Feira de orgulho e vaidades

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Sempre há uma razão para aquilo que fazemos. Mesmo quando não sabemos de fato porque fazemos o que fazemos, ainda existe uma razão que nos guia em tal direção.

Pode ser que os motivos sejam inconscientes, ou se derivem de lugares profundos e escondidos dentro do peito ou das lembranças. Até os atos impulsivos e improvisados tem alguma raiz e portanto uma "justificativa" para acontecerem. Nada é por acaso e até o acaso parece ter uma razão para ser.

Ana estava vivendo sua vida. Trabalhava na fazenda, ajudava a comunidade, cuidava de tudo aquilo que merecia cuidado, tentava ser boa e fazer o que julgava ser o correto. Não eram atos atoa. Cada movimento seu tinha um propósito e mesmo quando a princípio não via muito sentido, lembrava-se depois de se inspirar em algo que Pedro havia feito ou dito. Suas razões eram o marido, por vezes essa era a sua única motivação. Assim não desistia sempre que as coisas ficassem difíceis ou quando não achava em si mesma disposição para continua.

Em uma manhã clara de primavera, os vizinhos se reuniam e acotovelavam em volta de uma carroça que trazia roupas e utensílios para vender. Era raro aparecer no vilarejo comerciantes viajantes que trouxessem alguma novidade. Então quando algum aparecia, o vilarejo virava uma festa.

Em tempos difíceis, podemos nos animar e alegrar com coisas poucas, pequenos momentos se tornam memoráveis e um escudo contra a dor sempre latente.

Depois de comprar alguns objetos que precisava e enquanto caminhava de volta para a fazenda, Ana escutou alguém falar a seu respeito.

"Ana é uma boa mulher." Ouviu uma voz dizendo em sussurro.

"Sim. Vi que comprou um pente novo e um espelhinho. É uma mulher muito bonita, não é mesmo?" respondeu outra voz.

"Sim, muito bonita. Deveria se arrumar um pouco mais, penso eu."

"Além de bonita, é uma das mulheres mais gentis que já conheci. É trabalhadora, generosa e tão prestativa."

"Ouvi dizer que ajuda todo mundo aqui no vilarejo."

"É bem verdade. É uma das melhores pessoas que conheci."

Ana escutou os comentários sem se virar para ver quem falava. Apenas sorriu consigo mesma e ficou contente com os elogios. Encheu o peito com um pouco de orgulho e se envaideceu. Não eram sentimentos comuns a ela, mas os acolheu no peito e por um tempo, a fizeram bem.

Ao chegar em casa, soltou as tranças do cabelo, os deixou soltos e prendeu a parte da frente do cabelo com alguns grampos. Pedro a elogiava quando usava os cabelos assim. Olhou-se no espelhinho e sorriu satisfeita. Era uma mulher ainda jovem e bonita, por vezes se esquecia disso. Sua vida não era lá de muitas vaidades.

Quando foi servir um lanche aos trabalhadores da fazenda que reconstruíam um pedaço do teto do celeiro, Ana recebeu envaidecida seus elogios.

"Está muito bonita hoje, dona Ana." Disse um dos homens.

"Parece uma princesa." Henry concordou.

Ela corou e fingiu estar envergonhada, mas gostou dos elogios e passou a desejá-los. Costumava recebê-los frequentemente, mas não havia dado ainda a devida importância a essas palavras.

Passou todas as manhãs a se arrumar um pouco mais. Penteava com cuidado o cabelo, passava um pouco de rouge na bochecha e se perfumava.

Reclamou dos vestidos velhos e gastos, das cores já desbotadas e das costuras remendadas de suas roupas simples. Seria mais bonita se tivesse coisas melhores, tecidos de linho e cetim lhe serviriam muito melhor e renda seria um sonho. Verde e azul eram cores que iluminavam a sua face alva, mas a maioria de suas roupas eram de tons neutros como marrom, branco, cinza, bege e preto.

Ele disse que voltaria (Conto Cristão)Where stories live. Discover now