Capítulo 3

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Depois que as questões mais burocráticas do reino estavam resolvidas, Ibrahim decidiu cavalgar um pouco. Era um costume cavalgar pelo reino, olhar de perto como estava seu povo e como tudo estava indo, porém de um jeito muito discreto. Cobria-se com uma capa e não costumava falar muito com ninguém, apenas com quem o respondesse. Sabia que era um rei e não queria chamar atenção demais.

Os planos de Ibrahim para o restante do dia estavam feitos em sua mente, mas ele não contava com um contratempo. Nos estábulos, todos os funcionários que cuidavam do local estavam presentes, exceto um, o cavalariço pessoal do rei da família de Ícaro.

-Senhores - ele se referiu a todos, que se curvaram imediatamente em referência, murmurando "majestade" - sabem onde posso encontrar Ivan?

-Ele não apareceu por aqui, senhor, e não ouvimos dele desde então - um dos funcionários informou.

-Certo, um de vocês pode preparar Sábio para mim, retornarei em breve - ele deixou a missão aos seus servos e tratou de saber onde estava Ivan.

Ao mesmo tempo, um mensageiro chegava ao palácio, procurando justamente o rei Ibrahim. Ele recebeu o viajante numa audiência rápida, o despedindo logo em seguida e ficando com a carta. Era justamente de Ivan, explicando sua ausência.

Uma tia do cavalariço estava doente, sem ter mais nenhum parente para ampará-la além dele. Ele explicava na carta que teve que sair às pressas e se desculpava por não poder ter avisado o rei pessoalmente.

A princípio, Ibrahim ficou aliviado por ter satisfações, mas agora isso significava que ele teria mais uma tarefa pela frente, encontrar um novo cavalariço pessoal, o que não era uma tarefa nada fácil. Era necessário encontrar alguém de sua completa confiança.

O rei enviou outro mensageiro, espalhando a notícia de que ele estava à procura de um novo cavalariço e escudeiro.

O anúncio chamou a atenção de uma pequena danteliana chamada Lia imediatamente, e mesmo tendo certeza de que sua família não aprovaria ela tentar conseguir a vaga, ela decidiu fazer isso mesmo assim. A família de Lia vinha passando por situações difíceis há um longo tempo, com dificuldade de manter o sustento e as finanças da casa em dia. A menina de 12 anos fazia o que podia para ajudar, limpava restaurantes, varria calçadas, costurava e lavava roupas, mas tudo isso era tedioso para ela.

Além de poder servir o rei pessoalmente, o que por si só era uma grande honra, Lia teria um trabalho que gostava, andar de cavalo e cuidar dos animais, e seria muito bem paga para isso, já que se tornaria uma funcionária do palácio.

Assim, ela tentou a sorte, escondendo o segredo da família por enquanto.

Havia um homem bem apessoado na entrada do palácio, estava vestido distintamente, mas não usava o mesmo uniforme dos guardas, estava ali exercendo outra função que não era a mesma deles. Sentava-se numa mesinha, anotando nomes e falando com as pessoas de um longa fila. Lia se assustou um pouco com o tanto de gente à sua frente, não esperava ter que esperar tanto para falar com o funcionário, mas se já tinha chegado até ali, ficaria lá mesmo assim.

Depois de um tempo, finalmente sua vez chegou, embora tanto Lia como o funcionário tivessem sido decepções um ao outro. O homem julgou a aparência e a idade da menina e ela por sua vez, não gostou de ser recebida daquele jeito.

-Eu vim ter uma audiência com o rei Ibrahim! - ela demandou, tentando conseguir algum respeito do funcionário.

-Você? Tem certeza disso, senhorita? O que o rei Ibrahim teria para tratar com você? - questionou o funcionário, desconfiado.

-Eu vim por causa do anúncio, o rei precisa de um novo cavalariço e eu vim me candidatar - explicou Lia com mais calma.

-Ah então é disso que se trata? Sugiro que tenha mais educação lá dentro, mocinha - o funcionário retrucou - procure o mordomo do rei e não me faça perder mais tempo.

-Obrigada, senhor - ela disse e se apressou a entrar.

No início, Lia se sentiu um pouco perdida, o lugar era enorme e limpo, com corredores por todos os lados, portas preenchendo as paredes e no meio daquilo tudo, ela não sabia exatamente para onde ir.

Decidiu tentar a sorte, batendo em cada porta, mas sem ter resposta de ninguém. Até que por acaso, um outro funcionário encontrou a menina perambulando por ali, se perguntando o que é que alguém como ela estava fazendo ali.

-Eu posso ajudá-la em algo, senhorita? - Ivan tentou não ser muito duro com ela, apesar da aparência desleixada, ela não tinha jeito de trombadinha.

-Hã, sim, senhor - Lia tentou disfarçar sua reação esbaforida - eu vim me candidatar como cavalariça do rei.

-Você está certa disso, senhorita? Não acho um trabalho muito adequado para uma jovem como você - o mordomo foi sincero.

-Ei, eu sei como tratar de cavalos e preparar uma sela muito bem - insistiu ela - só me deixe mostrar ao rei minhas habilidades, pra que ele mesmo julgue.

A coragem da menina convenceu Ivan.

-Venha, vou te mostrar os estábulos - ele resolveu e Lia o seguiu alegremente.

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