𝗖𝗮𝗽í𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟬𝟯

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Coringa, 28 anos

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Coringa, 28 anos.

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Ainda é 9h40, o relógio da cadeia anda em câmera lenta. Acendo um cigarro e vejo o dia passar, sob o olhar do guarda que sabia o que eu desejava e o que eu pensava.

Quer conhecer uma pessoa? Dê à ela fama dinheiro e poder. A fraqueza de um homem tá em um papel, tá no poder e porra, minha fraqueza é essa mermo. Ladrão sangue bom tem moral na quebrada mas pro estado é só um número e mais nada. Mas jae, não vou negar, não sou nenhum inocente mas desde criança tô preso nessa merda de corrente.

O meu mundo me ensinou à ser assim, fazer o corre pra sobreviver. Só sei fazer o errado, eu aprendi à ser assim. Desde menor fecharam as portas pra mim, eu queria mudar mas pensar do jeito honesto não dá, nunca deu. Se quem governa o país também aprendeu à roubar, eu roubo à mão armada e eles roubam no caô. Me chamam de bandido e lá chamam eles de doutor.

Ser traficante aqui é bem mais prático. Rápido, sádico ou simplesmente um esquema tático. É instinto ou consciência, viver entre o sonho ou a merda da sobrevivência? Cresci em uma comunidade que tu não pode dar mole, onde amizade e confiança com certeza não há, neguinho que hoje te abraça amanhã te fode.

Muitas vezes me questionei se essa porra toda tinha valido a pena, mas eu era mais um fudido na porra desse mundo e não tinha outra opção.

O sistema tá ligado que eu não vou cumprir nem metade dessa merda e se eu morrer tentando sair aparece outro pior que eu lá fora ou aqui dentro.

Pra sobreviver aqui tu tem que saber que mesmo no inferno é bom saber com quem se anda, se não, embaça. A cadeia é um cômodo do inferno, seja no outono ou no inverno, todo dia é foda e aqui dentro compreendi o valor da liberdade.

- Mataram o maluco do 2A, o cara da cela daqui do lado se transferiu pra lá e bagaçou o cara. - falou o Senegal passando as mãos pelo rosto.

Mais um pilantra sentenciado, aqui é foda, não tem comédia. O clima aqui é de maldade, se bobiar os alemão passa por cima. Aprendi muita coisa aqui, vi várias fita errada, injustiça e humilhação dos detentos. É complicado, tem gente filha da puta como eu mas tem inocente pra caralho.

Depois daquele fogaréu na igreja eu trombei com os caras do comando. O Dadinho me colocou lá dentro, na época o garoto já tinha a consideração dos cara do movimento e eu fui na ousadia mermo tá ligado? Entrei de cabeça naquela merda, eu não tinha outra opção.

Sempre foi assim eu, Dadinho e o Senê. Nós metia o louco pela favela e lá na pista, nós era o terror. O chefe viu que nós tinha potencial e nós virou vapor e começou à subir no conceito. Eu era um muleque muito pra frente, sempre fui ambicioso e sempre quis mais e isso me ajudou pra caralho.

Faz dois anos que eu assumir o cargo de gerente do pó lá no Alemão e faz dois anos que eu tô administrando essa merda daqui de dentro.

Vou meter o pé daqui e não vai demorar muito.

Não adianta, esse mundo é meu. Mudar não vai adiantar muita coisa, ainda tenho chão pra caralho nessa vida mas já tô fortão na hierarquia.

- Aí, tá ligado que vão mandar as cocota brotar aqui, vou amassar legal. Não dá pra viver só de bronha não, tá maluco - Pinguim negou com a cabeça.

- Jae pô, teu vulgo agora vai ser fudelâncio - ele me olhou serinho - vai morrer se não comer buceta?

- Lá fora eu comia todo dia, tô com abstinência.

- Vou passar a coroa do Deco pra tu, mente muito, tem cabimento um bagulho desse não - eu ri.

-  Não mete meu nome nessa porra não - Deco levantou do chão.

- É sim menor... Vai brincando com a cara de vagabundo. -  fechou a cara.

Dei risada e acendi o cigarro me encostando na muralha, o cara ficava puto facinho. Não dava nem pra gastar na onda dele.

Sol tava quente pra caralho, mais de quinze dentro de um buraco sem ventilação nenhuma, tô pagando por todos os meus pecados nesse inferno. O vigia apareceu do outro lado me olhando com raiva, na mesma hora abriu o portão da cela e nós saiu. Única hora que dava pra respirar, as condições dentro dessa merda são miseráveis, nem barata vive num bagulho desse.

Dia de visita os presos ficavam felizes pra caralho, eu não tinha ninguém e era o dia de ver a família. Comigo mermo só rolava umas dondoca na salinha privê, mas os cu azul tava cobrando uma moeda muito alta pra botar gente aqui dentro. Era dia de comer bem, menos pra mim, obrigado à comer o azedo. Ou tu morre de fome ou tu morre pelo o que tu comeu, aí vai de tu decidir de qual forma tu quer e é por isso que nós gasta uma moeda do caralho pra comer do bom e do melhor.

Bangu é foda.

- Maior covardia com o irmão, os cara da facção tá revoltado pô, tô chei de ódio aqui. - Fael bateu na minha mão.

- Tu tá achando que vai ficar por isso mesmo? Vou dar maior esculacho naquele filha da puta.

- É o certo, o errado tem que ser cobrado. - Senegal me ofereceu o churrasco.

- A hora dele vai chegar, nós vai dar o dele na melhor hora. Mas tem que ver essa porra aí, se essa porra explodir aqui dentro vai dar uma merda do caralho.

- Ala, tu vai peidar? - Fael riu.

- Qual foi - dei risada - tenho cara de viado que nem tu? mas se liga, nós tem que agir com cautela, qualquer vacilo os de lá vão botar pra fuder em cima de nós.

- Isso que é foda, mas nós vai conseguir resolver essa situação aí. - assentir.

Acendi o cigarro e encostei no muro observando o menor que tinha chegado à menos de três dias aqui dentro.

Tem uma pá de cara aqui, de ladrão de mercadinho e se tu botar fé até político. Aqui dentro é uma hierarquia, quem tem poder até consegue descolar umas paradas mas quem não tem conhecimento se fode.

- Naiara trouxe um fio pra mim, vai dá pra nós agilizar com o Jacaré, nós tem que fazer esse bagulho andar rápido pra meter o pé daqui. - Deco passou o cigarro pra minha mão.

- Só mantém a calma pô, na melhor hora nós vai começar à agir... - ele assentiu - Fala pra tua mulher que eu tô afim de carne nova, tendeu?

- Jae...

- Fé que nós vai meter o pé daqui o mais rápido possível.

𝗡𝗼𝘀𝘀𝗼 𝗠𝘂𝗻𝗱𝗼 - PAUSADAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora