2. Diavolo

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— Amore mio! — disse Manu ao telefone.

— Até que enfim tu ligasse, Manuela!

— Desculpa Ferrugem, mas tu sabe como a minha vida de estudante de medicina é doida e quando eu cheguei aqui na Itália, eu fiquei tão apaixonada que eu fiz foi me esquecer de tudo. Até de tu. — respondeu rindo.

— Eu só vou perdoar porque é a Itália, viu? Aí é tão mágico que a lua deve brilhar mais forte.

— Tu e a tua fascinação doida pela lua.

— Então!... E hoje é noite de lua nova. Significa: abertura de novos ciclos.

A loira riu diante da explicação da amiga. Maria era uma dos seus quatro melhores amigos. A bruxinha do grupo ou riponga como, Amanda costumava brincar..

Maria era tão cheia de energia que cativava só com seu olhar negro intenso e seus cabelos ruivos que pareciam as chamas de um vulcão em erupção.

Entretanto, nos últimos anos, desde que a avó dela morreu e desde que começou a estudar engenharia. Além de trabalhar em uma empresa de call center. As chamas de Maria estavam mais brandas e Manu temia que se apagassem de vez.

A loira sentia que precisava proteger a amiga ruiva de todo o sofrimento. Talvez as pessoas tão sensíveis como Maria acabassem sofrendo mais. Ao que dependesse de Manu, aquela chama nunca se apagaria.

— Mari, tu sabe a abertura dos novos ciclos que eu gosto, né? — brincou.

— Credo!... Começou!... Eu não devia pedir isso, mas vai murrinha, fala.

— A abertura do meu priquito e os novos ciclos são... — tentou concluir rindo, do murmúrio que Maria soltou do outro lado da linha. Adorava provocar a amiga.

— Minha irmã, pare velho! Tu só fala putaria!

— Tá! Desculpa!... — disse Manu gargalhando.

— Vai, abestalhada! Muda essa conversa, me fala como tá o carnaval aí.

— Ah Mari, tudo maravilhoso! Eu tô aqui de frente pra o Canal Grande esperando começar o regalo. O tema desse ano foi voltado pras mulheres porque a data coincidiu com o dia da mulher, né lindo?... E por aí como tão as coisas?

— Aqui na Veneza brasileira — riu Maria, com a referência — O carnaval é sempre incrível. Tu não sabe? Acho que é isso que eu amo nessa época do ano, o espetáculo cultural de cada região.

— Tu saísse, Mari? Tu te divertisse?

Manu não queria interromper o momento de fascínio da amiga. Todavia, a preocupação falava mais alto. Temia a qualquer momento, perder Maria para a depressão.

Não achava que esse fosse o caso, mas já estudara tanto sobre isso na faculdade que era impossível controlar seu medo.

— Saí — respondeu a outra em tom baixo e Manu duvidou.

— Tu te orienta, Mari! Tu se cuida! Já faz quase três anos que ela se foi e a última coisa que ela ia querer, é te ver mergulhada na merda — Maria ficou muda, então Manu perguntou:— Me fala o que tu fez de bom no carnaval daí.

— Eu, Zaci e Amanda, a gente foi pra Olinda, ontem. E adivinha? — fez uma pausa para dar risada — A gente acabou se perdendo como todo o ano, tu acredita? — outra risada — Só faltou tu.

— Ai que saudade de me perder de vocês no carnaval! — riu Manu — Eu ainda acho que isso é um plano daquelas duas pra se livrar da gente e passar o carnaval se pegando.

— Eu tô começando a acreditar em tu. Quando encontrei elas na parte baixa de Olinda, tavam de mãos dadas como se nunca tivessem se afastado uma da outra e eu que nem uma doida descabelada procurando elas.

Demônio DomadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora