Ano Novo - Parte I

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 Enquanto conversavam sobre o futuro, o casal de namorados foi surpreendido por Miya. Dessa vez, a garota não bateu na porta.

— Você não sabe o significado de privacidade? — indignou-se Eiji.

Ela não deu vazão ao aborrecimento do irmão, revelando em suas mãos dois trajes ricamente trabalhados.

— Sabia que você não iria decepcionar — sorriu o americano, indo ao encontro da garota.

Eiji alternou seu olhar de Miya para Ash, perguntando-se desde quando aqueles dois eram tão próximos.

— Comprou um para você também? — indagou o americano.

— Sim! Meu kimono é branco e rosa como eu havia dito, além disso possui forro interno que protege contra o frio. Ele é lindo, mas o valor foi meio custoso. De qualquer forma, você disse que não precisava olhar os valores, por isso eu...

Ash levantou a mão, interrompendo Miya. — Eu disse isso, então dispense justificativas. — Enquanto falava, não relaxou o sorriso por nenhum momento. Ele estava deslumbrado com o próprio kimono.

Eiji estava prestes a dar um sermão na irmã sobre usar dinheiro que não lhe pertencia; Ash também ouviria por gastar despreocupadamente, mas as palavras do fotógrafo morreram na garganta, pois ele não queria estragar o momento. Ash estava ansioso pelo Ano Novo e não era o momento de criticá-lo.

Relaxando, apanhou seu traje. Nunca antes ele havia usado um kimono tão luxuoso como aquele. O tecido era sem igual e totalmente preparado para suportar o frio de inverno, além do que cada kimono vinha acompanhado de um haori, o que garantia um aquecimento ainda maior.

— Vamos, experimentem! — incentivou Miya.

Eiji estreitou seus olhos. — Não seja ansiosa. Você nos verá usando o kimono mais tarde. Veja, o sol já está sumindo. O Ano Novo está quase batendo na porta.

Percebendo a passagem de tempo, a garota se exaltou, sentindo que precisava urgentemente se aprontar para ver os fogos. Toda sua arrumação exigiria longas horas, de modo que não devia perder tempo. Entretanto, assim que deu um passo para ir embora, sua atenção foi tomada.

— Espere! — interceptou o americano. Em seguida, ele foi até sua mala e sacou dali um pequeno embrulho, entregando-o a Miya. Pega de surpresa, a jovem aceitou imediatamente. Ela não entendia o porquê daquela amabilidade, mas como nunca foi do tipo orgulhosa, aceitou sem pestanejar.

— É uma presilha de cabelo. Vai combinar com seu kimono — sorriu o americano.

Agradecida e com pressa, a jovem se retirou do quarto, deixando o casal mais uma vez a sós.

— Estou curioso, porque está sendo tão querido com aquela pestinha? Por acaso ela está te subornando? — O tom do fotógrafo denotava seriedade. Ele realmente era capaz de imaginar sua irmã cometendo tal atitude.

O outro não pode deixar de gargalhar. — Na verdade, comprei duas presilhas, mas sinceramente não tenho coragem de entregar o presente da sua mãe. Mas devo dizer que de coração, eu quis presentear Miya.

Eiji estava curioso. — Simpatizou com a pirralha?

— Eu sou agradecido a ela. Em Nova York você me mostrou um amuleto que ganhou dela. Geralmente esses amuletos são bem populares no Ano Novo, certo? O amuleto que Miya te deu era um desejando prosperidade no amor. Não é que os desejos dela se tornaram reais? Apenas por isso senti que devia algo a ela.

Eiji sorriu. Em toda sua vida, ele sempre debochava dos filmes excessivamente românticos, imaginando que as pessoas de verdade jamais se entregariam tanto. E lá estava ele, namorando um idiota romântico. E por mais que tentasse negar, ele adorava aquela atenção. Se Ash era um tolo apaixonado, ele não era muito melhor. Começos de namoro sempre foram assim?

One more time, One more changeWhere stories live. Discover now