Capítulo 16

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Pensamos demasiadamente

Sentimos muito pouco

 Necessitamos mais de humildade

 Que de máquinas.

Mais de bondade e ternura

 Que de inteligência.

Sem isso,

A vida se tornará violenta e

Tudo se perderá.

-Charles Chaplin

Sem duvida alguma eu deveria ter me sentido diferente ao longo desses dois meses praticamente, afinal eu havia passado muito tempo sozinho, e essa solidão estava impressa em cada parede cinza da minha vida, essas paredes me consumiam como se faltasse o ar e todo o meu mundo se resumia em refletir sobre meus relacionamentos passados e errados e afundar a cabeça em livros dia após dia. Enfim eu tinha conhecido alguém, alguém que desde o começo e mesmo não querendo confessar a mim mesmo eu tinha me apaixonado. Desde a primeira vez em que a vi me custou a acreditar que ela realmente era real, como um quebra-cabeça se juntando novamente, isso me fez pedir a Deus que, se ele realmente não havia se esquecido de mim que me deixasse dar certo com ela, e pela primeira vez eu pedi para que eu não estivesse errado como das outras vezes. Ao fim acabei por fazendo aquela coisa maluca que, por fim e olhando de longe, pareceria até superficial, eu deveria ter esperado um ano, mas acontece que o amor não espera.

Todos esses dias eu busquei uma brecha em minha vida para ir vê-la, para estar junto dela, e em todas essas vezes algo de errado acontecia. Eu já tinha testemunhado suas mãos tremerem descontroladamente, seu sono em excesso, seu humor ligeiramente mudando a cada segundo, coisas que, como ela me disse, não aconteciam antigamente como ânsias e até mesmo aquele desmaio de quando nos conhecemos. Pergunto-me. Será que isso é normal? Com a experiência de medico eu logicamente deveria saber o que se passa com Selene, mas a cada vez que chego perto de uma resposta mais ela me escapa, como se tentasse agarrar ar com as mãos.

Minha escrivaninha está repleta de livros e mais livros de medicina que eu tinha deixado empoeirando há algum tempo na minha estante. Nathaniel está mais uma vez em casa, obviamente jogando meu videogame. Na noite do tal jantar, quando voltei da casa da Selene, o encontrei deitado no meu sofá, babando nas minhas almofadas, suas roupas estavam jogadas pelo chão e ele estava só de cuecas. Recolhi todas as suas roupas e coloquei na caixa de lavar, eu já estava preparando mais um dos tantos discursos que dou a ele sobre a organização que é a minha casa e de como eu não sou sua mãe, nem sua namorada, nem esposa nem nada para arrumar a bagunça de suas tralhas. O seu ronco era tão alto que eu me surpreendi em não ter acordado nenhum cachorro da vizinhança. Fui até a cozinha e procurei um pegador de macarrão, com aquela pinça tirei as meias dele que estavam no chão, quando voltei à cozinha lavei com agua sanitária e fervi agua para deixar de molho meu pegador. Quando cheguei um pouco perto dele o cheiro de álcool estava impregnado e chegava a ser repugnante, ao lado do sofá encontrei duas garrafas de vodca e três cervejas. Surpreendi-me por ele não ter passado mal, porque se estivesse sujado meu sofá eu o faria limpar com a língua.

-Natan, seu porco. Acorda – Empurrei violentamente seus ombros.

-Infeliz- continuei- Mais que merda toda é essa ein? O Nathaiel, seu babaca. Levanta dai.

Mas ele apenas entreabriu seus olhos, que me fitaram por alguns instantes e voltaram a se fechar.

-Seu imbecil- passei um braço seu pelos meus ombros e fiz um enorme esforço para levanta-lo- Seu idiota, vamos seu porco.

Eu o estava levando até o banheiro quando ele abriu novamente os olhos e ficou mais tempo com eles abertos, em segundos ele tinha vomitado tudo no chão e eu estava gritando com ele, chamando de, mais tarde ele me lembraria: de porco, infeliz, imbecil, idiota, burro e falando que a Selene fazer isso é uma coisa, afinal ela deveria ter algo, já ele era um desocupado de um estupido sem noção. Eu o tinha levado até o banheiro e o colocado em baixo do chuveiro, abri a torneira até o fim e uma enxurrada de agua fria caiu-lhe sobre a cabeça. Foi o suficiente para ele despertar e resmungar coisas sem nexo como: "era meu ultimo copo de uísque" e "que realmente os tênis da Puma tinham desaparecido" assim como, e isso me deixou um pouco assustado "ele é um infeliz por gostar dela...." pausa  "mas eu o amo". Entretanto pensei ser apenas uma confusão entre o "o" e o "a", quem seria a amada de Natan?

Meu Presente é a LuaWhere stories live. Discover now