LIVRO 5 DA SÉRIE IRMÃOS SULLIVANS
PRÓLOGO
CHARLIE
Eu estava sentada no meio fio em frente a uma casa, esperando o imbecil do meu irmão Travis voltar com minha bicicleta. Eu chutava algumas pedras aleatórias com o bico do meu tênis e, vez ou outra, erguia a cabeça para vasculhar os lados.
- Que babaca - resmunguei, não acreditando que ele havia apenas me deixado ali.
- Está tudo bem, querido? - uma voz suave me alcançou e olhei para cima, encontrando uma mulher com um sorriso doce em seus lábios.
- Sim - falei, laconicamente.
- Você precisa de ajuda? - ela continuou.
- Não - disse, me afastando um pouco. Apesar do sorriso afável, eu tinha aprendido a não confiar em estranhos e manter minha guarda levantada.
- Eu sou Luíza Sullivan - ela disse e o nome me pareceu familiar, mas o que eu sabia? Eu tinha 11 anos e havia me mudado há pouco para Berlim. Eu só queria saber da minha bicicleta e em arrancar as duas pernas do meu irmão, se possível.
Nesse momento, um garoto saiu de dentro da casa atrás de mim e caminhou até a mulher parada na minha frente. Ele tinha grandes olhos verdes, da cor da grama em dias chuvosos, cabelos castanhos e lisos caiam sobre sua testa e ele me olhava com a mesma rispidez que eu provavelmente havia olhado para a senhora Sullivan.
- Este é meu filho, Adam - ela apresentou e eu não fiz menção de cumprimenta-lo, muito menos ele. Não me levem a mal, Luíza parecia ser simpática, mas eu não estava afim de conhecer mais um garoto.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, não que eu pretendesse fazer isso, meu pai veio como um tiro do outro lado da rua.
- Onde você estava? Procurei você por todos os lados. - ele gritou com sua voz de barítono em um tom que pessoas do outro lado do mundo poderiam ouvi-lo - Onde está Travis?
- Espero que em outro país... com a minha bicicleta - falei, indignada.
- Aquele moleque - ele rosnou e ergueu a vista - VOCÊ! - disse, olhando para a mulher.
- Você a conhece? - perguntei.
- O brutamonte do mercado - Luíza Sullivan respondeu, rangendo os dentes.
- Brutamonte? Há! - meu pai riu sem humor - Você é louca, mulher.
- Sim, então é melhor manter distância - ela disse com uma voz firme, virou em seus calcanhares e saiu dali com a cabeça erguida, não se esquecendo de seu filho que estava ao seu lado. Ela havia dado poucos passos antes de se virar, olhar para mim e de novo para o velho Müller. - E pare de gritar com o menino, você não está em um ringue de luta.
Eu não a conhecia, mas passei a respeita-la depois disso. Ninguém enfrentava Peter Müller desse jeito e continuava vivo para contar a história. Tudo bem, talvez fosse exagero, mas era assim que eu pensava.
Depois de alguns dias, eu sabia de quatro coisas: primeiro, os Sullivans era uma das famílias mais conhecidas e influentes de Berlim; segundo, Luíza Sullivan era realmente uma pessoa amável com todos; terceiro, apenas uma pessoa acabava com o bom humor da mulher: meu pai; e quarto, todos os Müllers viviam em pé de guerra com todos os Sullivans por causa disso.
CAPÍTULO 1
- Ei Müller, quanto tempo dura seu intervalo? - perguntou o detetive Hoffman.
- Até que o meu café termine e ainda tem muito café dentro deste copo - gritei de volta para o homem mais velho e estiquei minhas pernas, cruzando os tornozelos sobre a mesa.
- Se apresse - ele bateu os nós dos dedos na madeira da mesa.
- Respeite o meu momento, cara - reclamei e ele saiu rindo, esfregando sua barriga ligeiramente saliente.
- E esse momento acabou - disse detetive Becker, passando por trás de mim e tirando o copo da minha mão. - Há alguns arruaceiros que precisam de nossa atenção em Prenzlauer Berg.
- Aaah, que inferno. Agora eu estou de mau humor - resmunguei e Becker deu uma risadinha baixa.
- Seu humor já é naturalmente terrível - disse e eu o fuzilei.
- Eu estou armada. - falei entre dentes - Vamos dar uma surra em alguns idiotas.
Meu nome? Charlote "Charlie" Klein Müller. Sim, acredite ou não, eu sou uma mulher.
Nasci em Munique, mas me mudei muito por causa do serviço do meu pai. Minha mãe havia morrido pouco depois do meu nascimento devido a um câncer raro, meu pai era um militar e eu era a caçula entre seis irmãos mais velhos. Já ouviram a expressão "o meio faz o homem"? Bem, no meu caso isso "literalmente" aconteceu. Meu nível de feminilidade... isso apenas não existia, zero, beirando o negativo.
Quando era criança, o mesmo barbeiro cortava o meu cabelo e dos meus irmãos, fazíamos compras nas mesmas lojas e eu era o sétimo filho que meu pai não teve. Eu não me importava de sempre ser confundida com um menino, isso tornava as coisas justas em uma briga. E eu não fugia de uma. Imagino que poucas pessoas sabiam e sabem até hoje que meu pai tinha uma filha e eu nunca fiz questão de dizer, nem ninguém da minha família. Os meus irmãos estavam bem com isso, principalmente porque não tinham que se preocupar com nenhum idiota aliciando sua irmãzinha.
Com o passar do tempo, eu continuei exatamente a mesma, só que bem mais alta. Eu ainda usava o cabelo curto estilo joãozinho, camisetas e calças folgadas demais para o meu tamanho e muito tênis. Eu não sabia o que era ficar em cima de um salto alto e meus pés agradeciam por isso. Até hoje eu era confundida com um rapaz, talvez jovem e desnutrido, mas ainda um rapaz. Eu não tinha muitos atributos femininos evidentes e os que eu tinha ficava escondido por baixo de camadas e camadas de roupas largas, o que favorecia alguns "Ei, cara" que eu geralmente recebia.
Você deve estar se perguntando, e os namorados? Namoradas, talvez? Bem, apesar da minha vida atuando como menino e o jeito masculinizado, eu nunca senti atração por outras mulheres. E homens? Eu já passava raiva com os que eu tinha em casa, então, não, muito obrigada.
Além disso, eu já falei que eu sou a caçula entre seis irmãos e tenho um pai militar? Certa vez, meu pai perseguiu durante horas, balançando uma arma e gritando como um vendedor ambulante, um menino que havia apenas olhado em minha direção. E na verdade, ele nem estava olhando para mim e sim para uma pessoa atrás de mim.
Eu havia me tornado uma policial porque eu gostava das coisas justas, eu queria fazer o bem para a sociedade e era uma profissão em que eu poderia ser eu mesma. Além disso, eram aceitos palavrões, eu tinha uma arma e de brinde podia dar uns sopapos em alguém de vez em quando. Eu havia me mudado de Berlim quando era jovem e voltado quando essa oportunidade de emprego surgiu.

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ღ Uma doce aprendizagem
RomanceDurante toda sua vida, apenas uma coisa esteve no topo da lista de desejos de Olívia Smith: Blake Johnson. Entre a infância inocente e a juventude limitada pela timidez, Liv não conseguiu dizer para o garoto que o amava e que queria passar a vida ao...