Damaged And Numb

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03 de Janeiro de 1997

A água quente provinda de um dos chuveiros do banheiro masculino era quase revigorante. Quase, porque ao mesmo tempo em que relaxava seus músculos rígidos, também eliminava o encantamento que preservava capeada a marca negra de seu antebraço esquerdo - o desenho cravado em sua pele fazia juz ao seu significado; perdia o pouco de esperança que tentava conservar cada vez que encarava o símbolo de sua desgraça. Com um suspiro resignado, deixou-se escorar no box vaporizado e comprimiu os olhos com os dedos. "Não há nada tão ruim que não possa piorar", o provérbio ecoou em seus pensamento e nunca teve tanto discernimento da frase como naquele momento.

. . .

O livro de Shakespeare estava firme em sua mão e escondido por debaixo da sua capa - mesmo que àquela hora da manhã não houvesse ninguém relevante nos corredores que pudesse flagrá-lo com um livro trouxa. Rumava para o terceiro andar, precisava devolver o livro à Madame Pince, afora usá-lo como subterfúgio para ver ela. Suas "premonições" poucas vezes falharam, e quando se aproximou da biblioteca e avistou a cascata de cachos que só ela possuía em Hogwarts teve de segurar um sorriso presunçoso. Hermione estava com os braços cruzados sobre a bancada da pequena recepção de Madame Pince, a qual não se encontrava atrás da mesma. Deu passos silenciosos até ela - ou assim pensou -, e preparou-se para lhe dar um susto.

- Nem pense nisso. - Hermione o advertiu calmamente, virando o rosto e olhando-o por sobre ombro com as sobrancelhas erguidas.

- Estraga prazeres. - Draco resmungou em uma mágoa fingida, recostando-se com as costas apoiada à bancada, ao lado dela.

- Você por aqui à essa hora é de se surpreender.

- Não posso dizer o mesmo sobre você. - Draco abriu um sorriso para ela.

Não houve deboche em sua expressão ou em sua voz, houve apenas um contentamento real por ela ser tão previsível. Um ato automático, impensável e incontrolável, que como um imã, puxou um sorriso dela. Um sorriso de quem achou graça, que veio acompanhado de um breve desviar de olhos e um maneio de cabeça em negação.

- Caiu da cama? -Indagou ela com um quê de diversão na voz.

- Quase isso. - Draco respondeu erguendo o livro e pousando-o sobre a bancada - Precisava devolver.

- Então, você leu.

- Acho que é meio óbvio.

- Gostou? - Hermione mordeu o lábio inferior, parecendo ansiosa pela resposta.

- Por que não me contou que eles morrem?

- É o clímax da história, por que eu contaria?

- Clímax? - Draco arqueou a sobrancelha.

- Uma tragédia, mas ainda assim devastadoramente romântica!

- Sua visão de romance me parece um pouco mórbida.

- E qual é a sua visão de romance? - Replicou Hermione, cruzando os braços sobre o tórax e sorrindo de modo desafiador.

Como um flashback, a imagem de suas mãos despindo Astória pulou em sua cabeça. Um esgar tomou posse de sua expressão.

- Eu não tenho uma, Granger. - Draco piscou um olho para ela, recebendo como resposta de Hermione um riso pelo nariz e um empurrão de brincadeira com o ombro.

Draco nunca desperdiçou seu tempo pensando sobre romance, nunca sequer passou em sua cabeça! Todavia - graças à ela, ao estúpido Romeu e sua namoradinha sem cérebro -, uma curiosidade ingênua e repudiosa veio à tona por alguns segundos e ele se pegou imaginando como seria se ocorresse com ele. Quando a curiosidade infame evaporou - quase com a mesma velocidade com que surgira -, Malfoy fez um acordo consigo mesmo de nunca mais ler um livro indicado por Hermione.

Escolhas Irreversíveis - DramioneTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon