Capítulo 9

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Quando Lia olhou de volta ao seu redor, procurando alguma solução, viu ao longe uma figura indubitavelmente humana. A moça caminhava a passos calmos, com um vaso equilibrado sobre a cabeça, ainda contando com o apoio de uma das suas mãos. Lia não tinha ideia do que a moça procurava ali, já que ela mesma não tinha visto uma gota de água por perto. No entanto, aquela moça, uma estranha aparente, poderia ser de ajuda.

Mesmo antes de Lia dizer alguma coisa, a moça a viu, indo diretamente falar com ela. A menina não se moveu, ficou esperando que a outra se aproximasse mais.

-Será que eu posso ajudá-la, mocinha? - disse a moradora local, vendo a aflição no rosto da mais nova.

-Sim, por favor, eu preciso muito de ajuda, o re... - ela se interrompeu, vendo que não era sábio nem seguro dizer a verdadeira identidade de Ibrahim a quem não a conhecia - meu amigo sofreu um acidente, estávamos fugindo de bandidos na estrada, ele caiu do cavalo e bateu com a cabeça.

-Certo, eu posso levá-lo pra casa, se você me ajudar a carregá-lo - a moça se ofereceu imediatamente.

Se aproximando mais de Ibrahim, viu seu estado lamentável, era como se ele estivesse delirando, ainda murmurando alguma coisa.

A moça que era maior e mais velha que Lia ficou encarregada de proteger a cabeça de Ibrahim. Ela o segurou por baixo dos braços dele, de maneira que a cabeça do desacordado ficou batendo em seu peito. Lia por sua vez, aninhou as pernas de seu rei. Elas tentaram distribuir o peso, sendo o mais rápidas possível, mas com o cuidado de não agravar o estado de Ibrahim ainda mais.

-É por aqui, é só me seguir - a moça abriu a porta, instruindo Lia, que entrou na casa ainda segurando Ibrahim.

As duas o deitaram numa cama, e ele voltou a murmurar assim que foi colocado ali. Com certa urgência, a moça que havia ajudado Lia se pôs a ver o que poderia fazer pelo estado dele. Percebeu que o topo da cabeça dele estava inchado, por isso, correu para preparar compressas de água fria, aliviando a dor dele.

Ela se ajoelhou e segurou os panos contra a cabeça dele, esperando que em breve ele pudesse melhorar.

-Nós temos que ser pacientes agora, eu fiz o que podia fazer - disse a moça a Lia.

-Não tem nenhum médico por perto? - Lia queria mais garantias.

-Infelizmente não, mas eu tenho alguma habilidade de cuidar de doentes - respondeu a moça.

-Bem, obrigada por tudo que fez - Lia reconheceu os esforços dela com gratidão - desculpe, não sei seu nome.

-Yasmim, e você? - Yasmim se apresentou.

-Lia - disse a menina que vinha da região central de Dantel.

-Escuta, Lia, eu posso tentar conseguir um médico pra ver seu amigo, quando ele estiver melhor - sugeriu Yasmim - mas pelo estado que ele está agora, não podemos deixar de observá-lo.

-Está bem - concordou a menina.

Enquanto Ibrahim recuperava as energias, ainda em repouso, e tendo os cuidados e atenção de Yasmim presentes sobre si, o rapaz pareceu relaxar mais. Aos poucos, o inchaço da sua cabeça foi passando e, mesmo não estando completamente recuperado, começou a recobrar os sentidos.

Seus olhos tremeram, querendo se abrir por completo, mas a luz do local machucou levemente sua visão. Ele tentou reconhecer onde estava, mas viu que não era nenhum lugar familiar. Parecia uma casa de madeira, com o teto feito de palha, com as vigas de madeira o sustentando. 

-Onde eu estou? - só lhe restou perguntar para descobrir o que queria, sua voz ainda estava fraca e baixa.

-Por favor, tente não se esforçar - Yasmim se apressou a atendê-lo - sei que deve estar confuso e ter um monte de perguntas, mas eu vou dizer algumas das coisas que deve estar querendo saber, você está no vilarejo de Carmel, na estrada que vai para o leste de Dantel, meu nome é Yasmim, estou cuidando de você desde que Lia pediu minha ajuda, ela disse que vocês foram assaltados.

-Sim... - murmurou Ibrahim, concordando com tudo.

-Então, é melhor que fique de repouso até se recuperar - ela continuou - por mais que tivesse urgência na sua viagem, seja lá o que for que precisa da sua atenção, isso terá que esperar.

-Está bem - respondeu ele, compreendendo a gravidade da situação.

Apesar de fraco e cansado, a preocupação não o deixou por completo, ele tinha uma missão a terminar, pessoas estavam contando com ele e precisavam de sua ajuda. Mas ele também não era nenhum tolo, teria que estar forte e recuperado se quisesse investigar o grupo de ladrões que tinha roubado as plantações no leste do reino.

Lia o observou de perto, desejando que seu rei melhorasse logo. Na concepção da menina, ele não deveria estar ali, ele era o rei da família de Ícaro e merecia o melhor atendimento que pudesse ter, no entanto, estava grata pela bondade e hospitalidade de Yasmim.

A jovem que morava ali tinha outros afazeres também, se ocupando de cuidar da casa e fazer compras quando necessário, além de cuidar das suas plantações, mas nunca deixava de estar atenta ao estado de Ibrahim. Graças aos seus cuidados, ele finalmente começou a recobrar os sentidos. Se lembrava do ataque na estrada e de ficar ali naquele mesmo local repousando.

Numa manhã, quando Yasmim veio verificar seu estado novamente, ele conseguiu falar com ela.

-Muito obrigado por tudo que fez - ele agradeceu, ainda deitado.

-Oh... que bom, que bom que está bem e que consegue falar - Yasmim ficou espantada com o que ele fez.

Mesmo assim, ela lhe deu um tempo para que se recuperasse quietamente, sem esforços bruscos ou seu olhar atento esperando que ele se levantasse de uma vez. Ibrahim entendeu que deveria descansar mais um pouco. Fechou os olhos e adormeceu.


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