Capítulo 14

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Apesar de ainda estar bem perplexo, Adrian respirou fundo e tentou decidir o que fazer. Mesmo naquela situação completamente adversa, não esqueceu de suas responsabilidades e ações como príncipe. Sabia que, quando um rei não estava disponível, devia obediência ao outro.

-Quais são suas ordens, majestade? - se virou para Ibrahim em busca de respostas.

-Para minha própria segurança, acho melhor manter Apollo em cativeiro, eu sinto muitíssimo por isso - lamentou o rei, mas tomando a decisão que cabia no momento.

Os guardas ficaram muito confusos em obedecer a ordem, mas assim fizeram. Levaram um Apollo desacordado até uma cela das masmorras.

Aquele local era destinado apenas aos piores malfeitores e ladrões, os da pior estirpe em todo o reino de Dantel, e agora, um dos seus reis, que tinha cometido o pior dos crimes até então, se encontrava ali. Com Apollo ainda desacordado, Adrian e Ibrahim ainda tentavam chegar a um consenso sobre o que fazer a seguir.

-Majestade, lamentamos o que ocorreu, nunca imaginei que meu pai poderia tramar algo assim, e juro pela minha vida e pela vida da minha mãe que não tínhamos ideia do que ele estava pensando - Adrian disse com todo respeito.

-Eu verdadeiramente acredito nisso, e estou disposto a lhes dar um voto de confiança quanto a essa questão, mas por favor, não a desperdicem - a voz de Ibrahim era calma, mas sua decisão estava bem clara, ele seria severo caso necessário.

-Se me permite perguntar, o que pretende fazer agora? - Minerva ousou falar alguma coisa naquele momento, estando calada até agora.

-Convocarei o conselho e o júri, Apollo será julgado por seus crimes, e vocês dois são as testemunhas oculares disso, serão a chave do julgamento - respondeu o rei - entendo que ele é seu parente, mas por favor, não só pelo meu bem, mas pelo bem do reino, de toda Dantel, digam a verdade.

Adrian e Minerva assentiram, realmente assustados com o que tinha acontecido. Sem mais perder tempo, se arrumando rapidamente, Ibrahim convocou o conselho e o júri, esclarecendo tudo que tinha acontecido.

-Na minha última missão que me manteve fora durante um bom tempo, fiz uma descoberta interessantíssima - ele disse com toda autoridade que possuía - nosso povo, meus súditos, fora da região central foram magicamente enganados, acharam que eu estava morto, que meu pai já não tinha mais nenhum herdeiro, e só a família do rei Saulo tinha sobrevivido, pois bem, me apagaram do meu próprio governo, do meu direito de nascença e de que meus súditos soubessem da minha existência, o criminoso que arquitetou tudo isso foi o próprio rei Apollo e a família dele é testemunha disso.

Ao declarar tais palavras, o rei da família de Ícaro chamou toda atenção dos presentes para si. Tamanha revelação foi recebida com grande choque e descrença. Era inadmissível que um dos reis das duas famílias reinantes se virasse contra uma lei tão sagrada.

-Tragam o traidor - Ibrahim comandou, com certa frieza completamente atípica em sua voz.

Apollo então foi trazido para o julgamento, acorrentado e de aparência física abatida. Tinha chegado aos ouvidos do rei Ibrahim que ele estava recusando comida. Certamente, se tivesse que morrer, não queria que fosse pelas mãos de quem enxergava como seu inimigo.

-Apollo, 31° rei da família do rei Saulo, o primeiro de sua dinastia, fundador do reino de Dantel, você é trazido perante todos nós no dia de hoje para ser julgado por seus crimes de traição, transpassar a lei das duas famílias reinantes, e tentar matar o rei da família de Ícaro - disse Ibrahim, distribuindo as acusações - então, Apollo, o que tem a dizer em sua defesa, seguindo os direitos que lhe cabem?

-Talvez nada do que eu diga sirva para a minha defesa, Ibrahim - respondeu o rei deposto - mas quero usar esse espaço para deixar claro meus ideais, e como eu nunca concordei com a lei de regência de duas famílias, por que os grandes descendentes de Saulo, deveriam compartilhar o trono com os descendentes de Ícaro? Eu me lembro do seu pai, eu era só um menino quando ele assumiu o trono, era um homem imponente, firme nas palavras, haveria futuro na descendência dele, se não você por você, fraco, tolo, indeciso, sem nenhum tipo de pulso firme. Eu não tinha que dividir o poder que minha família merecia com o membro defeituoso da outra família real, então decidi que era melhor ocultá-lo, antes que conseguisse te depor.

-Seus planos fracassaram, como pode ver, eu descobri e expus sua farsa até o presente momento, diante de todos - Ibrahim retomou - então, não nega que usou de magia para me ocultar das mentes e percepções do restante do reino, fora a região central?

-Não, não nego, eu realmente o fiz - Apollo declarou, sem arrependimento de seus atos.

-Se não há dúvida de seus atos criminosos, eu o condeno há 18 anos de prisão e depois exílio permanente para as terras do oeste = sem mais pensar ou ponderar sobre o assunto, Ibrahim tomou sua decisão - há alguém do júri que se manifesta contra minha decisão e quer tomar a defesa de Apollo sobre si?

Diante da autoridade do único rei vigente no momento e da prova inquestionável da confissão, o júri apenas concordou com a decisão.

-Que a sentença seja cumprida imediatamente - Ibrahim deu sua última ordem no julgamento.

Guardas levaram Apollo de volta ao seu cárcere, que agora duraria muito mais tempo. O rei deposto tinha uma série de insultos e desejos vingativos para despejar contra Ibrahim, mas escolheu apenas sorrir, de modo bastante irônico pela situação em que estava no momento. Era como se prometesse silenciosamente que ainda faria o que pudesse para que a família de Ícaro caísse.

Quanto a Ibrahim, se manteve firme, sem deixar transparecer a dor que sentiu por ouvir os insultos contra ele. Agora, seria o rei que tinha sido criado para ser e que seu povo precisava.

Majestade DivididaWhere stories live. Discover now