"Thanks"

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25 de Dezembro de 1997

Draco encarava a constelação que iluminava o teto de seu quarto perdido em pensamentos perigosos e lembranças inesquecíveis. Boas e ruins. Há um ano ele estava naquele mesmo lugar, em sua cama e pensando nela, exceto por um acréscimo: o livro de Shakespeare. Pouca coisa mudou e ainda assim, absolutamente tudo estava diferente. Agora ele era só um cara apaixonado, como o parvo do Romeu. Compreendia um pouco melhor o personagem agora, o desespero por liberdade, por amor, a impulsividade estúpida, era de enlouquecer qualquer um! Ele próprio estava à beira de colapsar, e por isso, rolou para o lado, parando de bruços e pressionando o rosto em seu travesseiro, berrou a plenos pulmões. 

Não conseguia sair do lugar depois que sua mãe - com demasiado custo - o pusera ali, informando-o que Voldemort não obteve sucesso em seu plano. Contudo, o pavor do que quase ocorreu não se amenizou, e seu coração parecia que iria explodir enquanto sua mente brincava com ele, exibindo cenários tão reais e trágicos que era difícil se agarrar a notícia de que ela escapou, mais uma vez. 

— Filho, você precisa se acalmar — A voz preocupada de Narcisa o alcançou em meio ao pânico que o consumia.

— Você fala como se fosse fácil — Draco contrapôs, rouco. 

— Está desequilibrado, Draco! — Não era uma bronca, sua mãe parecia chorosa, e encarava-o com pesar.

— Não é a primeira vez que ouço isso e eu não preciso da sua pena. 

Ele virou-se para cima de novo, cobrindo os olhos com o braço esquerdo e chorando como uma criança. Era horrível de ver. 

— O que há de errado, você nunca se deu bem com Potter, e agora age como se a vida dele…

— QUE SE FODA O POTTER! — Draco vociferou, sentando-se em um rompante para olhar para a mãe — É com Hermione que eu me preocupo!

Os olhos azuis de Narcisa se arregalaram com discrição, uma surpresa comedida e desconfiada. 

— Mãe, se ela morrer eu não sei o que sou capaz de fazer — Ele chorou. 

Em um segundo, sua mãe estava ao seu lado, abraçando-o. Draco soluçou, agoniado, preso em seu próprio caos. 

— Foi longe demais, Draco — Ela murmurou em seus cabelos, e ele soube exatamente ao que, ou melhor, a quem, ela se referia. 

Ele queria contestar, dizer a sua mãe que ela estava redondamente errada, mas não conseguiria uma vez que pensava o mesmo. Fora longe demais, ele sabia, mas não se arrependia. 

— Eu a amo, mamãe — Ele murmurou, e parecia que era uma criança novamente, buscando desesperadamente uma solução no colo da mulher que lhe deu a vida. 

Aquela era a primeira vez que verbalizava para alguém o que de fato sentia pela castanha, com sua voz trêmula como as suas mãos e em pedaços. 

— Então precisa dizer isso à ela, querido — Sua mãe murmurou com mansidão, apertando-o um pouco mais em seu abraço. 

Sentiu-se acolhido por ela como nunca antes, uma mescla de alívio e surpresa o apossou e ele se afastou para olhar para a mãe, que lhe sorriu com afável. Draco levou uma mão ao rosto de Narcisa e acariciando-lhe a bochecha disse com a voz embargada: 

— Obrigado por isso. 

— Feliz Natal, meu amor — Ela colocou a mão sobre a dele. 

— Feliz Natal, mãe — Ele sorriu para ela. 

28 de Dezembro de 1997

Pela manhã, quando acordou, a sensação era de que havia ressurgido das cinzas, renovado e preparado para o que viesse. Foram longos dois dias de desintoxicação e conversas consigo mesmo. 

Escolhas Irreversíveis - DramioneUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum