Capítulo 55

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Não faças do amanhã
o sinônimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olhes para trás...
mas vá em frente
pois há muitos que precisam
que chegues para poderem seguir-te.

-Charles Chaplin

 

 

Não importa o que tenha acontecido, o mundo não vai parar por suas dores. Não importa o quanto você chore, grite e entregue os pontos; nunca irão acreditar em você. E você se limita apenas a uma consciência tentando fazer a coisa mais difícil do universo: Viver. Você chega à Terra sem ter ao menos pedido para nascer, e morre quando já estava finalmente gostando desse mundo em que te colocaram. Mas a verdade é uma só, nada disso vai importar quando a dor chegar, nenhum grito seu será ouvido, nenhum clamor trará uma mão amiga para te afagar, e você, vai pouco a pouco, aprendendo que dessa vida você não tem ninguém. Você nasce sozinho, você vive com pessoas que você achava que estavam com você, mas na verdade não estavam, por fim você morre, sozinho também, sem ao menos ter aprendido ao certo como é que se vive.

Há algum tempo eu pensei que tivesse me lembrado do Eduardo, mas na verdade eu não sei se estou certa. Tudo o que parece me restar é a sensação da maciez da sua pele, uma das várias vezes que ele me olhou com aquela ternura apaixonada e me tocou com toda a delicadeza que existe, lembro um pouco da cor dourada de sua pele e do brilho dos seus cabelos.

-Bom dia, querida- mamãe entrou rápida em meu quarto, com um moletom estampado com o rosto de um gato branco. Ela estava com uma cara de interrogação- Tem um senhor ai na porta, ele disse que se chama Sebastião e é amigo seu e do Eduar...- ela pareceu se lembrar de que esse nome fora meio proibido- Bom, você o conhece?

-Sim- respondi prontamente

Fazia algumas semanas que minha voz tinha voltado e meus movimentos estavam melhores, mas como sempre, sabia que não deveria nutrir esperanças já que todos não se cansam de lembrar-me o quanto meu quadro é inconstante.

Não demorou muito para que um senhor de olhos bondosos entrasse no meu quarto.

-Selene! Que saudades!

O meu sorriso se alargou mais ainda ao ouvir sua voz, e tudo o que eu queria é abraça-lo.

Ele se aproximou e me deu um forte abraço.

-As flores ficaram bem tristes desde que você se foi. Mesmo com o Eduardo aparecendo sempre lá para me ajudar com as rosas, elas acabaram sentindo sua falta.

E nesse momento ele revelou algo que estava escondendo atrás de si.

-Tcharans!- E me entregou um buquê enorme das minhas flores azuis.

-Obrigada, elas estão lindas...

-Você está falando? Na ultima vez que vi seu namorado ele me disse que você estava bem pior do que agora. E sim, sua mãe já me disse que você não se lembra muito bem do Eduardo.

Vendo que eu nada respondi, ele continuou.

-Minha pobre criança, lamento muito o que houve com ele.

Eu realmente adoro o ouvir falar.

-Deve estar se perguntando porquê eu não apareci aqui antes, bom, talvez você já saiba. Mas talvez não se lembre. Minha esposa a Elisabete morreu neste hospital e eu não gosto das recordações desse dia.

Sua face estava meio abatida e seu rosto estava branco.

-O senhor está bem?-perguntei

-Sim, só me ajude a pensar em outra coisa, a esquecer que estou aqui.

Meu Presente é a LuaWhere stories live. Discover now