02| Fica bem

432 74 88
                                    

A M B E R

As palavras saem da boca dele, como se fossem uma música para meus ouvidos. Primeiro porque a voz dele é muito gostosa de ouvir, e nem quero saber porque estou pensando isso. E segundo porque eu gosto do que ele está dizendo.

Aparentemente alguém sumiu com todas as provas existentes, que não eram muitas, afinal, eu conseguia apagar qualquer imagem minha que fosse vista em uma câmera pública da cidade. As que existiam eram alguns vídeos meus dizendo para minha irmã que era eu. Assim como a digital nas cenas que deixei propositalmente. Ou seja, quase nada. A única que me incriminava de fato era o vídeo que eu aparecia matando a sem sal, mas se ele desapareceu, facilmente o jogo pode ser mudado.

Ele parece se sentir em seu hábitat natural ao falar com tanto orgulho o que vai fazer nos próximos dias. E isso me deixa com uma sensação que nunca senti na vida: felicidade.
Mesmo sabendo que fui eu que fiz tudo isso, poder sair daqui de dentro e ter a chance de recomeçar é algo muito bom. E por isso, a vontade de saber quem está por trás de tudo isso me faz querer sair mesmo.

Afinal, é nítido que essas provas todas só sumiram porque alguém muito importante conseguiu fazer essa limpa.

— Você não tem ideia de quem pode ter sumido com elas? — pergunto, tentando extrair algo dele.

Ele suspira, fechando sua pasta.

— Já te disse que não faço ideia, e pelo amor de Deus, para de falar que alguém fez isso. Já basta a federal tentando entender tudo isso. E acredite, hoje, quando eu enviar a petição para o juiz, essa cidade vai virar um caos. Seu caso foi muito famoso, e muitas pessoas ficaram contra você, assim como também tem muita gente ao seu favor, ou seja, caso seja necessário, vamos precisar apelar para a opinião popular. Então, por favor, a partir de agora, não tenha nenhum erro aqui dentro.

As palavras parecem entrar com tudo na minha cabeça. Eu nem fazia ideia que alguém poderia ter se importado comigo como ele está dizendo, até porque, eu sou uma assassina. Independente do motivo, eu matava pessoas. E não me arrependo.

— Eu já sou uma detenta exemplar, com esse incentivo, vou ser uma freira.

Solto um sorriso fingido ao ver ele me observar com calma.

— Certo, talvez ainda hoje eu volte aqui. Fica bem. — diz, e sai pela outra porta, me deixando sozinha, tentando raciocinar ao ouvir o que ele disse por último.

Fica bem.

Ninguém nunca me disse algo assim. Não depois de saber tudo que eu fiz.

Balanço a cabeça, tentando não pensar sobre isso. Foi só uma forma educada de mandar eu ficar quieta, sem machucar ninguém. Obviamente.

(...)

Batuco meus dedos impacientemente na escrivaninha ao ouvir minha colega amável cantar mais uma vez. Ela parece se divertir ao ver que está me irritando e isso me faz questionar porque ela não tem medo de mim.

— Caralho, você não cansa de ficar repetindo essa música? — pergunto, tentando não surtar.

Ela se vira, me olhando de um jeito totalmente diferente. Parece triste com algo. E isso me surpreende, porque eu nunca a vi assim. Ela parece estar feliz o tempo todo.

IN(QUEBRÁVEL) | ✓Where stories live. Discover now