-o para trás. Ainda com o braço estendido, recobrei a consciência do que havia acabado de fazer quando vi o filete de sangue que escorria de seu nariz.

Entre RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora