Capítulo 1

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Um mês depois.

Kelly.

Ainda estou assimilando todas as novas sensações que a minha vida tem me proporcionado. Já se passaram um mês que eu e Daniel decidimos nos reaproximar e eu ainda estou tentando ordenar dentro da minha própria cabeça tudo o que estou sentindo.

Não têm sido dias fáceis, como eu já sabia, mas saber é viver e tão diferente. Tudo parece mais ameno e leve quando vemos às coisas de fora. Estar na situação é outra coisa.

Amo Daniel e quero enfrentar tudo o que está por vir com ele, essa minha certeza não mudou e a cada dia que passa ela só cresce. Só que com Daniel às coisas não funcionam do mesmo jeito, ele está em um momento complicado, onde é difícil me tocar de uma forma mais quente, eu ficar nua nem pensar, ver meu corpo tem trazido gatilhos para ele que eu não esperava ter que lidar. Na verdade eu até pensei que isso aconteceria, mas depois da noite maravilhosa que tivemos logo que nos reconsiliamos eu imaginei que não seria desse jeito, achei que conseguiriamos lidar com isso, que com a gente tudo aconteceria de um modo diferente. Sei que talvez tenha sido ingenuidade da minha parte, mas quem não é um pouco ingênua as vezes?

Em fim, agora estou sentada na sala do consultório do doutor Alexandre, o psiquiatra de Daniel. Eles estão lá dentro agora, em mais uma semana de terapia. As sessões se intensificaram desde que o doutor soube que nós estamos juntos. Isso e algo que eu tambem ja sabia, soube meio por cima que esse era um padrão nesses casos muito antes de eu pensar em voltar com ele, Katherine me contou um pouco sobre isso em algum dos dias que ela viu uma situação semelhante enquanto fazia o seu estágio em uma ONG que trata agressores e vítimas de abuso sexual. Kath sabe muito sobre essas coisas, já que o foco dela é atender os agressores, ela quer ajudar pessoas como o irmão.

Confesso que eu queria muito poder conversar com ela abertamente sobre tudo o que está acontecendo entre mim e Daniel, tenho certeza que ela conseguiria aliviar o meu coração e me dizer exatamente como agir, mas ela nem sequer tem a certeza de que estamos juntos, ainda não falamos sobre isso com as nossas famílias, não sinto que Daniel esteja pronto para isso, mas vou tentar conseguir convence-lo de falar-mos sobre o assunto o mais rápido possível, já que estamos todos em Marilha para o aniversario de 15 anos de Paola, a irmã de Daniel.

Eu e ele somos adultos e não temos que nos esconder, julgamentos vão ter, mas que diferença faz se vamos ter que passar por eles de qualquer forma, mais cedo ou mais tarde.

Meus pensamentos são interrompidos por duas mãos que tocam levemente meus ombros. Eu não precisaria nem olhar para saber quem é. Daniel tem uma forma única de me tocar, com muito cuidado e carinho. Acho que ele pensa que pode me quebrar com um simples toque.

- Oi. - Daniel diz baixo, com um sorriso tímido em seu rosto.

- Como foi na terapia? Já terminou, não é? - Pergunto ao mesmo tempo em que me levanto. Daniel continua segurando a minha mão.

- Já sim. Foi tudo ótimo, como sempre. Eu saio muito mais leve daqui. No Final da semana que vem tem a consulta com a psicóloga em São Paulo. - Ele fala enquanto vamos saindo do consultório em direção ao seu carro.

- O que o doutor disse? - Eu pergunto o olhando atentamente, tentando decifrar cada expressão presente em seu olhar.

- Ele disse que temos que criar novas lembranças juntos, de preferência enfrentando os problemas de frente, ele falou que não é fingindo que nada aconteceu que eu vou conseguir ter mais confiança para ir deixando aos poucos às minhas paranoias de lado. Ele disse muitas outras coisas também, mas não quero falar com detalhes sobre isso, não agora. Ele fala como se fosse fácil fazer isso, como se enfrentar as coisas fosse ser o melhor quando eu só consigo ver que isso é o pior, sabe?

Destroços do PassadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora