Capítulo 5 - Cicatrizes

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Zarina Denovan

Desde que conheci Ivan Petrov, o russo, não o vi novamente.

Hoje é sexta-feira, o dia do almoço e eu não sei se estou pronta. Até agora, estou conseguindo fingir que foi um sonho que tive em uma noite, que não irei precisar me mudar para Rússia e poderei sair de casa sem ser com um anel no dedo.

Mas esses pensamentos são ridículos, pois mesmo se eu não fosse me casar com um russo que nunca vi, iria me casar com outro homem ou então, moraria aqui para sempre até um homem me cortejar e pedir minha mão ao meu pai.

É assim que funciona por aqui, uma filha da máfia de Chicago não pode ir ao poder, só um filho homem de sangue legítimo ao capo pode governar esse mundo de sombras.

Era para eu ser um homem, meu pai torceu por esse momento e estava radiante, pelo que me falaram. Mas eu nasci e não sou o que ele esperava... e essa raiva caiu sobre mim, como uma tempestade rasgando o céu.

Não tenho culpa mas sou culpada.

Como eu esperava, papai não me disse uma sequer palavra sobre como ocorreria o almoço e só sei que a família Petrov estará aqui pois Ivan Petrov me contou antes de sumir.

Tudo o que Lion Denovan, meu pai, me falou sobre o dia de hoje foi as seguintes palavras:

- Se comporte, seja educada e coloque a droga de um vestido.

Hoje pela manhã recebi um vestido branco extremamente grudado.

O que eu deveria fazer com esse pedaço de pano? vesti-lo e desfilar para a família petrov como um pedaço de carne, que eles poderão decidir se é boa o suficiente ou não?

Com esse pensamento eu me encontro em pé, encarando o vestido encima de minha cama.

- Chega... - Falo em um sussurro

Caminho até a cômoda pegando uma tesoura e começo a rasgar o pano branco como se estivesse rasgando a mim mesma, a minha raiva sobe pela garganta e sai em forma de lágrimas, que escorrem pelo meu rosto enquanto jogo a tesoura na parede e o vestido no chão.

Mas aquele sentimento que aperta meu peito não passa, ele está lá entranhado em mim, me sufocando, fazendo meus pulmões doerem e minhas mãos tremerem. Me sinto sufocar e é quando puxo a manga esquerda da minha blusa para cima e gravo minhas unhas da mão direita em meu antebraço, fundo o suficiente para me fazer morder o lábio até sangrar, um grito abafado corta minha garganta quando caio de joelhos no chão, largando meu braço e sentindo as lágrimas escorrendo e o gosto de ferro está preenchendo toda minha boca.

puxo o ar com força pela boca enquanto olho meu braço, quatro meias luas estão lá junto a outras cicatrizes...

- Zarina, querida... - Ouço Victoria falar atrás da porta - Se junte a nós la em baixo.

Meu coração gela por um momento, seco as lágrimas enquanto penso em uma resposta.

- já vou. - Minha voz sai rouca quando forço as palavras a saírem

Consigo ouvir minha irmã sair da frente de minha porta e em seguida ouço seus saltos ficando cada vez mais longe. Respiro fundo, levantando enquanto desço a manga da minha blusa.

Saio do quarto, indo enfrentar o que o destino me preparou.

Quando chego na sala de estar, minha família está lá, Victoria e Anthony estão sentados juntos no sofá, nate, meu sobrinho, está sentado no chão com seus brinquedos ao redor. Quando adentro mais a sala vejo que minha mãe, Samantha, está encostada no piano mas não vejo meu pai em lugar algum.

- Toque para nós... - Minha irmã pede, fazendo a atenção de todos presente vir até mim - Por favor. - Ela insiste.

Concordo com a cabeça, já sentando no banco atrás do piano.

Começo tocar a melodia da música "Waves" do Dean Lewis.

- There is a swelling storm - Tem uma tempestade se formando

Meu sobrinho caminha até mim, sentando no chão ao meu lado enquanto me encara.

- And I'm caught up in the middle of it all - E eu estou presa no meio disso tudo.

Sinto as feridas em meus braços arderem

- And it takes control Of the person that I thought I was - E isso toma o controle da pessoa que eu pensei que eu era.

lágrimas enchem os meus olhos enquanto toco as próximas notas que sei de cor.

-The boy I used to know - Do garoto que costumava conhecer.

Não ouso mudar a letra para "garota", já estava doendo o suficiente ver minha irmã me encarar como se quisesse me entregar seu coração em forma de perdão.

Contínuo cantando a música firmemente mas chego no refrão e sinto meu coração se rasgar.

- It comes and goes in waves - Isso vem e vai como ondas.

tiro o olhar das teclas e vejo minha mãe debruçada ao piano, com a cabeça baixa e a mão cobrindo o rosto, pelo movimento de seus ombros vejo que está chorando e meu coração se quebra mais um pouco.

- I watched my wild youth Disappear in front of my eyes Moments of magic and wonder It seems so hard to find Is it ever coming back again? - Eu assisti minha juventude selvagem Desaparecer na frente dos meus olhos Momentos de mágica e maravilha Me parecem tão difíceis de encontrar Isso vai voltar algum dia?

Sinto meu sobrinho deitar a cabeça em meu colo, olho para ele e o vejo chorando enquanto me encara.

- It comes and goes in waves And carries us away - Isso vem e vai como ondas isso nos leva para longe

Canto o último estrofe, toco as últimas notas e vejo a sala cair em silêncio. Tudo o que consigo ouvir são as respirações pesadas pelo choro, seco minha lágrimas e olho ao redor, minha irmã está abraçada a Anthony, ela chora e ele me encara com culpa.

Olho para porta e encontro meu pai e a família Petrov.

- Acho que me atrasei - Digo sorrindo enquanto minhas lágrimas escorrem por minhas bochechas.

- Leve o tempo que precisar para se arrumar - Ivan é o único a falar.

Concordo com a cabeça e me levanto indo para meu quarto.

Branco não, eu prefiro vermelho - Drakon's IOnde as histórias ganham vida. Descobre agora