𝗖𝗮𝗽í𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟬𝟱

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Luísa

É cedo e eu não consigo dormir. O sono não vem, e é uma das raras vezes em que eu não consigo ao menos descansar desse pesadelo todo. E doi muito saber que estou sozinha, sem ninguém ao meu lado. É nessas horas que bate um desespero, uma sensação de incapacidade e a vontade de morrer.

As lágrimas deslizam involuntariamente pelo o meu rosto sem que eu pudesse controlar. Em momentos assim eu me perco em lembranças e em sonhos que nunca vão se realizar.

Suspirei frustada pela última vez, sem conseguir dormir eu não tinha outra opção à não ser levantar da cama e ir atrás de alguma coisa pra fazer. Eram cinco horas da manhã, levantei e logo me arrumei, hoje eu iria para outra entrevista.

O meu celular vibrava a todo momento, eu até venderia mas não posso vender algo que não é meu.
A Paula me emprestou pra eu me comunicar com ela e com outras pessoas já que o único que eu tinha sumiu dentro de casa e vocês já sabem né? As paredes daqui tem mãos, pés e até nome.

Fazia frio e eu já imaginava que o dia não seria nada bom, não era comum fazer frio desse jeito aqui no Rio.

Passei o único resto de manteiga que restava no pote dentro do pão, depois passei o café e comi tudo rapidinho. Pelo o que eu vi o meu pai não estava mais em casa.

Quando deu 6:30 eu logo saí de casa, tranquei tudinho e fui caminhando até o ponto. Uma senhora conhecida veio no caminho junto comigo, ela falava sobre o trabalho que a neta dela estava dando.

- Não sei mais o que eu faço, Fernanda está me dando muito trabalho - ela sentou no banco do ponto.

- Tenha paciência, jovem é assim mesmo - ela riu.

- Eu sei muito bem, já tive a idade de vocês uns dia.

Depois de muito papo finalmente o meu ônibus chegou, foram umas meia hora até o centro. Ônibus lotado e tu já sabe como é né? Maior confusão.
Uma senhora começou à acusar um homem de ter roubado sua bolsa e logo o quebra pau começou, o homem estava doido pra ir pra cima dela e a população tentava segurar ele mas não tiveram sucesso, o garoto foi pra cima da velha e quando a polícia chegou todo mundo meteu o pé, inclusive eu.

Quase morri por não saber o desfecho dessa história mas logo foquei no meu projeto principal que era ir atrás de emprego.

O primeiro seria em uma empresa de telemarketing, pelo o que eu vi era oitocentos reais por mês com vale alimentação e transporte. Trabalhando de sábado à domingo com direito a uma folga na semana.

O segundo seria em uma loja de shopping, de sábado à domingo. Setecentos reais mais a comissão e outros benefícios.

Assim que cheguei no prédio de telemarketing uma mulher logo me recebeu com o maior sorriso do mundo, parecia bastante simpática.

[...]

- Acho que iremos entrar em contato com você, tanto por ligação como e-mail, muito obrigada - ela sorriu e eu levantei da cadeira.

Esse era a da loja de shopping, eu estava até animada pra trabalhar aqui pois o ambiente parecia ser bom e apesar do movimento ser alto isso ajudaria bastante, pois a cada venda a comissão seria metade do valor da peça vendida.

A mulher me acompanhou até a saída da loja e depois eu fiquei andando sozinha quando bati o olho no relógio mais lindo do mundo, fiquei totalmente apaixonada.

Entrei na loja mas foi só pra admirar porquê dinheiro pra comprar eu não tinha.

Eu amava entrar nas lojas e experimentar as coisas mesmo sabendo que não iria comprar, eu tinha bastante fé em que um dia eu possa comprar até um shopping inteiro.

- Não vou querer, muito obrigada - coloquei o relógio de volta à caixa e o vendedor se virou indo até outro cliente.

Foi o tempo de eu sair da loja mas algum infeliz me segurou.

- Preciso checar a sua bolsa, agora - O segurança apertava o meu braço com a maior força do mundo.

- Eu não sou nenhuma ladra - olhei pra ele com raiva.

- Eu vi você com o relógio - ele me olhou com nojo.

- A ótica é bem ali em frente, se você olhar direito vai ver que o relógio continua no mesmo lugar.

- Garota arrogante, vai ver aonde eu vou meter essa sua má educação - ele me puxava pra fora da loja e eu xingava ele de todas as formas possíveis.

- Me solta, filha da puta, vai segurar tua mãe assim - tentei morder a mão dele mas não tive sucesso algum.

- Não escutou? Solta a garota seu filha da puta - um cara alto, forte e cheio de tatuagens brotou na nossa frente do nada - solta a mina, eu vou pagar pelo relógio.

Eu olhei pra ele bastante confusa sem saber qual era a intenção dele naquele momento.

- Vou precisar chamar o teu chefe? - ele cruzou os braços e o segurança finalmente me soltou.

- Então é assim? - Eu ri consertando os fio do meu cabelo - Eu vou bem é processar a porra desse shopping, podem esperar o processo meu amor - olhei pra vendedora atrás do caixa.

Não iria descer do salto nunca, eu tinha dinheiro pra algum advogado? Não, mas também não ia perder essa chance de sair por cima.

Não demorou muito tempo pro garoto que me defendeu aparecer com o relógio dentro da caixa em uma sacola.

- Aqui, é seu - olhei pra ele de cima à baixo.

- Muito obrigada pela ajuda, mas não quero nada seu - ele arqueou a sobrancelha e eu saí dali o mais rápido possível.

𝗡𝗼𝘀𝘀𝗼 𝗠𝘂𝗻𝗱𝗼 - PAUSADAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora