Capítulo 3 - Noitada

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Capítulo 3

 Hange Zoe 

— Esse olho tá feio. — passo anestésico no roxo do olho de Falco. Ele geme de dor. — Por mais que eu odeie ver meu filho levar um soco, fico aliviada em saber que você não revidou. Nunca se deve bater em mulheres. 

— Eu sei, mãe. A Gabi é tão irritante. Ai! — termino de limpar o machucado. — Como ela consegue socar com tanta força? 

— Ela faz Muyaithai, irmãozinho. — diz Colt, entrando no quarto. — Tem ideia de quantos campeonatos ela já ganhou? A menina é fera.

— Então tá explicado. — digo. — Mas me diz, é dela que você gosta? — suas bochechas ficam vermelhas. Eu e Colt caímos na risada.

— Parem! 

— Meu menininho tá crescendo. — lhe dou um abraço de urso e o encho de beijos.

— Já deu um beijinho, Falco? — fica ainda mais vermelho.

— Vocês são uns chatos! — sai correndo para o seu quarto, enquanto ainda rimos. 

— Ele é caidinho pela Gabi. — Se senta ao meu lado. 

— Não sei como. Garanto que aquela menina é mais chata que o pai dela. Em menos de vinte quatro horas, o Levi me arranjou dois problemas. 

— Eita. Ah, esqueci de perguntar: posso ir numa festa esse final de semana?

— Quem vai? Vai ter bebida? Vou ter que te levar e buscar? 

 Eu sempre tento me fazer de mãe responsável e protetora, mas a verdade é que sou bem liberal. Eu confio no Colt, sei que ele não colocaria uma gota de álcool na boca.

— Só alguns amigos da sala. Não vai ter bebida. Vou pegar carona com um amigo.

— Então tudo bem. Você sabe as regras, não preciso dizer, né? 

— Voltar sóbrio, não engravidar ninguém e chegar antes do sol nascer. — assinto. Ele me dá um beijo na bochecha. — Te amo, mãe. 

— Também te amo. Muito. — Então sai do quarto. Abraço um travesseiro e minha mente se enche de pensamentos.

 Eu tinha quinze anos quando engravidei do Colt, foi uma das situações mais complicadas que eu já vivi. Eu era só uma adolescente que resolveu transar sem camisinha. E, bem, meu melhor amigo também não se lembrou disso na hora.

 A verdade é que eu e o Moblit éramos melhores amigos, e ambos virgens. Queríamos perder a virgindade, então fomos para um bar, bebemos até não lembrar mais nossos nomes e transamos. Achamos que não iria dar em nada, mas um mês depois, cadê a minha menstruação? Fiquei desesperada. Meus pais eram bem severos, nunca me dariam apoio se eu engravidasse fora de um casamento.

 Quando descobri que realmente estava grávida, falei com Moblit, que ficou tão desesperado quanto eu. E depois que contei para os meus pais, fui expulsa de casa e tive que ir morar no apartamento de Moblit. 

 Tentamos ter uma vida de casal, mas não nos amávamos desse jeito. Criamos o Colt juntos, até que a cena se repetiu: bebemos demais e fizemos mais um filho. 

 Então decidimos não morar juntos mais. Eu passei no vestibular, arrumei um emprego, consegui criar meus filhos. Claro que Moblit ajudou, ele é um pai maravilhoso para os meninos, não tenho do que reclamar. É meu melhor amigo, para a vida inteira. Quero só ver a cara dele quando eu contar que o Falco brigou na escola, ele vai enlouquecer.

 Meu celular toca, é a Nanaba. 

— Oi, amiga. — Ela diz.

— Olá.

— Tá afim de tomar um chopp hoje à noite? Não aceito não como resposta! Você precisa se distrair, dar uns beijos, trepar um pouco.

— Nanaba, eu não vivo de sexo. — dou risada. — Mas acho que dá para ir. Vou deixar o Colt tomando conta do Falco. E você está com sorte, hoje estou de folga! 

— Perfeito! Você vem me buscar? Adoro desfilar com seu carrão. — mais risadas. Nanaba é uma figura. — Te mando o horário por mensagem. Agora preciso ir, beijos.

 Nem consigo responder, ela desliga.

 Vou para a cozinha, bebo um copo de água e fico encarando a casa.

 Quando eu comprei esse apartamento, o Colt estava com cinco anos e o Falco com dois. Moblit me ajudou a pagar, dizendo que queria o melhor para mim e os meninos. 

 Na sala, os meninos estão jogando vídeo game. É incrível como eles adoram esse negócio. Se eu não colocar limites, eles ficam jogando desde que voltam da escola, até de madrugada.

— Garotos, eu vou sair hoje. O Colt tá no comando. — Falco solta o controle na hora e grita: 

— Por que só ele fica no comando?! 

— Porque ele é mais responsável. 

— Mas mãe! 

— Tem sorvete na geladeira. — digo e entro no meu quarto. Coloco um vestido tubinho preto e por baixo, uma bela lingerie também preta. Uso meu salto baixo, argolas e pinto meus lábios de vermelho. Deixo o cabelo solto e coloco meus óculos. Pego minha bolsa, lá estão duas camisinha. É melhor prevenir, não é? 

 Passo um pouco de perfume e saio do quarto.

— Uau! — dizem juntos. 

— Estou bonita? — dou uma voltinha.

— Tá super gata! — diz Colt. Já o Falco, parece um pouco incomodado.

— Que foi?

— Você não vai namorar, né? — acho a pergunta engraçada.

— Eu vou tomar chopp com a Nanaba. 

 Falco nunca gostou da ideia de eu ter namorado. Para ele, eu tenho que ser apenas mãe, nunca uma namorada de alguém. É até fofo, mas acho que isso vai ser complicado quando eu arranjar um namorado — coisa que não sei quando vai acontecer, isso se vai.

— Se comporte, mãe. — dou uma gargalhada. — Eu não quero um irmão ou um padrasto.

— Ok, filhinho. Coisa linda da mamãe. — agarro ele e mordo sua bochecha. Eu aperto o menino com força, enquanto lhe dou beijinhos. 

— P-Para! Eu não sou criança! 

— É sim! É meu bebêzinho. — Colt ri da situação. — Vem aqui, você também! — puxo meu garoto e também lhe dou beijinhos. — Vocês são a razão do meu viver.

— Sem conversa melosa, por favor. — O mais velho me abraça de volta. — Nós te amamos.

— É, amamos. 

 Me afasto deles.

— Eu vou indo. Espero que vocês estejam na cama quando eu voltar. Bye, bye.

 Sinto que essa será uma noite longa.

Primeiro RoundWhere stories live. Discover now