Capítulo 3- Cortes Profundos

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JEON JUNGKOOK

Sempre tive uma imagem destorcida do mundo. Quem são essas pessoas que pregam igualdade, humildade e amor que não pensam duas vezes antes de julgar e apedrejar? Eu os odeio. Odeio as palavras que são cuspidas de suas bocas imundas cheias de hipocrisia, odeio cada detalhe de seu ser imundo cheio de pecados.

Seres humanos.

Criaturas sem nexo algum, mas o motivo principal para esse rancor, são ninguém mais ninguém menos que os meus pais. Vamos começar pela minha mãe a Sr. Natália, uma mulher altamente requintada e com seu ar de superioridade que eu tanto odiava,- um fruto nunca cai muito longe da árvore- ela era alta, cabelos claros em um tom prateado, olhos escuros e puxados, cintura de dar inveja, sua expressão era sempre a mesma rosto cansado ou entediado. Uma mulher estonteante por fora, sua beleza era de dar inveja.
Se sua vida for baseada apenas em aparências pode considera-la um grande delírio de beldade e perfeição. Mas nem tudo é o que parece.

Ela nunca mostrou qualquer tipo de afeição por mim, muito pelo contrário, sempre me tratava com desdém e desprezo. Mas na maioria das vezes era mais "tranquilo" lidar com esse fato, já que não via sua face medonha perto de mim, porque ficava trancafiado em um porão no fundo da casa de meus pais. Eu já não me importava com a fome nem nos mofos das paredes umidas, ou nas teias de aranhas espalhadas por todo canto e na poeira que penetrava o ar. Aquilo não era tão importante, não mesmo, nunca precisei da atenção de nenhum deles.

Ela me trancava lá, quase nunca eu saia... Esperando o bom grado de alguém me trazer um simples prato de comida que era tudo menos comestível, parecia mais ração de cachorro, e um copo d'água. Passar tanto tempo trancafiado me fez sentir um certo conforto em ficar alí, recluso de tudo e de todos, somente eu e a minha imaginação.

Só que tem um porém.

Quando o Sr. Jung,- vulgo meu pai- sai de casa para trabalhar depois de passar a noite inteira discutindo com aquela mulher por alguma coisa que era inaudível de onde eu estava, e ela ficava só em casa entediada e enfurecida por não ter em quem descontar seu tédio, ela me fazia uma visitinha,- queria que tropeçasse naqueles vestidos de luxo que ela usa e caísse daquela longa escadaria que levava ao meu cárcere, e quebrasse o maldito pescoço.- Infelizmente meus deleites fantasiosos em vê-la jorrando sangue sempre eram interrompidos com o ranger da porta de metal do porão se abrindo. Era sempre a mesma rotina, ela entrava com maxilar trincado, abria um sorriso macabro, puxava-me pelo braço e me amarrava em uma cadeira que sempre ficava alí no canto mofado daquele lugar. Sempre tinha consigo um objeto cortante, este que ela usava para aliviar seu estresse pós briga em mim.

Eu já tentei fugir, tentei de tantas formas... Mas nada adiantava, eu estava sempre fraco pela falta de alimento. Sem mais delongas ela tirava o objeto do bolso, ora era uma faca, outra um canivete, outra pedaço de vidro, a lista era longa. E descascava a pele de meus braços, deixando em carne viva, e depois repetia para mim:

"-Me fale Jeon Jungkook, você sabe o porque de eu estar fazendo isso não é? RESPONDA!"

"-Sim, eu sei mã--" mas era interrompido antes de pronunciar aquela palavra que eu tanto odiava por mais um corte, e por mais um gemido de dor.

Era uma adaga dessa vez, o cabo era branco com detalhes esculpidos em ouro, e sua lâmina era muito muito afiada, comparada a com que ela trouxe mês passado,- parece que sua coleção de brinquedinhos haviam crescido.- Ela lentamente deslizou-a sob meu braço que estavam amarrados, fazendo uma trilha de sangue se formar no mesmo até a ponta de meus dedos, e por fim pingar no chão. A dor era enlouquecedora, uma tortura sem fim. Aquela mulher tinha uma expressão prazerosa estampada na face em puro êxtase, e em seguida jogava sal em cima da minha pele em carne viva para cicatrizar o mais rápido possível, para a próxima seção de tortura.

QUARTO DO PÂNICO.Where stories live. Discover now