Dia 7 - A perda

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Hoje, dia 25/05/21,  a minha vó se foi pela COVID-19.

 É muito estranho o fato de que eu comecei a escrever esse livro por causa da pandemia, um livro para me motivar em meio a tantas perdas, mas até então eu não tinha vivido a perda de uma pessoa tão próxima por esse vírus. Hoje, eu realmente sei qual é a sensação.

A minha avó ela desempenhou um grande papel na minha história e se não fosse por ela, eu não seria nem metade do que sou hoje. Fico feliz, porque eu sempre dizia isso para ela e a agradecia, graças a Deus eu tive tempo para isso... Quando eu era criança, foi ela quem começou a me levar à Igreja, foi ela quem me mostrou o imensurável amor de Deus. Sou muito grata por ter tido ela como avó. 

Até os meus 11 anos, eu vivi em uma casa nos fundos da dela. Éramos muito próximas. Ela me fazia mingau pelas tardes, assistia desenho animado comigo, lia a bíblia comigo, e me distraia enquanto os meus pais trabalhavam. Quando eu e a minha família nos mudamos, o meu relacionamento com a minha avó se manteve. Ela sempre me recebeu com o mesmo sorriso no rosto e com o carinho de sempre. Na pandemia, o nosso contato infelizmente diminuiu, mas eu tive ótimos momentos com ela no telefone, em que ela me contava 1001 histórias juntas. As vezes o que ela contava não fazia muito nexo, mas isso não importava porque eu estava com ela.

Em nossa última ligação, eu senti no fundo que seria a última. Ela nem estava doente nem nada, mas sabe, eu senti. Eu escutei ela com muita atenção, porque veio em minha mente o pensamento de que eu não a teria para sempre. Deus só havia me emprestado ela por um tempo determinado...

Ela foi uma mulher inspiradora. Não titubeava em se ajoelhar e orar por cada filho, neto e bisneto. Lógico que tinha suas falhas, mas o seu carinho por aqueles que amava, tornava impossível não retribuir o seu amor.


Não tem sido fácil acreditar nisso tudo, ainda mais sabendo que Deus pode levar o meu pai em breve também. O meu pai, para quem não sabe, continua na UTI. Está usando 60L de oxigênio e tudo tem sido muito aterrorizante. Não quero perder o meu pai. Quero que ele esteja aqui comigo, na minha formatura, no dia do meu casamento, no dia do nascimento dos meus filhos e em tantas outras conquistas... Quero que ele esteja comigo para me dar colo nos dias tristes, para me ajudar em oração, para fazer piada e me fazer sorrir, como ele sempre faz. Quero que ele simplesmente esteja aqui.

Não sei como vai ser, e a cada dia mais, sinto que Deus pode levá-lo e eu oro e oro, pedindo para que Deus não faça isso, para que Ele atenda o desejo do meu coração, e deixe o meu pai aqui comigo por um booom tempo. Digo que já bastava a minha avó ter ido descansar... Será que uma pessoa não é o suficiente? Penso nas milhares de famílias destruídas por esse vírus e entendo que estou sendo egoísta... tem tanta gente vivenciando perdas piores e maiores... Peço perdão, por só pensar em mim e nos meus desejos, na minha família, no meu pai, na minha avó, enfim, no meu mundinho.

Repito, não sei como vai ser, mas quero permanecer junto de Deus. Não quero me distanciar dEle,  e sei que a carne é fraca, e nesses momentos o que a pessoa mais pensa é em jogar tudo para o alto. Para que se preocupar com a fé? Para que insistir em alguém que não se pode ver? Para quê? Para quê?

Balanço a cabeça, respiro fundo e conto até três. Lembro-me de que não sou desse mundo, lembro-me de que os problemas vão e vem. Lembro-me de que sou filha amada e de que tenho um pai que planeja todos os detalhes para que eu possa sofrer o menos possível.

Espero voltar com um bom testemunho aqui, para o dia 8 (8° devocional que eu postarei aqui), o da alta do meu pai. Espero voltar com boas notícias, mas sei no fundo que eu não tenho esse poder de escolha. Afinal,  eu não sou a autora da minha própria história, pois entreguei a caneta para Deus há muito tempo atrás.

Deixo aqui uma música que tem servido como amparo para mim nesses dias difíceis:



Um dia de cada vez

Vou contar de 1 até 3

Vou respirar bem fundo

Lembrando que eu nem sou desse mundo


Os problemas vão e vem

Não é culpa de ninguém

Vivo ainda nesse mundo

Mas enquanto isso mergulho mais fundo


No sonho de então te ver

A espera do amanhecer

Eu vou respirar bem fundo

Você já conhece tudo


E o sonho de não mais ter

Que sofrer pra aprender

Meu passado e meu futuro

Você já conhece tudo


- João Figueiredo, de 1 até 3


Sempre foi sobre nós - uma coletânea de devocionaisWhere stories live. Discover now