Capítulo 6

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O sinal toca findando o intervalo. Ando pelo corredor em direção à sala de aula. Não consigo descobrir o real motivo para ter aceitado a proposta de Paul e ir ao baile. Culpo minha falta de confiança, medo que seu pedido represente mais uma ação de caridade, piedade que tento correr diariamente, e que parece ter o prazer de bater a minha porta.

— Já escolheu onde irá almoçar? — Frederico pergunta sentando em minha mesa, esperando que eu não fuja e espere o jogo.

— Acho que meu pai ficará feliz com minha companhia — respondo, sorrindo e ele revira os olhos como se contestasse o óbvio.

As demais aulas passam ligeiramente, até que nossa última professora, finalmente, se despede desejando sucesso em nossa carreira. Ela sorri para mim, antes de se retirar, deixando-me sozinha.

Termino sendo a última a abandonar a sala, meus olhos percorrem as carteiras, minha mente reconstrói os momentos que vivi aqui, as conversas paralelas, os dias de prova, apresentação de trabalhos... Momentos de completo abandono...outros apenas ilusões. Observo o quadro negro sem qualquer risco de giz, a mesa da professora vazia e a janela.

Da janela vejo o pátio lotado, os alunos dos terceiros gritando, pulando, cantando, outros choram abraçados. Meus amigos estão parados, despreocupados, quem sabe conversando sobre como será o amanhã.

Respiro fundo, colocando a mochila no ombro, caminho devagar, observando cada detalhe, até meu armário. Havia demorado oito meses para decorar o segredo e agora os números se tornarão uma lembrança divertida, as vezes que precisei arrombá-lo.

Retiro todos meus objetos, embora eles não tenham qualquer serventia. Não acredito que estou com saudades! Em pensar que contava os dias para me livrar do colégio.

Saio em direção ao campo de futebol, alguns metros de distância da quadra, não é muito longe, mas a caminhada é..... Cansativa. Sinto-me desanimada e penso seriamente em voltar para o prédio, no entanto, o portão do estacionamento está trancado e meu pai ainda não ligou.

Quando me aproximo, escuto o som da banda, logo vejo as líderes de torcida... Sempre quis ser uma, embora fosse um caso impossível. O time de futebol está esperando inquieto o momento de jogar e vencer. Sento na parte superior da arquibancada, bem próxima da saída.

O diretor Jason se aproxima da banda com o microfone em mãos, aguardando o silêncio primordial. Ele está vestindo um terno preto, os cabelos castanhos bem penteados e o aspecto sério, quando se dá por satisfeito inicia o discurso previamente decorado, dando ênfase a cada palavra como se elas fossem um breve manual do que se esperar do futuro.

O futuro... O que ele realmente significa?

— Hoje, vinte e três de julho de 2011, cento e quarenta e sete alunos estão se formando, concluído uma fase crucial de suas vidas. Preparados para uma nova etapa, novas realizações, presenteando aos pais a orgulho de conseguirem sair do ensino médio. Vocês já são vencedores! Esperamos que o caminho escolhido por cada um de vocês leve-nos ao sucesso e a realização profissional, pois, poderão ter a certeza de que seus esforços valeram a pena, como cada obstáculo derrubado em cada ano...

Ele faz uma pausa e todos os aplaudem, mas as demais palavras se perdem como folhas arrancadas brutalmente das árvores em dia de temporal. Divago sobre esse tal caminho escolhido, pois há tantos empecilhos imprevisíveis. Quanto aos esforços.... Como posso saber o valor de cada noite acordada, o estresse causado pelas provas, o sentimento de frustração diante de uma nota baixa?

Talvez eu tenha falhado.

Nossos atletas entram em campo, findos a mais uma comemoração. Permaneço alguns minutos, olhando-os correrem, gritarem e a torcida vibrar, até resolver ir embora. Eu poderia ter sorte quando saísse pela secretaria.

A senhora Gwen me deseja boa sorte, observando-me enquanto passo pela saída em direção à rua. O celular do meu pai está desligado, decido esperar um pouco, poderia ter ocorrido algo no restaurante e ele tenha ficado preso a uma reunião com seus sócios.

Chamo um táxi, confiro minhas ligações, as únicas não atendidas restringem-se as de Paul e Beca.

A casa está fechada. Suspiro em frente à porta, destrancando-a. Grito meu pai, ele tem a mania de esquecer-se do mundo, ocupado com algum livro de receitas incríveis, mas ao entrar na cozinha e dirigir a geladeira encontro um bilhete com sua caligrafia única:

—  Problema no restaurante, prometo voltar logo. Mais uma vez: Feliz Aniversário.

É! Feliz aniversário Valentina!

Coloco o congelado ao micro-ondas, preparando um suco e tomando outro analgésico. Pelo menos, o senhor Rafael deixou um brownie com uma velinha rosa.

Não é o almoço que havia planejado e esperava ganhar no dia do meu aniversário. Eu não me importaria de ter a companhia dele e algumas recordações, tudo parece ao avesso.

Sozinha. Em meu estúdio. Olhando para a última foto que tiramos juntos: Mamãe, papai e eu... Antes da viagem.



Posso dançar com você?Where stories live. Discover now