Capítulo 13° Seja bem vindo de volta!

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Narrado por
Lucas

     A quatro anos atrás eu havia decidido sair desse mundo. Naquela época era muito revoltado e sempre queria fazer coisas contrárias ao que meus pais queriam. Em meio a isso eu havia encontrado nessa religião o conforto e a paz, no entanto um tempo depois minha mãe descobriu, aí as coisas ficaram complicadas pois tinha muitas exigências dentro do Terreiro. Eu tinha subido de posição por assim dizer, coisa que no começo fiquei pensando se era uma boa ou não, mas Nanda me incentivou muito, por isso fiquei com receio de dizer não.

     Um tempo depois eu conheci a Bianca e tudo mudou. Queria dar atenção a ela e aos poucos fui deixando de lado os meus santos.

" Não sou vidente e muito menos cartomante, mas você talvez se arrependa desta decisão. Eu sinto que você mudou muito tanto por dentro quanto por fora. Isso lhe fez bem Lucas... mas se deseja sair não posso fazer nada, no entanto estou decepcionada." - No dia que eu decidir sair, Nanda tinha me contado que seria mãe de Santo, eramos muito próximos e ela sempre me incentivou a continuar dizendo que eu tinha talento, mas no fundo apesar de ser algo bom, eu comecei a me envolver em um nível que eu não queria. Hoje estou aqui novamente dentro do Terreiro que me trouxe paz de espírito por diversas vezes.

— Lucas você me parece tenso. Assim que você entrou aqui eu senti algo estranho... parece até que você entrou em contato com alguma coisa que cultuamos. - Ela me rodeiou — Está parecendo que você voltou para esse nosso mundo.

— Preciso de sua ajuda Nanda... - Disse, porém minha voz entregava para ela que eu estava tenso.

— Desde 2018 que você não me preocura ou fala nada comigo. Eu estava aqui o tempo todo como uma amiga, mas só agora você vem? - Ela chegou perto do meu ouvido, se esticou e disse sussurrando: " Interesseiro!"

— Perdão! - Me ajoelho perante ela
— Eu sei que você tinha muitos planos para mim, mas aconteceu muita coisa em minha vida e eu não podia seguir com isso.

— Lucas, não estou puta da vida por você ter deixado de seguir os Santos....
- Ela me fez levantar e continuou
— Estou chateada por você nunca mais ter vindo falar comigo, afinal eramos amigos. - Me analisou de cima abaixo e eu tentei me manter calmo. Nanda desceu seu olhar para as coisas que eu carregava e a mesma deu dois passos para trás e colocou as mãos na cabeça.

— Vocês está bem? - Perguntei.

A mãe de Santo gritou e eu me assustei e acabei até indo para trás.

— Então era por isso que durante esse tempo eu senti presenças malignas e presenças de entidades e Santos muito próximas daqui? Você deixou aqueles moleques desrespeitarem tudo que um dia você respeitou, temeu e adorou.

— Escuta, eu estava em choque, eu não sabia como reagir. Não compactuei com isso! - Indaguei elevando o tom.

— Fale baixo comigo, aqui quem fala alto sou eu e você está errado! ingrato! pois saiba que não ajudarei em nada. Xangô não terá piedade de nenhum de vocês.

    Meu coração só faltava sair pela boca e Nanda me deu às costas me deixando sem esperança, porém rapidamente me joguei em seus pés começando a gritar e chorar, eu estava quase que pedindo por misericórdia.

— Eu faço, eu faço, eu faço tudo que você quiser, mas me ajude. As garotas não merecem um fim trágico. - Nanda para de andar para dentro da casa e vira-se para me dar a provável resposta.

— Você sabe o que deve ser feito. - Me levantei e logo imaginei o que ela quer.

— Você quer que eu retorne, não é? - A mãe de Santo sorrio mas era semelhante a um sorriso maldoso.

— É pegar ou largar. Só assim farei uma comida de qualidade para Xangô. Pelo o que vocês fizeram, ele não vai se contentar com pouco. Vamos lá Lucas, aceita ou não? - Ela estendeu a mão para mim.

  Fiquei novamente na dúvida sobre aceitar ou não, mas pela Bianca eu estou disposto a isso.

   Seguro na mão dela e a mesma me leva para dentro do Terreiro onde passo por um processo que incluía cortar o meu cabelo.

— Huhu! acho que essas partes você já conhece muito bem - Disse em tom de ironia e começou a pintar o meu corpo enquanto que uma outra pessoa raspava todo o meu cabelo.

— Traga-me os panos e o colar também.

     Ela desenha um círculo de giz em volta da cadeira que estou sentado e velas ao arredor com um incenso subindo. Sou vestido com novas roupas e o meu antigo colar é colocado de volta em meu pescoço. Fui puxado pela nuca e em minha cabeça eles amarraram um pano branco como eu já esperava, mas quando eu iria me consertar na cadeira, comecei a perder a consciência e sentir meu corpo parecendo que estava rodando, mas eu tinha a consciência que estava parado. Vi vutuos de entidades com armas e rostos cobertos, e eu podia ouvir risos também que certamente eram de Exu. Não aguento por muito tempo, e acabo desmaiando.
  
***

   Acordei quase uma hora depois e fiquei meio atordoado pela falta de costume, mas assim que me estabilizei, a mãe de Santo disse para mim: — Seja bem vindo de volta!

O Preço da Desobediência📿Onde as histórias ganham vida. Descobre agora