Primeiro olhar

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Sabe aquele sentimento de vazio, que não importa o que faça para preenchê-lo ele não some e as vezes até parece que aumenta, me sinto assim sempre um completo vazio, somente uma casca de ossos, carne e sangue.

Sangue, odeio a palavra, odeio a cor, odeio saber como é, sangue só tem um significado para mim dor e perda.

Desde que comecei as terapias mais intensivas com reuniões e consultas diárias com psicólogo e psiquiatra eu comecei a sentir cada vez mais medo e mais desespero.

Sangue, dor, perda e desespero eram os quatro pilares que me mantinham vivo nessa clínica e ao mesmo tempo morto, pois tudo dentro de mim estava morto eu não sabia o que fazer, algo me dizia para correr atrás da felicidade, mas como se eu nem acreditava mais nela.

Felicidade e Jeon Jungkook não foram feitos para se encontrar, seria o eterno doente mental que tinha surtos constantes, vivia a base de remédios para conseguir dormir, sem família, amigos, desovado em uma caixa de concreto só esperando o meu final tedioso e triste, talvez quando morrer seja feliz e essa agonia que me acompanha e me causa amargor na boca vá embora.

Espero que na morte tenha para onde ir porque em vida foi tudo uma desgraça.

Resolvo parar de procrastinar e levantar, sempre ficava devaneando deitado esperando a vontade de levantar.

Ritual diário banho e rumo ao refeitório tomar café.

Saindo do meu quarto vejo alguns pacientes caminhando por aí, claro os que tem permissão pois muitos ficam presos nas camas amarrados e contidos, devido a agressões e violência, uma vez uma paciente estava solta e correu até a mesa pegou uma caneta e enfiou no peito do psiquiatra, não foi fatal mas fez um rasgo horrível e ele perdeu bastante sangue. Desde então qualquer risco de violência eles usam a contenção com amarras e no final das contas isso é um hospicio onde muitos são desovados sem ninguém e deixados para morrer a míngua. Eu sou um deles, estou a quase dois anos nesse purgatório.

Não suporto mais sessões, reuniões, não vejo como é fora desses muros altos a muito tempo, não que tivesse algo me esperando lá fora mas queria um dia não ser mais um prisioneiro, queria minha liberdade, teve um época que parecia impossível eu melhorar, mas com o tempo comecei a me sentir diferente podem chamar de milagre, obra divina, esforço eu chamo de Park Jimin meu terapeuta.

Ele chegou umas semanas depois que eu, no início eu evitava ter um terapeuta só queria ficar sozinho, mas ele tem um jeito todo manso de se aproximar e quando vê tomou conta.

Lembro até hoje o nosso primeiro dia juntos.

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Acordei com muita dor de cabeça e estava de mau humor estava a umas 6 semanas aqui e não aguentava mais, crises de pânico eram diárias, falta de ar, tremedeira e desmaios constantes, já cheguei a agredir um enfermeiro o que me resultou em uns dias de contenção, me deixavam muito tempo sedado e naquela manhã que abria os olhos senti alguém tocar nas amarras e ao abrir os olhos o meu primeiro olhar foi de encontro ao seu.

Um homem muito bonito de camisa social azul e cabelos pretos me olhava e sorria de maneira doce e compreensiva e quando ouvi sua voz doce, uma parte de mim sentiu paz.

Ele me disse que o psiquiatra indicou acompanhamento diário e intensivo e eu iria ter um terapeuta o dia todo, só assenti.

Ele falou com Hoseok o psiquiatra e logo após falou com a equipe médica e me soltaram, fiquei tão impressionado que dei um voto de confiança a ele, e hoje faz 2 anos que ele me acompanha, sem desmaios, crises reduzidas, nunca mais fui contido e sem levar injeções que me apagavam na hora, ele até conseguiu que me liberassem para caminhar pelo jardim.

Toda tarde íamos e conversávamos, tive progressos mas estou extremamente cansado disso tudo queria fugir.

Ele sempre fora compreensivo nunca me delatou, sempre disse que tinha o direito de ser feliz e queria estar ao meu lado para me ver transbordar de felicidade.

Chegando ao refeitório vejo ele sentado com seus fones e o costumeiro caderno, sempre anotando algo. Me aproximei e sentei com ele, ele sorriu pra mim e fez sinal com a mão e um chocolate quente me foi entregue.

-- Obrigado Jimin-ssi.

-- Não precisa agradecer já estava esperando você, diz fechando o caderno, ele nunca me mostrou e sempre que me aproximo ele fecha e o guarda. Confesso ter uma ponta de curiosidade mas como já questionei e ele disse que era pessoal eu respeitei.

-- Quer passear no jardim? Tenho uma surpresa pra você.

-- Quero sim Jimin. O que será que ele está tão feliz em me mostrar.

-- Vamos caminhar então. Saímos juntos enquanto eu tomava meu chocolate quente, chegamos ao jardim e ele me chamou para sentar no banco.

-- Bom te trouxe aqui por dois motivos.

-- O primeiro é pra isso, me estendeu uma caixa de chocolate.

-- Hoje faz dois anos que sou seu terapeuta e quero te parabenizar pelo excelente progresso que está tendo fico muito feliz. Ele sorria e aquele sorriso me desmontava inteiro.

-- E o outro é ali, são lindas e achei que fosse gostar. Apontou para um canto onde tinhas várias flores e meus olhos brilharam eu amo flores.

-- Sabia que iria gostar, o jardineiro começou a cultivar algumas e já me disse que gosta então resolvi lhe trazer e mostrar, além do campo lindo e calmo agora temos flores.

-- Temos sim, eu agradeço muito, eu adorei sorri e ele sempre retribui com um sorriso lindo, depois disso me empanturrei de chocolate.

-- Você tem reunião e depois uma consulta com o psicólogo, após isso toma um banho e me encontra na sala de exercícios ok.

-- Claro Jimin, sempre o obedecia afinal ele sempre provou ser confiável e preocupado e tudo que precisava ele estava lá para me ajudar.

Um homem lindo e bem resolvido ficar cuidando de um paciente que nem vale a pena só Jimin mesmo, ignorei esse pensamento ele me pediu para tirar o calçado, fiz isso junto a ele e caminhamos de pés descalços na grama uma sensação maravilhosa.

Caminhavamos lado a lado, sorrindo e falando sobre liberdade, sonhos, planos e felicidade.

Me sentia cada dia mais nervoso perto dele e não sabia do porque, mas ao mesmo tempo que ficava nervoso eu sentia que tinha encontrado um amigo que me compreende e me faz sorrir.

O que estão achando?
Próximo capítulo sem previsão.

Chocolates, declarações e um adeusDove le storie prendono vita. Scoprilo ora