Capítulo 13

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Há alguns anos atrás, quando Ibrahim finalmente foi coroado, Apollo deu lugar a um sentimento sombrio, não estava em seus planos a vontade ou altruísmo de dividir o trono com alguém. Sim, aquela era a antiga e sagrada tradição de Dantel, dois reis, duas famílias, os descendentes daqueles que libertaram o lugar, mas para Apollo, o descendente de Saulo, era simplesmente inconcebível que o poder ficasse dividido. Todos os outros reinos em volta tinham apenas um governante, então por que Dantel tinha que ser diferente?

Apollo queria o poder e o controle absoluto para si, por isso, tomou algumas providências. Ele notou que a cicatriz de batalha de Ibrahim funcionou em seu favor, a marca da ferida geralmente espantava as pretendentes, o que garantia que o rei da família de Ícaro continuaria sem herdeiros. Era a oportunidade perfeita para acabar com sua linhagem. A Armada de Saulo era sua maior aliada, um grupo de espiões leais a Apollo garantia que o restante do reino continuasse pensando que a linhagem de Ícaro tinha parado em Listeu, o pai de Ibrahim, fosse com notícias falsas espalhadas aos quatro ventos, ou fosse com magia. ))))

Nas saídas da região central, sempre havia um espião da Armada, lançando feitiços que simplesmente faziam as pessoas esquecerem do rei Ibrahim, e só se lembrarem dele quando retornassem. Infelizmente, tal feitiço traria suspeitas demais se fosse aplicado no próprio rei da família de Ìcaro e dos seus empregados mais próximos, por isso tal o artifício nunca atingiu Lia ou Ibrahim.

A questão dos bandidos na região leste certamente tinha sido uma armadilha, um plano do rei Apollo para tirar seu rival de seu posto principal e levá-lo à morte certa sendo atacado no meio da estrada. 

Mesmo sem notícias concretas, estava certo de que seus planos não falhariam, Ibrahim já estava ausente há dois meses. Apollo sabia que se fizesse uma grande exibição dramática, convenceria a toda população que o outro rei estava realmente morto.

No entanto, ali estava o jovem, certamente com muitas dúvidas em sua mente, algo com que Apollo poderia jogar e manipulá-lo outra vez.

-Me diga o que está acontecendo, agora - exigiu Ibrahim, sem mais medo ou cautela, percebendo que precisava ser direto.

-O que exatamente precisa saber, meu caro? - contrapôs Apollo - você acabou de chegar de viagem, talvez esteja vendo coisas pelo cansaço e precise descansar.

-Eu não preciso de descanso, eu preciso de respostas - rebateu Ibrahim -toda a região está em luto, então me diga, quem faleceu?

-Nós achávamos que estava morto - o príncipe Adrian deu um passo à frente, tomando coragem para interromper a conversa dos dois reis - meu pai garantiu que sua missão tinha falhado, que bandidos o interceptaram na estrada e sua majestade não resistiu.

-Eu quase morri sim, mas como estão vendo, eu estou vivo - Ibrahim respondeu - digam à esta e todas as outras regiões que o rei da família de Ícaro existe e está vivo.

-O que quer dizer com ''existe''? - Minerva ficou em dúvida.

-Eu fiz uma descoberta muito interessante sobre mim durante a viagem - Ibrahim disse de forma condescendente - o resto do meu reino não sabe que eu existo, consideram que a linhagem de Ícaro acabou no meu pai, e agora, por coincidência, encontro meu próprio funeral. O que sabe sobre isso, Apollo?

-Eu? O que te faz pensar que eu saiba algo quanto a isso? Nunca ouvi falar de nada assim - Apollo fez seu melhor para disfarçar e mentir - eu não tenho controle sobre as notícias que percorrem o restante do reino.

-Isso não vai ficar assim, se você não sabe, vou encontrar quem saiba - jurou o rei mais jovem, prestes a dar as costas ao mais velho, mas se empertigou com o reflexo que teve, Apollo veio correndo atrás dele, prestes a acertar seu pescoço com a lâmina da espada.

Ibrahim se esquivou, se abaixando rapidamente, só se erguendo de novo quando já estava com sua espada em posse, passando a bloquear com toda força os golpes furiosos de Apollo.

-O que eu te fiz? Por que me deseja morto? - indagou o rei mais jovem quando conseguiu bloquear o mais velho.

-Sua família não deveria herdar trono nenhum - Apolo cuspiu de volta - Saulo deveria triunfar sobre Ícaro.

-Tudo isso foi plano seu - Ibrahim respondeu, se esquivando de outro golpe - você fingiu minha morte... Acredito que... de alguma forma, você me apagou da história do restante do reino...

-Descobriu isso na sua viagem, não foi? Parece que foi só para isso que ela serviu - Apollo começou a rir, o que era muito desconexo para seu oponente - deveriam me entregar sua cabeça, mas se for pelas minhas mãos que a linhagem de Ícaro tem que acabar, que seja!

Antes que outro golpe fosse desferido contra Ibrahim, Adrian gritou por seu pai.

-Não precisa fazer isso, pai! - exclamou o jovem príncipe, se aproximando com cuidado do confronto.

-Não se intrometa, Adrian, não sabe com o que está lidando - Apolo vociferou de volta, extremamente incomodado pela interrupção - acha mesmo justo que tenhamos que dividir o trono com ele? Um desfigurado que não foi capaz de manter a própria linhagem, fraco, tolo, de coração mole, a quem eu enganei durante muito tempo?

-Então confessa que me manipulou por muito tempo - Ibrahim constatou, desapontado.

-Eu cresci aprendendo as velhas tradições e foram elas que se tornaram a bússola principal do meu coração - Adrian falou com mais firmeza - dividir o trono entre dois clãs sempre foi nossa tradição mais sagrada, e o senhor meu pai, a desonra no dia de hoje.

-Não sou o primeiro a fazer isso, a história nos conta de outros reis da nossa família e é claro, da família dele que agiram da mesma forma, querendo o trono para si - Apolo devolveu, tentando sustentar o próprio argumento.

-Mas nós temos a oportunidade de agir diferente, então por que não agimos? - Adrian interpôs outra vez - todo esse tempo as duas famílias dividiram o reino, é algo tão mais prazeroso, fácil e justo para se compartilhar um direito que foi conquistado pelos dois lados.

-Minha paciência com você está acabando, Adrian, saia da minha frente! - ordenou o rei da família de Saulo para o príncipe.

-Vai mesmo me matar? Eu não vou me entregar sem uma luta justa - Ibrahim desistiu de argumentar e decidiu se defender.

Apollo não disse mais nada e apenas deferiu golpes contra Ibrahim, que fez seu melhor para se defender. Vendo que teria que tomar uma atitude brusca, Adrian se aproximou por trás do pai, lhe desferindo um golpe certeiro na base do pescoço que o fez desmaiar instantaneamente. Com um dos reis imobilizados, eles conseguiriam pensar melhor  no que fazer.


Majestade DivididaWhere stories live. Discover now