Prólogo

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O líquido vermelho e pegajoso pingava em minhas mãos, meu cabelo grudado em meu pescoço e rosto por conta do suor,

As roupas pretas se agarravam em minha pele, lá fora um frio de 6 graus e chovia tanto que parecia que o mundo iria se inundar em água,

Mas dentro de mim existia apenas fogo,

Enquanto eu caminhava calmamente em direção ao verme que estava se arrastando. Suas mãos e pés amarrados, o medo se misturando com as lágrimas em seus olhos, na minha mão direita uma pistola com um silenciador, na mão esquerda um galão de gasolina e em meu bolso um esqueiro

O esqueiro de puro ouro, o preferido dele.

- Pare de se debater e apenas espere a morte. 

Eu cantarolei para a minha próxima vítima, mas essa. Essa era a que tinha meu ódio, essa era a que eu mais estava desejando matar.

Um sorriso macabro surgiu em meu rosto quando as costas dele finalmente chocaram na parede, ele não tinha para onde ir. Estava preso entre mim e a parede como minha presa, a presa que com prazer eu irei devorar, eu caminhei assoviando até ele, me deliciando do seu pavor

- O que ela vai fazer agora?  Ela está louca?

Fiz em voz alta as perguntas que os olhos dele gritavam para mim e um líquido chegou até meus pés e eu sentir meus músculos faciais se repuxar em um sorriso enorme,

Urina.

Ele estava urinando de medo, medo de mim.

- Imagino que você esteja amaldiçoando o dia em que me conheceu.

Me agachei e fiquei na altura dele, com a ponta da minha arma levantei o queixo do maldito para que olhasse bem em meus olhos

- Eu não irei te julgar, eu também estou me amaldiçoando por ter confiado em você. Por ter deixado ele confiar em você.

Ele gritou coisas que eu não entendi por conta da fita isolante que tampava a boca dele.

Meu pai era o melhor homem que eu podia conhecer, ele me transformou em uma arma letal e indestrutível para que eu podesse me proteger, sobreviver na guerra que é viver, ele me preparou durante anos para o dia em que ele iria partir, para o dia em que a morte o levaria e embora eu estivesse lidando bem com a morte dele eu não conseguia lidar bem com a idéia dele ter sido assassinado pela porra do melhor amigo.

Se ele tivesse realmente falecido naquele acidente, eu iria chorar, mas iria me acostumar e iria tentar seguir enfrente sem ele, pois como ele sempre dizia;

A morte chegava para todos e uma morte indolor é a melhor benção que se pode receber.

Mas não, por inveja o melhor amigo dele o matou, sem escrúpulos e nem piedade.

Por inveja da capacidade dele, meu pai era o número um da liga e esse desgraçado na minha frente nunca suportou isso, a idéia de ser um coadjuvante enquanto meu pai tinha o papel principal, meu pai morreu por ter confiado cegamente na pessoa errada.

E eu iria cobrar, eu estava cobrando.

Passo a língua nos lábios enquanto o cano da minha arma desenha o rosto do próximo cadáver da minha lista e sorrio com a cena

- Sabe Trevor, eu cheguei um dia te considerar parte da família.

Me levantei e chutei o rosto dele que caiu para o lado com o impacto, o rosto dele já estava totalmente irreconhecível pelos machucados, eu estava mantendo ele preso aqui hoje completava um mês, exatamente um mês desde que meu pai morreu.

Eu venho torturando ele diariamente e quando o maldito corpo dele parecia prestes a ceder eu cuidava dos machucados e dava remédio, fazia ele se recuperar e então voltava a torturar, de novo e de novo.

Mas hoje eu recebi uma ligação em que eu tinha que ir morar com minha mãe na Alemanha, serei obrigada a voltar e ir no primeiro vôo amanhã, por isso infelizmente meus planos de matar Trevor teve que ser adiantado.

Volto a me agachar e tiro a fita da boca dele, eu precisava ouvir seus gritos, suas últimas palavras. Meu pai me ensinou que sempre deve deixar as pessoas se expressarem e agora irei deixar ele expressar o que estava sentindo

- ATIRA EM MIM, ME MATA, ME MATA!

Jogo a cabeça para trás e gargalho alto, me deliciando do momento.

- ME MATA LOGO, ME MATA!

Meu corpo treme pela risada conforme ele grita ainda mais alto, com mais desespero

- Você é um filho da puta sortudo Trevor, precisarei te matar hoje. Quando na verdade iria me divertir com você até meu próximo aniversário daqui a cinco meses.

Solto uma risada ácida e levanto, miro minha pistola nos pés de Trevor e atiro, ele grita de dor e eu reviro os olhos, ele já sentiu tanta dor durante esses 30 dias, ainda não se acostumou?

Fraco do caralho.

Pego o galão de gasolina e abro, o cheiro forte do líquido faz meus olhos lacrimejar e meu nariz arder mas ignoro isso e começo a jogar a gasolina por todo lugar, inclusive no corpo dele

Ele irá sofrer até o último segundo.

Guardo minha arma no cós da calça e olho uma última vez para o homem que um dia cometi o erro de confiar e considerar amigo

O assassino do meu pai.

Trevor Márquez.

- Te vejo no inferno.

Rosno e começo a andar de costas para não perder o olhar de terror dele, quando já havia chegado na porta eu pego o esqueiro

O esqueiro com as iniciais de meu pai

M.V- Michael Vincent.

Respiro fundo e fecho os olhos sentindo algumas lágrimas molharem meu rosto, isso não irá trazer meu velho de volta, nem irá diminuir minha dor. Porém, eu iria conseguir caminhar em paz sabendo que o assassino dele morreu desejando nunca ter entrado na minha frente ou ter me tirado meu pai.

Me agacho e faço a pequena chama do esqueiro se agarrar ao rasto de gasolina e seguir até o corpo de Trevor que já estava gritando desesperado,

Giro os calcanhares e começo a andar para fora dali, quando a noite fria me recebe e chuva imediatamente encharca meu corpo, eu suspiro e caminho até minha moto ainda segurando com força o esqueiro na mão.

Sento na moto e assisto a casa queimar, os estralo da madeira chega até meus ouvidos junto com os gritos de Trevor, fecho os olhos para absorver tudo o que acabei de fazer

Ou está do meu lado ou na minha frente.

E ele escolheu está na minha frente e eu não costumo desviar o caminho, eu passo por cima.

Ligo a moto e saio, deixando para trás o ódio,

O ódio te tira o foco, te deixa cega.

Eu sempre achei isso, mas dessa vez o ódio me deu combustível para desejar o sangue como eu nunca tinha desejado antes,

Eu sou a caçadora e ninguém pode me caçar.

O inferno é meu pois eu sou a Lilith.


 

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