O Quebra-cabeça

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Teu corpo combina com meu jeito, nós dois fomos feitos muito pra nós dois.

Nosso Estranho Amor, Caetano Veloso

João

Eu tenho uma paixão por montar quebra-cabeça, a cada peça que consigo juntar deixa-me ainda mais instigado a prosseguir, acredito que venha daí a minha afeição em desvendar o que cada pessoa esconde, cada peça que mantém virada para que ninguém veja, usando a jogada certa qualquer ser humano pode ser manipulado, e eu gosto de testar, e mais ainda, amo acertar a jogada.

Seguindo mais um ponto importante de todo o planejamento, avisto Otto Montenegro, a Fera dos tribunais, que também é o advogado pessoal de Rodolfo, o homem para trabalhar há tantos anos com um ser humano como o velho Guedes, já dá para saber que boa coisa que não é.

Caminho até ele que bebe sozinho um uísque puro com gelo, já nos esbarramos algumas vezes na boate em que frequento, e acabamos desenvolvendo uma certa camaradagem, nada muito profundo, acredito que o advogado desconfia até da própria sombra.

— E então, Otto, bom lhe ver. — O cumprimento e recebo um meio sorriso do homem corpulento de pele morena.

— Como passa, João?

Aproximo-me dele, ficamos lado a lado e vasculho sorrateiramente ao meu redor, falando baixo e lentamente para que só ele tenha acesso ao teor dessa conversa.

— Ando preocupado, e suponho que você compartilha da minha angústia.

— Ah, é?! E qual seria a questão?

— A menina. — Olho para Amora discretamente. — Se por acaso ela assumir a Guedes, creio que pode ser uma pedra em nosso sapato.

— Em que sentido?

— Ela veio da Europa, é jovem demais, deve ter ideais diferentes dos nossos, duvido muito que ela concorde com a sua maneira de resolver as questões. — Digo com sutileza e ele ergue uma das sobrancelhas. — Sei que o velho Guedes pretende casá-la com Otávio ou o meu irmão, Jonas, mas se ainda assim ela quiser se rebelar e não casar, seria bom ter algo que assegura que a empresa não caia em suas mãos.

— Estou começando a entender aonde quer chegar...

— E está interessado?

— Levemente interessado. — Diz com os olhos negros pregados em mim.

— Bem, em seu lugar eu colocaria uma cláusula condicional, onde ela só pode assumir a empresa caso esteja casada, é uma forma de que você obtenha algum controle sobre a garota em caso de falecimento do velho Guedes.

— Entendi o seu ponto.

— Passar bem, Otto.

— Até mais, João.

Mais um amontoado de peças montadas nesse quebra-cabeça.

***

— Mais uma noite neste bordel, já tivemos uma vida social mais agitada. — Filipa reclama dando mais um gole em sua cerveja.

— Bordel não, casa de luxo para homens — zombo ouvindo o seu resmungo.

Não demorei muito para ir embora do entediante jantar na casa do velho Guedes, apenas segui a minha parte no plano, chamei a atenção da enfadonha bailarina clássica, e vim me divertir.

A casa de prostituição é de Sérgio, um dos nossos amigos da época da faculdade, é um negócio de sua família, e tanto eu quanto Filipa gostamos de vir aqui beber, conversar, ver as meninas sempre muito bonitas, além dos shows sempre muito sensuais, o lugar é de extremo bom gosto.

Presa ao CEO (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now