Capítulo 01 - Hannah

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Hannah

Só pode ser um pesadelo.

As minhas mãos tremiam enquanto eu lia pela terceira vez a mensagem que minha mãe me enviou minutos atrás. Meu coração errou algumas batidas, a respiração pesou, e meu peito está queimando. E apesar da vontade de me encolher e deixar as lágrimas escorrerem, eu as segurei... porque não pode ser real.

O meu quarto parece menor agora. Pode parecer mentira, mas acho que eu me sentiria sufocada mesmo se estivesse em um lugar amplo e aberto. O barulho através da porta já nem faz tanta diferença quanto antes.

Damon está... namorando? Que merda é essa?

Não pode ser verdade. Ele não faria isso comigo, não é? Por mais insano que seja o que temos, por mais proibido que pareça... ele não seria tão estúpido. Não depois dos longos anos juntos, esperando o momento certo para contar à mamãe que me apaixonei pelo filho do meu padrasto.

Ele. Não. Faria.

Ou faria?

Deslizei o dedo pela tela do meu celular, procurando o número de Damon, na esperança de que ele me atendesse. Mas a primeira ligação foi rejeitada. A segunda também. E a terceira... e a quarta.

A realidade começa a pesar sobre os meus ombros. Ele desistiu de nós. Talvez eu tenha sido patética por pensar que isso daria certo. Damon queria me ter, mas não na frente dos outros.

Ele queria o nosso segredo sujo. Queria a sensação excitante de estar escondendo do resto do mundo algo que fosse só nosso. Mas não queria lidar com as consequências de assumir o que fazíamos quando não havia ninguém nos olhando.

Todas as noites. E os segredos. Os beijos. As carícias. As declarações. As cartas. Isso não significou nada?

Respirei fundo, tentando controlar minhas emoções. Eu me sinto patética agora por ter entregado meu coração em suas mãos. Cacete, eu mais do que ninguém sei como homens podem ser traiçoeiros e egoístas. Como deixei isso acontecer? Por que dei espaço suficiente para que alguém me machucasse outra vez?

Quando diabos isso aconteceu? No mês passado, depois de eu ter feito minhas malas para voltar à Boston? Porque na noite anterior eu posso afirmar com todas as letras que nós estávamos bem pra caralho. E agora estou descobrindo pela minha mãe que ele está com outra, sem sequer me avisar que não estamos mais juntos.

Sai da sua toca, Lawson — eu ouvi a provocação de James do outro lado da porta.

Ele tentou forçar a fechadura, mas estava trancada. Foi algo que aprendi desde que me mudei para cá. Se tem festa, mantenho minha porta fechada. Eu não quero desconhecidos transando na droga da minha cama. E muito menos James Davenport invadindo meu espaço pessoal.

Maldito seja James Davenport, me fez esquecer a decepção de segundos atrás, e deu espaço para o ódio que sinto do seu sarcasmo e da sua capacidade de me tirar do sério.

Joguei meu celular na cama, desistindo de lidar com Damon. Ele não merece que o priorize. Se tivesse qualquer consideração por mim, teria me telefonado antes da minha mãe me intimar para o jantar em três semanas para conhecer a sua linda e bela namorada.

Que se foda os dois.

Suspirei ao abrir a porta do quarto. A casa está cheia, mas não tão cheia quanto costuma estar nos dias após os shows. É o preço que eu pago por dividir a casa com a namorada do baterista da banda mais conhecida da cidade; YoungBlood.

Quero dizer, Rebecca é minha melhor amiga desde que me entendo por gente, o que torna a convivência mais fácil.

Passei por um grupo de idiotas fumando no início do corredor e desci as escadas. Jake e Scott, outros dois integrantes da banda, estavam jogados no sofá com suas cervejas em mãos, e aposto que Rebecca e Will estão mandando ver no andar de cima. Pelo menos a música vai abafar o sexo barulhento, é quase insuportável quando isso acontece de manhã ou no meio da madrugada.

Duas verdades, uma mentiraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora