DEZOITO

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Acreditei que durante toda a semana, na escola, na rua, aos mínimos passos e pensamentos meus, as pessoas sabiam.

Não só sabiam... Elas previam. Eu me sentia previsível ao me dar o luxo de atravessar a rua, ou o simples fato de eu parar para amarrar um cadarço. Não sei explicar, era só a sensação que cada pessoa, até mesmo aquela gata, conseguia saber meus movimentos e isso não me fazia nada bem. Houveram dias em que fiquei com medo de pensar besteira, ou em algo em potencial, eu só queria que minha mente focasse em algo, que eu tivesse algo para fazer com as mãos. Prestei atenção nas conversas com meus amigos na segunda, tenho quase certeza que falamos sobre a possível história de Larissa estar grávida e sobre o professor de educação física ficar assediando as alunas. Na terça consegui focar na aula de história sem pensar nada demais, mas houve um momento em que tive que sair, fui ao banheiro e dei de cara com Victor, um garoto estranho e caladão do primeiro ano que sorriu para mim. E o sorriso dele me arrepiou inteiro. Mas acho que tudo isso é porque quero saber quem é B, e, ao mesmo tempo, evito Dan. Engraçado, estou procurando alguém que não conheço porque suspeito de uma paixonite e evito o garoto que transei quando ele quer me pedir em namoro.

Na quarta-feira mandei uma mensagem para B, mas ele não me respondeu eu soube que estava no escuro. Eu não podia sair do escuro até que ele decidisse me dar uma luz.

Breno me perguntou o porquê de eu estar tão afoito, e eu não soube o que responder... Não soube dizer a verdade e acreditava cada mais nas palavras de Hector: "Mentir é como respirar para você". Não era assim, tão fácil, eu sentia a culpa esmagar minhas costas, mas eu tinha medo da verdade esmagar ainda mais. A verdade, a minha verdade, ela eram os capítulos guardados com cadeados que eu tinha falado com B, e se eu não estava pronto para desencadear não estava tudo bem? Eu tinha mesmo que sair do armário, era uma obrigação, uma regra escrita desde sempre?

Às vezes eu pensava: Querido armário, você me prende mas aprendi a ter você como armadura contra todos, não seria engraçado se você de repente sumisse? Engraçado para quem, aliás? Ah, que merda, eu odeio essa merda se assumir. Eu queria que todo mundo só esquecesse isso e fossem viver suas vidas. É tão difícil assim?

Às vezes eu pensava: O.K. vou fazer dar certo hoje, tem de ser hoje, porque se não for... Nunca vai ser não é? Acho que quanto mais tempo sufoco isso mais tempo estou fazendo ser mais perigoso.

Eu considerava esses pensamentos — que nunca ocorriam no mesmo dia — em dias e DIAS.

Acho que foi por isso que criei o Mr. Magnus. Um pseudônimo, um simples nome que eu despejava tudo o que sentia quando não queria jogar e não aguentava pensar por tanto tempo, eram palavras em cima de palavras, meus dedos chegavam a doer quando eu escrevia com o nome Magnus. Mas eu deveria ter pensado em algo mais criativo, confesso.

O ponto é, eu gosto do pseudônimo e desatar a escrever sobre mim, sobre as pessoas ao meu redor, é uma espécie de terapia. Nunca respondo aos comentários, não faço nada a não ser abrir a janela, escrever, fechar a janela. — Certo, agora eu também falava com B pelo site e isso tomava mais do meu tempo do que eu gostava de admitir.

B...

Eu gostaria de falar mais com ele, mas sem a tela, sem a tecla e as palavras prontas. Não que eu goste de ficar fazendo papel de bobo, mas se fosse para vê-lo pelo menos uma vez eu gostaria, sim. Tentei reunir algumas informações sobre ele, mas nada que concretize sua aparência, tampouco sua personalidade. A única coisa que pude fazer foi cria-lo no The Sims — ao meu modo — para namorar meu cara. É, eu fiz isso.

Eu tentava não pensar tanto nele, eu focava mais na vida amorosas dos meus amigos: Maria vivia falando dos personagens que se apaixonava, antes um semideus, antes uma fada, antes um guerreiro. A vida amorosa dela é movimentada. Enzo e Samir. Joyce e o garoto misterioso dela, que até agora que eu sabia mora longe. Eu pintava xícaras com minha mãe e ela aderiu às cores pastéis e ainda está determinada a pintar as xícaras de planetas e até agora temos Terra, Mercúrio e Vênus. As xícaras que foram vendidas faziam parte das coleções antigas: flores, animais e uma solitária de uma coleção que minha mãe nunca deu continuidade. Vender xícaras a deixava mais animada para continuar, mesmo que eu saiba que desde sempre, as xícaras que ela pinta nunca foram feitas para vender.

Agora ou Nunca (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora