Capítulo 9

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Olho-me no espelho sem reconhecer. O vestido cinza serviu perfeitamente tornando-me mais delicada, calcei as sapatilhas da mesma cor sem esquecer meus inseparáveis aparelhos ortopédicos.

Deixei o cabelo solto com cachos mesmo sabendo que logo se desordenarão. Sento-me em frente à penteadeira começando a maquiagem. Talvez, fosse melhor aceitar a ajuda de Rebeca ou da irmã de Paul, mas eu poderia fazer isso sozinha.

Aplico o pó, seguido da sombra branca e preta, o lápis de olho, a máscara de cílios deixando meus olhos marcantes, iguais da minha mãe, aplico o blush e um batom rosa claro com o brilho.

Inevitavelmente penso em minha mãe. Ela provavelmente estaria aqui comigo, dizendo qual sombra ficaria melhor, que eu poderia abusar de um batom vermelho e não se esquecesse dos acessórios. Quem sabe fossemos ao cabeleireiro e depois a uma loja para experimentar outros vestidos mesmo que tenhamos um, em cima da minha cama, já passado.

Escolheríamos três pares de sandálias, mamãe estaria com os olhos marejados a me ver pronta e tiraríamos inúmeras fotos para o álbum. Respiro fundo evitando chorar, essa sensação consiste no desconhecido futuro cada vez mais próximo.

Levanto-me, sorrindo para meu reflexo.

— É a sua noite, Valentina — pego minha bolsa pronta para sair.

Meu coração bate mais rápido a cada passo, talvez eles fiquem espantados em me ver tão diferente, talvez ninguém me perceba no baile, talvez eu só me sinta feliz com meus amigos.

São muitos talvez!

Thalia irá falar mal de todas as líderes de torcida e prever o futuro dos outros, enquanto Rebeca ficará envergonhada toda vez que Frederico segurar sua mão.

Meu pai me olha com admiração deixando-me cega com os flashes, Paul está ao seu lado surpreso e nervoso, ele abre a boca diversas vezes, só não ouço nenhum som. Eu exagerei?

— Você está linda— meu pai me abraça emocionado.

— Oi para você também, Paul — digo, ele parece sair do seu transe e ri ainda embasbacado.

— Onde está a menina que conheço? — Ele questiona segurando minha mão, fazendo com que eu dê uma voltinha — Boa noite, senhorita.

Meu pai tosse de mentira, repassando todas as suas regras: não beber, não fumar, não aceitar nada dos outros, voltar para casa cedo. Não confiar em ninguém, olhou para Paul com cara de poucos amigos e pediu que eu me divertisse com responsabilidade.

— É a minha vida que estou entregando a você — ele diz a Paul, deixando-me confusa.

O que eu havia perdido enquanto me arrumava? O que conversaram de tão preocupante ao ponto de meu pai dizer exatamente às palavras que meu avô repetiu a ele há vinte anos?

— Fique bem, comporte-se também — beijo sua bochecha — Não fique muito tempo no restaurante sozinho, é perigoso.

Rafael assente rolando os olhos, cansado de ouvir meu discurso decorado de todos os dias a oito anos. Acenei já dentro do carro, ansiosa com as próximas horas, nunca mais seria tudo igual. Eu estava me formando.

Formando! É nessas horas que você sente seu coração se apertar, principalmente quando vê a escola que foi sua casa durante anos, pessoas que você conviveu ou simplesmente viu andar no mesmo corredor que você, sendo provável nunca mais vê-las.

Posso dançar com você?Where stories live. Discover now