15° Capítulo

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Ficamos por um tempo em silêncio, ninguém tinha coragem de falar nada. 

Diego: Filha… Você não tem culpa, você não sabia o que estava fazendo, era a outra parte. 

Ayla: Não pai, eu sabia o que eu estava fazendo, eu via ela gritando de dor, o sangue saindo do pescoço dela toda vez que eu enfiava as garras — As lágrimas desciam uma atrás da outra. 

Ayla: Vocês sempre me deram o melhor e eu matei a mamãe, era só eu. Eu fiz com você o mesmo que fiz com Isaac, te prendi no chão pra ver ela morrendo, eu forcei você ver sua companheira morrendo na sua frente. 

Diego: Ayla… 

Ayla: Os gritos dela só me motivavam, ouvir vocês gritando e ver o sangue dela me deixava feliz. Eu guardei isso por muito tempo, você sabe que eu me sinto culpada pela minha outra parte mas não era ela, era eu. 

Isaac: Ei, não foi culpa sua, a sua outra parte te convenceu disso mas não é culpa sua. Você não queria isso, não precisa se culpar. 

Vi meu pai se levantar e ir pra fora da cabana, só abaixei meu olhar e chorei mais. 

Senti os braços de Isaac em minha volta e tudo que eu sentia era vontade de arrancar meu coração fora. 

Escutamos um barulho e olhamos para a porta da cabana. Meu pai entrou com uma caixa nas mãos e sentou do meu lado. 

Diego: Quando eu te ensinei a escrever a primeira coisa que você escreveu foi que você me ama e ama sua mãe. — Me entregou um caderno pequeno bem velho e abriu na primera página mostrando o que eu tinha escrito. 

Diego: Quando era pequena você amava desenhar e você desenhou eu você e sua mãe olhando as estrelas. Quando você deu uma de poeta e escreveu um texto sem sentido falando de nós três. 

Diego: Eu não te culpo de nada que aconteceu, foi uma dor enorme ver minha companheira sendo morta mas a dor maior foi sentir que poderia te perder. Você é a única que restou na minha vida, um fruto do nosso amor. 

Ele largou os desenhos e o caderno de lado e segurou minhas mãos olhando em meus olhos. 

Diego: Eu tinha que ser forte por você, tudo que eu fiz até agora foi porque eu te amo, você é minha filha e eu nunca te culparia de nada, a não ser que você me amarre enquanto eu esteja dormindo pra eu achar que alguém tinha entrado na cabana — Ri me lembrando do olhar de desespero dele. 

Enquanto ele estava dormindo eu o amarrei e baguncei um pouco a cabana para parecer que eu tinha sido levada. 

Ayla: Foi engraçado — Nós três rimos juntos — Eu nunca tive coragem de pedir, então… Me desculpa por ter te causado tanto sofrimento. 

Diego: Não tenho que te desculpar de nada, você não teve culpa — Me abraçou, coloquei minha cabeça escorada em seu ombro e ficamos assim por um tempo. 

Isaac: Então… Desculpa atrapalhar o momento mas, daqui a pouco vai amanhecer e precisamos arrumar uma desculpa muito boa de onde vocês vieram. 

Diego: Tudo bem, vou pegar o livro de magia e já vamos — Saiu da cabana, ele sempre coloca as coisas importantes no alçapão atrás da cabana. 

Isaac: Você tá bem? Se sente mais aliviada agora? 

Ayla: Tô bem, tirei um peso das minhas costas. Obrigada — Me olhou confuso. 

Isaac: Porquê ta me agradecendo? Não fiz nada — Abriu um sorriso sem graça. 

Ayla: Eu só consegui falar porque você ficou por perto, quando você tá perto eu me sinto segura. E agora eu sinto que posso confiar em você. 

Acho que ele ficou sem graça, mas manteve um sorriso no rosto. 

Isaac: Também me sinto assim perto de você, disse que pode confiar em mim, não vou deixar nada te acontecer, agora vamos lá fora lobinha, você tem muita coisa pra conhecer. 

Levantou e me estendeu a mão, a segurei e saímos da cabana. 

Encontramos meu pai trancando o alçapão e estava com uma mochila que estava guardada. 

Estendi as mãos em direção a cabana e comecei a recitar o feitiço de proteção, logo uma camada de luz roxa se acumulou em volta do local. 

Ayla: Feito — Olhei para meu pai e sorri — Agora vamos para a alcatéia. 

Diego: Vamos pra alcatéia — Segurou minha mão firme e retribuiu o sorriso.

                             🦋🦋🦋

Os raios de sol já começavam a aparecer e iluminar nosso caminho no meio das árvores. 

Isaac: Aí, seu pai ficou meio estranho comigo — Ficamos lado a lado e meu pai ia na frente — Será que eu fiz alguma coisa? 

Ayla: Acho que não — Dei de ombros — Se tivesse feito você não ia chegar perto da gente porque ele não ia deixar, então tá tudo certo.

Diego: Sem muita conversa aí atrás, vamos logo — Isaac me olhou e rimos. 

Isaac: Acho que ele ta um pouco incomodado. — Me olhou e logo acompanhou meu pai. 

Fiquei um pouco atrás pensando como é na alcatéia, será que vou poder libertar minha loba sempre que quiser? Papai disse que é perigoso, melhor soltar quando estiver só ele. 

Logo acompanhei eles lado a lado. 

Ayla: Pai, qual vai ser a desculpa que vamos dar — Me olhou confuso — De onde nós viemos, a gente não pode falar que veio de dentro da floresta. 

Isaac: Podem falar que vieram da alcatéia do Norte, lá ficam os lobos que foram rejeitados por seus companheiros. — Senti ele falar isso com tristeza. 

Diego: Acho uma boa, como eu tenho a Ayla vão acreditar que minha companheira deixou a gente. — Não gostei muito de ter que mentir para as pessoas, mas era para o nosso bem. 

Continuamos andando em silêncio, quando Isaac parou do nada e encarou um ponto específico, olhei na direção em que ele olhava e meus olhos brilharam. 

A alcatéia, todas aquelas casas, as pessoas andando de um lado para o outro, lobos transformados, eu nunca mais quero sair desse lugar. 

Diego: Seu pai… Ainda comanda tudo isso? — Perguntou olhando para Isaac. 

Isaac: Não, eu sou o alfa agora — Me olhou e sorriu de lado.

🦋...


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