Capítulo 1

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"Onde está seu chefe?"

Katy assustou-se com o grave tom de voz em direção à sua mesa, na entrada da sala de Gordon Lewis, Diretor Financeiro da Norman F. B. Group. Ela precisava terminar o relatório para uma reunião que aconteceria em 2 horas porque o Sr. Lewis achava relatórios e reuniões "pragmáticos demais". "O negócio são os negócios, não planilhas", segundo ele. Mas, como números precisavam ser apresentados em detalhes, Gordon deixava tudo com Katy, inclusive a parte de descobrir quando as reuniões seriam realizadas.

"O senhor Lewis teve uma emergência e precisou se ausentar." Ela respondeu, quase em automático, mal tirando os olhos da tela do computador.

"Sabe dizer que tipo de emergência? Conheço Gordon há anos e não consigo imaginar suas emergências." O homem voltou a falar, dessa vez com certa ironia na voz, mas Katy tentou se concentrar em uma resposta convincente.

"Infelizmente, senhor, ele não informou, creio que o senhor terá que voltar outra hora."

"Se não se importa, prefiro esperar. Quase nunca saio da MINHA sala, às vezes é bom andar pela MINHA empresa."

Katy sentiu o choque das palavras e seu corpo gelou imediatamente. Virou o rosto vagarosamente, levantou o olhar e tentou aplicar os bons modos e a simpatia aprendidos com os pais na fazenda quando era pequena. Sorriu, ainda sem jeito e viu um monumento de homem vestido em um terno azul marinho, feito sob medida, barba aparada e cabelos loiro escuro perfeitamente penteados. Os olhos eram uma mistura entre azul e verde, ela não saberia dizer. Era a primeira vez que o via pessoalmente: Christopher Jacob Norman.

"Senhor Norman, desculpe minha total falta de atenção e respeito com o senhor. Eu estava muito concentrada com o trabalho, deveria ter sido mais educada, perdoe-me."

"É bom saber que tem pessoas que ainda trabalham de verdade nessa empresa."

Christopher sabia que Gordon Lewis estava em um clube de golfe naquela manhã. Ele vinha fazendo um bom trabalho, era amigo de seu pai há anos, mas os valores de Christopher não combinavam com os do homem mais velho. Lewis tinha por volta dos 60 anos, conhecia muita gente importante no país todo e perdê-lo seria muito ruim. Mas ele precisava saber quem era o presidente da empresa já havia dois anos. Ou pelo menos reconhecer a autoridade de Christopher. Seria um árduo trabalho.

"O senhor tem excelentes funcionários, senhor Norman. Muitas pessoas aqui são realmente talentosas."

"Não basta ter talento se não há disciplina, senhorita...? Ou senhora...?

"Senhorita Katherine Andrews, senhor. Mas sempre me chamaram de Katy."

"Katherine é um nome muito bonito para ser escondido com um apelido, senhorita Andrews. É só minha opinião, à propósito."

Christopher olhou para Katherine com curiosidade. Ela tinha olhos verdes brilhantes que apareciam intensamente mesmo com os óculos. O rosto tinha um bronzeado diferente, mesmo sendo claro. Os lábios eram bem desenhados, queixo bem definido. O conjunto era harmonioso. Provavelmente as roupas e o coque muito preso não favoreciam sua real beleza, a deixavam como se ela quisesse parecer mais velha. Mas se ele fosse adivinhar, a daria 25 anos. Julgando pela personalidade, parecia doce, educada, mas muito disciplinada. Certamente namorava um rapaz sério, se casariam à moda antiga, e teriam filhos. Naquele blazer preto por cima de uma blusa de gola alta também preta, ela aparentava seriedade e conservadorismo, mesmo que seu rosto revelasse certa inocência.

Katherine se apressava no relatório e a presença do presidente da empresa só deixava a tarefa mais difícil. Ele era incrivelmente bonito, e estava se sentindo intimidada, não apenas por ele ser seu maior chefe, mas também pelo charme que naturalmente expressava. Ela continuou digitando, ainda mais tensa, quando teve a ideia de oferecê-lo algo. Claro, onde ela estava com a cabeça? Ele poderia estar com sede, ou querer um café. "Katherine, você é assistente, seu chefe direto não está, deixa de ser desligada, onde estão seus modos?"

"Senhor Norman, deseja uma água ou um café? Ou há algo em que eu possa ajudar?"

"Café, senhorita Andrews, por gentileza. Puro. Sem açúcar."

"Em um instante, se me der licença, senhor."

Katy se retirou em direção a uma pequena copa para preparar o café. Ela fazia um especial, fervido, como sua mãe ensinara na fazenda em Fort Worth muitos anos atrás. Todos adoravam o café de Katy. Esperava que Christopher Norman também o apreciasse. Minutos depois, ela o servia:

"Sinto muito se demorei. Eu costumo fazer o café de um jeito diferente. Às vezes a cafeteira não faz jus ao verdadeiro sabor do café. Espero que goste". Katy sorriu, timidamente.

Christopher tomou o primeiro gole e ficou surpreso em como Katherine estava certa. O café dela era diferente. Era forte, mas não demasiadamente. Era do jeito que ele gostava e tinha dificuldade em encontrar pelas cafeterias ao redor do prédio. O sabor também o lembrou de um café tomado na Itália, na primeira viagem depois de casados feita com Chloe. Ele cerrou os lábios com a lembrança, mas não deixou de apreciar a bebida. Estava realmente muito boa.

"A senhorita estava certa. Seu café é diferente. E muito bom. Muito melhor que as águas de esgoto que encontro por aqui. Acredito que seja algo passado de família, sim?

"Sim, sim, senhor. Meus bisavós eram cubanos e minha avó me mataria se eu não soubesse preparar um café, no mínimo, parecido com o de minha mãe. Agradeço o elogio."

"Cubanos...? Interessante."

"Sim... Longa história."

"Ficaria muito interessado, senhorita Andrews, entretanto, creio que a senhorita tenha muito trabalho a fazer, dada a sua concentração no momento da minha chegada." Christopher não queria soar rude, principalmente depois da gentileza do café de Katherine, mas ele sabia que havia trabalho em sua empresa e nada poderia parar.

Katy logo voltou a si depois do comentário do grande chefe. Ela e sua mania de falar demais e contar histórias... Herdou isso de sua avó materna. Amava falar sobre suas raízes e sobre sua família, mas claramente aquele era um momento inoportuno.

"Claro, senhor Norman. Tenho muito trabalho sim. Estou aqui caso precise de mim."

"Espero não precisar, senhorita Andrews. Para o bem da minha filial. E para o seu bem." 






Mean(t) To Be Where stories live. Discover now