Capítulo 5

735 54 1
                                    

Caminhamos até a arquibancada na quadra. Finalmente a última aula de Educação Física, Thalia está sentada, olhando alguns alunos do primeiro ano jogando futsal. Novamente sou bombardeada de lembranças, observando-a nunca seriamos amigas, ela tem um estilo mais rock, diferente do meu estilo romântico. Não que isso signifique uma má pessoa, Thalia costuma ser hostil no meio social.

Ela nos oferece balas de menta, enquanto sentamos ao seu lado.

—A professora te dispensou? — Pergunto curiosa, ela também não faz o tipo de aluna exemplar.

Thalia me olha, com a expressão sarcástica, encostando-se a parede.

— Fui expulsa da sala e mandada para a diretoria. Minha última visita ao diretor — sorri.

—O que aprontou dessa vez?

—Bom... discuti com a dona da verdade: Sofia, eu não me lembro do motivo, mas acho que ofendi a professora, me mandaram para a diretoria, ouvi as reclamações e vim para cá.

— Você é perversa quando quer— digo e ela dá de ombros.

— O diretor deu graças aos céus por não me ver aqui ano que vem, mas garanti que meu filho estudará.

—Nossa que planejamento! — Paul diz.

— Conte-me uma novidade. Minha vida se resumia a brincar no colégio, agora está sendo tirado de mim, espero que a faculdade seja divertida.

Acredito que Thalia nunca irá mudar sua personalidade marcante.

Nossa aula passa rapidamente, dando-me apenas um tempo para reviver algumas lembranças. Sorrio quando Paul faz uma cesta de três pontos e irrita Frederico.

Logo o jogo termina e o professor apita pela última vez.

Eu sentiria saudades de assistir meus amigos em quadra fazendo travessuras para que eu sorrisse com as implicâncias. Dos minutos extras estudando para as provas ou simplesmente lendo algum livro.

Paul corre até mim, ajudando-me a levantar, embora isso não seja necessário. Nossos amigos se aproximam reclamando do placar final. Sinto uma leve dor no joelho, mas consigo manter minha face serena.

As cirurgias foram constantes aos treze anos, depois vieram às trocas de aparelhos, fisioterapias, as tentativas de um equipamento no joelho imperceptível, capaz de facilitar minha locomoção. Uma grande evolução no meu estado, entretanto, nunca seria capaz de andar sem mancar.

Creio que não desisti antes devido as esperanças do meu pai.

Andamos até a cantina, Beca continua acusando o time de Paul, ela não gosta de perder, sendo a presidente do grêmio estudantil, vencer é sua única opção. Assim que me sento Rebeca estende um pequeno embrulho laranja e sorri.

— Não precisava.

— Eu sei, mas não é todo dia que se fazem dezoito anos nem se forma no ensino médio.

Abro o embrulho, o presente é um cachecol preto, idêntico ao que vi numa loja quando saímos às compras com sua mãe.

— Soube que a cidade que irão morar é fria, você também ficou namorando esse cachecol na vitrine que achei um presente inesquecível.

— Obrigada. Eu adorei.

— Tudo bem, agora abre o meu — Thalia me entrega uma caixa vermelha, olhando-me ansiosa.

Prendo a respiração, desejando que não seja uma caveira ou algo da mesma natureza. No meu último aniversário, ela me presenteou com um abajur de esqueleto, piorando meu apelido de bruxa, e não combinou com a decoração do meu quarto.

O presente é uma camisola, fecho a caixa rapidamente antes que Frederico apareça e comece com suas piadas sem graça. Fito-a boquiaberta.

— Quem sabe morando juntos, esse relacionamento aconteça — sugere em tom baixo para que somente eu ouça.

Muito espirituoso! Só falta me dar algumas dicas de como agarrá-lo. Penso, escondendo o presente dos outros.

— Bruxinha — Frederico me chama a metros de distância. Afundo meu rosto entre as mãos, quando todos na cantina me olham. — O presente que comprei é o melhor — abro os olhos devagar e ele me estende um saquinho lilás.

— Você que escolheu? — Pergunto admirada, retirando uma gargantilha com pingente de coração.

—Eu tive uma ajuda— estreito meu olhar e ele suspira em derrota— Ok, minha mãe quem comprou.

— Agora acredito em você — sorrio — Adorei os presentes, vocês são os melhores amigos do mundo, vou morrer de saudades — digo com os olhos marejados.

Olho para Paul esperando a surpresa. Ele sorri, meneando a cabeça como se eu fosse culpada por estar curiosa, levanta e estende a mão para mim.

—A aniversariante é só você.

Curiosa com o presente? Estaria mentindo se disse que não.

Finjo não ouvir as piadinhas e os risos maliciosos dos meus amigos, segurando a mão de Paul. Saímos em direção a uma árvore o lado norte do pátio. Procuro impaciente uma caixa de presente, sem muita sorte.

— Então? — Pergunto, vendo-o se sentar na grama.

— Você é muito abelhuda— bate a mão ao seu lado para que me sente.

Sento-me, observando cada milímetro, voltando minha atenção para ele.

— Onde está o meu presente? Para ser mais exata qual é o presente?

— Excepcionalmente ou não, entregarei seu presente hoje à noite no baile.

— Você só esqueceu um detalhe importante; não vou ao baile.

— Você não entendeu, Valentina — ele balançou a cabeça, frustrado.

—Como assim? Eu não vou ao baile, muitas pessoas também decidiram não ir, não vejo nada demais em escolher ficar em casa, assistindo um filme ou arrumando as malas.

—Mas você tem outra opção mais interessante — ele insinua.

—E qual seria?

—Ir ao baile comigo.

Ir ao baile? Quer dizer, ele e eu, roupa de gala, música, um salão com todos meus antigos colegas de turma, dançar e curtir? Por que essa opção me faz querer fugir o mais rápido possível e me esconder para que ninguém possa me achar, pelo menos até amanhã.

Solto a respiração, surpresa com seu pedido. Abro minha boca diversas vezes, mas a voz persiste em continuar muda.

—Você quer ir ao baile comigo? — Ele pergunta.

—Por que eu?

—É nossa última noite na cidade, a última oportunidade de sermos jovens sem o peso das responsabilidades, além disso, adoro sua companhia, principalmente num baile entediante.

— Não me convenceu— digo, me levantando.

— Prometemos aproveitar juntos todas as festas, fazer todas as maluquices nesses três anos. Por favor — ele pede segurando minha mão.

—Isso é jogo sujo, Paul! Tudo bem, eu vou com você ao baile.



Posso dançar com você?Where stories live. Discover now