Imagine o tempo como um cara super pontual, que observa e cuida minuciosamente das horas, minutos e segundos, fazendo com que tudo isso faça sentido. Porém quando se está com Andrew Laviolette, este cara simplesmente enlouquece. Já havia percebido isso antes, mas ontem a noite foi algo surreal. Nós dois chegamos na lanchonete às cinco e meia da tarde e quando me dei conta, Tia Ellie estava me ligando às nove da noite perguntando onde caralhos eu estava. Claro que não passamos todo o tempo na lanchonete, o plano inicial era ir até a lanchonete e depois voltar a tempo de pegar o metrô de seis e meia. Mas algo aconteceu no meio deste percurso que nos fez perder a noção do tempo. O culpado? Uma feira cultural. O que era para ser uma rápida passada nas tendas, acabou se tornando em horas e horas de conversas, risos e brincadeiras. Pelo menos no final eu consegui o urso de pelúcia que Andrew tanto queria depois de cinco ou seis tentativas em pescar aquele maldito peixe dourado de plastico em uma bacia cheia de areia. Quando contei o ocorrido, Tia Ellie deu uma risada pelo telefone e disse que viria nos buscar. Afinal não tinha mais como ir para casa de metrô.
— Não sabia que a sua tia morava aqui — Andrew comentou um pouco cabisbaixo. Lembro que o garoto estava sentado no banco, abraçado com o urso azul enorme de pelúcia que eu consegui um pouco envergonhado pelo ocorrido.
— Ela se casou e veio morar na capital. Mas sempre que tem algum evento familiar, todos se juntam na casa da minha avó, então eu mal vinha até sua casa — Disse olhando para o céu um pouco nublado.
— Entendo... Ela trabalha com o quê?
— Ela é médica, então quando não está no seu consultório, está fazendo plantão no hospital geral do bairro.
— Deve ser muito ocupada.
— Com certeza, mas ela prefere focar no trabalho do que ficar descansando em casa. Sabe... Quando meu tio morreu ela ficou muito abalada.
— Posso imaginar que sim — Andrew disse se encolhendo um pouco.
Éramos dois adolescentes sentados em um banco de praça à noite no inverno. Imagino que ele esteja com frio.
— Hey! — Acabamos nos virando um para o outro no mesmo momento, falando em coro.
— Fale você primeiro — Disse sorrindo.
— Você está com frio? Eu tenho esse urso para abraçar mas você não tem nada.
— Eu estou bem.
— Você esqueceu sua jaqueta hoje, tem certeza? — O rapaz se aproximou, preocupado.
— Já disse que está tudo bem, Andrew...
E após falar isso, meu corpo me trai da forma mais dolorosa e vergonhosa possível, soltando involuntariamente um espirro. Andrew apenas suspirou, se aproximando e deitando a cabeça em meu ombro, falando em seguida:
— Eu também estou com frio, mas o urso está me deixando mais quentinho. Você pode fazer o mesmo comigo se quiser.
Olhei para seus cachos morenos que refletiam a luz do poste logo acima de mim. Surpreendentemente, o frio que estava sentindo começou a sumir. Respirei fundo antes de depositar, um pouco inseguro, a mão em seu ombro, puxando o pequeno mais para perto.
— Você está quentinho, Pietro — Andrew comentou se acomodando ao meu corpo. Pude deduzir que o mesmo estava sorrindo e eu prestes a explodir.
— Você está congelando — Disse virando o rosto.
— Quero ficar assim para sempre.
Meu coração começou a errar algumas batidas naquele momento.
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Sunlight: O Encontro do Sol e da Lua
RomanceHá seis anos, em uma pequena cidade do interior, havia dois melhores amigos correndo um atrás do outro pela praça central do bairro. Pietro tinha cabelos ruivos, e normalmente era o que corria atrás do outro garoto, Andrew, um pouco mais velho de ca...