Após Prenzlauer Berg, não houve mais nenhum incidente que precisasse de atenção antes que meu expediente terminasse. Cheguei ao meu apartamento, tirei as botas e me joguei no sofá; o lugar onde eu morava era menor do que uma caixa de sapatos de criança, mas era onde eu tinha meu momento de paz e silêncio.
Ao ter esse pensamento, meu celular pensou "não não" em relação a minha paz e silêncio e começou a esgoelar e vibrar dentro do meu bolso de trás, com Creedence Clearwater preenchendo o ambiente. Fechei os olhos e pensei que ele ia ter que parar. Ele parou. E começou novamente. Eu o ignorei e fui para o banheiro tomar um banho merecido, porque eu já estava perdida.
Saí do banheiro enxugando os cabelos curtos com a toalha quando ouvi um barulho vindo da sala; agucei meus ouvidos, peguei minha arma e, cautelosamente, comecei a caminhar naquela direção, meus pés descalços não alertando minha presença. Escutei um novo barulho e percebi que vinha da porta, alguém estava tentando entrar. Escolheu a casa errada para arrombar, parceiro.
Fiquei de vigia e quando ouvi um sussurrado "consegui", apareci com a arma apontada para o intruso.
- Bela porcaria - falou o homem, erguendo os braços.
- Porra, vocês são retardados? Vocês perdem um neurônio a cada dia que passa? Eu poderia ter atirado e depois feito perguntas - gritei e eu teria jogado algo neles se o que estivesse na minha mão não fosse meu bebê.
- Nós tentamos ser educados e ligar antes de aparecer - disse Mason, sentando-se no sofá como se estivesse em casa.
- E na caverna onde vocês moram não existe campainha? - perguntei entre dentes.
- Pensamos que se você não estava atendendo o celular, provavelmente iria ignorar a porta - Chase deu de ombros.
- Isso significaria que eu não estou afim de receber visitas.
- Então resolvemos apenas fazer uma surpresa. - continuou Travis, como se eu não tivesse dito nada, e se aproximou de mim - Nos esquecemos de que nossa irmãzinha anda armada agora.
Ele estendeu a mão para bagunçar meus cabelos, mas antes que ela me encostasse eu a peguei e torci seu braço para trás, o pressionando na parede.
- Olha só, ela aprendeu um golpe novo - ele zombou e eu mal percebi quando ele torceu o braço em um ângulo humanamente impossível e logo ele estava me dando uma chave de braço no pescoço.
- Me solta, seu imbecil - gritei.
- Você precisa se acalmar. Você sempre pareceu um cão raivoso pronto para morder alguém - escutei a voz de Mason. Eu só queria um pouco de paz, era pedir muito? Dei uma cotovelada nas costelas de Travis em um ponto estratégico que havia aprendido quando era mais nova e o babaca me soltou.
- O que diabos estão fazendo aqui? - perguntei, passando as mãos nos meus cabelos para controla-los.
- É assim que você recebe os seus irmãos depois de tanto tempo? - perguntou Chase, arqueando uma sobrancelha loira, mas não esperou uma resposta - Combinamos de tirar férias juntos, descobrimos que você estava aqui e resolvemos visitar nossa antiga casa.
- Joe, Peter e Tom estão chegando amanhã - informou Travis - Onde estão suas malas?
Eu o encarei como se ele tivesse perdido sua mente e provavelmente havia um ponto de interrogação enorme na minha cara.
- Você ouviu o que ele disse, vamos para nossa casa de infância. Está fechada há algum tempo, mas ainda é nossa - Trav continuou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Abri a boca para retrucar, para dizer que não estava indo, para ameaça-los com um tiro entre os olhos se eles não sumissem da minha frente, mas pela expressão no rosto dos três gigantes sentados no meu sofá essa era uma batalha perdida. E a verdade era que eu sentia falta de passar um tempo com meus irmãos, mesmo que eles me atormentassem até que surgisse uma veia na minha testa e ela quase explodisse.
CAPÍTULO 2
ADAM
- Vocês terminaram de arrumar os seus quartos? Seus irmãos já devem estar chegando - minha mãe gritou enquanto andava de um lado para o outro na casa.
- E por que temos que arrumar alguma coisa? Eles já estão acostumados - resmungou Lucas deitado no tapete da sala - E não é como se fossem visitas ilustres.
O cutuquei com o pé de onde eu estava sentado no sofá e ele me olhou com uma expressão de "O que eu fiz?". Nesse momento, houve um barulho de chaves do lado de fora da casa e Ben entrou xingando e pingando água por todos os lados.
- Que inferno, por que chove tanto nessa cidade? - ele praguejou, balançando o corpo como um cachorro.
- É melhor você dar um jeito nisso ou mamãe vai te jogar na chuva novamente - falou Lucas - Você está molhando toda a casa e os filhos pródigos já devem estar chegando.
- Não fale assim dos seus irmãos - ralhou minha mãe novamente enquanto pegava um pano, enxotava Ben e limpava o rastro molhado que ele deixava para trás.
- Eu já fui mais bem tratado nessa casa - resmungou Ben enquanto subia para se trocar.
- Você os chamou assim quando eles foram embora - disse Lucas voltando ao assunto dos filhos pródigos.
- Eu sou a mãe, eu posso chamar vocês do que eu quiser.
- Isso é abuso de poder - Victor resmungou enquanto descia as escadas.
- Já arrumou o seu quarto? - mamãe lançou para ele.
Antes que Victor pudesse dizer alguma coisa, a porta se abriu pela segunda vez e Arthur surgiu molhado como um pinto, assim como Ben, e então se abriu uma terceira e Nick apareceu do mesmo jeito que os dois anteriores.
- O que é isso, um cabaré? Por que ninguém tranca a porta? Ou todo mundo tem a chave dessa casa? - gritou Lucas e Arthur virou a cabeça em sua direção.
- Eu só n-não v-vou ai p-porque eu estou c-congelando - disse, seus dentes tilintando pelo frio.
- É bom ver vocês também - falei e arqueei a sobrancelha.
- Vamos cumprimentar todo mundo q-quando estivermos devidamente apresentáveis - disse Nick e empurrou Arthur para que pudessem subir.

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ღ Uma doce aprendizagem
RomanceDurante toda sua vida, apenas uma coisa esteve no topo da lista de desejos de Olívia Smith: Blake Johnson. Entre a infância inocente e a juventude limitada pela timidez, Liv não conseguiu dizer para o garoto que o amava e que queria passar a vida ao...