- Kobayashi -

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Eu nunca quis estar ali, eu não tive escolha, eu já até tentei fugir algumas vezes, mas eles sempre me encontraram, me puxavam para o inferno sem eu ter feito nenhum pecado.

Mãe, pai, parentes? Isso é coisa de mulherzinha.

Tá aí uma coisa que eu já ouvi bastante, eu não lembro muito da minha infância, acho que é porque ela foi monótona, mas do que eu mais lembro é disso:

Sons feitos por cordas vocais das gargantas dos pequenos demônios que me cercavam naquele orfanato, esses sons formavam o que pra eles eram palavras, mas que pra mim eram facadas.

Mas se sons eram facadas, palavras eram os pontos que curavam os cortes aos poucos, em uma quantidade de folhas organizadas chamada livros, o lugar que eu mais gostava de ficar no orfanato era a biblioteca.

Sou apaixonado por leitura, pois lá às pessoas são mais interessantes, vivem aventuras e não me xingam, e acho que a minha vida naquele lugar era coisa de livro mesmo.

Em um dia chuvoso, batidas que saem da porta ecoam sobre o orfanato, a cozinheira abre despretensiosa e com dúvidas após não encontar ninguém, dúvidas respondidas após ouvir meu choro, mal cheguei no local e já estava triste.

Na cesta além de mim e do cobertor só havia um pedaço de papel escrito:

Dê uma boa família ao Kobayashi.

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- O quê? Dois irmãos? - Digo incrédulo com a noticia que meu pai acabara de me dar.

- Olha filho vai ser melhor pra você e pra gente também que quer muito ajudar esses garotos! - Diz minha mãe me explicando com calma.

- É que eu... Não tava esperando isso de vocês, eu sei que posso ser um pouco antisocial e não ter muitos amigos, mas do nada me dar dois irmãos? - Digo me sentando no sofá.

- Não é só por isso filho, você sabe que sua mãe não pode mais engravidar e a gente sempre quis lhe dar irmãos mas...

- Porque querem adotar o de Desseseis Anos? - Digo interrompendo meu pai.

- Pra fazer companhia a você, e quando nós vimos ele no orfanato ele tinha um olhar triste, ninguém irá querer adota-lo, mas eu acho que ele tem que saber o que é ter uma família... - Diz ela segurando as lágrimas.

- Mas ele tem que aprender com a nossa família? - Digo saindo da sala e indo pro meu quarto acabando com aquela conversa ali.

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- Charles Você não precisa levar todos esses livros! - Digo ajudando ele a arrumar suas malas.

- Mas eu quero muito ler esses livros, você mesmo me disse que leitura vicia mas lhe faz bem, e eu estou viciado! - Diz ele me fazendo gargalhar.

- Tá bom, leva esses cinco e só, esses você deixa, depois você pode pedir para os nossos pais comprarem mais se quiser...

- Eu não quero incomodar eles, eu mal cheguei lá e já vou pedir coisas? - Diz ele cabisbaixo.

- Olha eu sei que está nervoso, e eu tô como você, ansioso mas com medo de algo acontecer... - Digo o abraçando.

- Mas você já foi e voltou tantas vezes, eu não quero ficar lá sem você...

- Eu vou tentar ser um pouco mais educado de início mas eu não posso fingir ser o que não sou...

- Eu não pedi isso pra você... - Diz ele me fazendo rir outra vez.

Pleasures | Romances Gays [+18]Where stories live. Discover now